Após Conselho considerar 'lesivo' o acerto de 'compra' do time, presidente defende negócio. Ronaldo explica contrato ao pedir inclusão da Toca I e II no acordo
Mandatário do Cruzeiro, Ronaldo Fenômeno diz que transferência preserva patrimônio, ameaçado por dívidas tributárias (foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro - 11/1/22)
Exatamente três meses depois de assinarem intenção de compra e venda de 90% das ações da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), Cruzeiro e o grupo Tara, capitaneado por Ronaldo Nazário, parecem mais distantes de sacramentar o negócio. Enquanto os investidores reivindicam a inclusão das Tocas da Raposa I e II nos ativos a serem transferidos para a nova empresa, a mesa diretora do Conselho Deliberativo considera o contrato que está sendo elabora é “lesivo” à instituição.
No meio a tudo isso, a torcida espera que seja tomada a decisão que permita manter um time minimamente competitivo para buscar o acesso à Série A do Campeonato Brasileiro. Já atletas e integrantes da comissão técnica procuram se concentrar apenas no trabalho do dia a dia e nos jogos, a começar os compromissos pelo Campeonato Mineiro, como o contra o Patrocinense, amanhã, em Patrocínio, e as semifinais, na próxima semana.
No acordo anunciado em dezembro de 2021, Ronaldo se comprometeu a investir R$ 400 milhões no futebol ao longo dos próximos anos, além de gerar recursos que viabilizem a diminuição da dívida da associação civil, atualmente calculada em mais de R$ 1 bilhão. Inicialmente, os patrimônios continuariam com o clube, porém o Fenômeno pretende efetuar ajustes no contrato, de modo que as Tocas I e II se tornem propriedades da SAF. Em troca, ele assumiria a dívida tributária do Cruzeiro, estimada em R$ 180 milhões e com parcelas mensais acima de R$ 1 milhão até 2032.
“A proposta assinada pelo grupo representado por Ronaldo certamente não é lesiva ao Cruzeiro. O clube passa por difícil momento financeiro e é preciso ter este fato em perspectiva ao analisarmos propostas. Para isso, o Cruzeiro contou com duas das empresas mais respeitadas e qualificadas do Mercado, XP e Alvarez & Marsal, e ambas asseguram tratar-se de excelente negócio para o clube”, defendeu o presidente Sérgio Santos Rodrigues, em nota oficial, rebatendo as acusações dos conselheiros.
O próprio Ronaldo se manifestou, também através da assessoria de imprensa. “A opção de incremento de receita favorece diretamente a associação, uma vez que a lei das SAF obriga o repasse de 20% das receitas para quitação da dívida bilionária acumulada por anos de má gestão – fato esse que pode gerar mais R$ 70 milhões em receitas para a quitação da dívida e que parece ser ignorado pelos responsáveis pela nota (da mesa diretora do Conselho)”, escreveu o craque.
Ele também defendeu a reivindicação dos centros de treinamentos por parte da SAF. “O pedido de inclusão das Tocas I e II na transação é simplesmente para proteção do patrimônio do Cruzeiro diante de uma realidade que se revelou significativamente mais grave do que aquela indicada nas informações inicialmente disponibilizadas e que foram utilizadas para a elaboração da proposta apresentada ao Cruzeiro. Hoje a Toca I, a sede do Barro Preto e parte de todas as receitas do futebol estão comprometidas em razão de dívidas tributárias de aproximadamente R$ 400 milhões, as quais não estavam previstas na negociação inicial. No curto prazo os imóveis podem ser leiloados e as receitas apropriadas por falta de pagamento.”
Responsável por intermediar a operação de compra de 90% da Sociedade Anônima do Futebol do Cruzeiro por Ronaldo, a XP Investimentos se manifestou na noite de quarta-feira sobre a nota da Mesa Diretora do Conselho Deliberativo do clube, que considerou a operação lesiva. Em sua manifestação, a XP afirmou que a cúpula do Conselho fez “interpretações errôneas do formato dos aportes da proposta vinculante assinada por Ronaldo”. A empresa ainda alertou que o contrato assinado entre Cruzeiro e Ronaldo é protegido por cláusulas de confidencialidade. Por essa razão, não poderia fazer publicamente as correções necessárias no documento da Mesa Diretora do Conselho.
Reunião A intenção tanto dos investidores quanto do mandatário do clube é que se convoque uma reunião do Conselho Deliberativo para votar as mudanças desejadas. Isso tem de acontecer o mais rápido possível, pois a prioridade dada ao grupo de Ronaldo se encerra em 18 de abril. Se o contrato não for assinado, a partir de então o clube pode negociar com outros interessados. Porém, isso não parece tão fácil, visto que a situação do clube é muito delicada e exigiria investimentos muito altos.
A favor do craque está a torcida. Grupos já se organizam nas redes sociais para tentar pressionar os conselheiros a aprovar tudo que os investidores querem. A insatisfação dos torcedores é grande, principalmente porque consideram que o Conselho Deliberativo foi conivente com administrações que levaram o clube à situação atual.
Goleiro Rafael Cabral destaca empenho dos jogadores e lembra histórico de títulos na Copa do Brasil (foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro - 21/1/21)
Time na estrada por vitórias
Nem bem chegou do interior do Maranhão, onde na noite de quarta-feira venceu o Tuntum-MA por 3 a 0, avançando à terceira fase da Copa do Brasil, e a delegação do Cruzeiro já tem nova viagem marcada. Hoje, no começo da tarde, pega estrada rumo a Patrocínio, local da partida contra o Patrocinense, pela 11ª e última rodada da primeira fase do Campeonato Mineiro, amanhã, às 16h.
A equipe vem enfrentando muitos deslocamentos na semana. Na segunda-feira, embarcou para Teresina, de onde foi, de ônibus, para Tuntum no dia seguinte, rodando 232 km em estrada bastante deteriorada e sob chuva. Ontem, fez o caminho de volta até a capital piauiense, de onde pegou o voo para Belo Horizonte, com escala em São Paulo. Hoje, serão 412km de transporte terrestre. Ao menos as condições do asfaltado parecem ser bem melhores, mas mesmo assim, é um deslocamento bastante cansativo, de sete horas.
Nada que desanime os atletas, bastante animados com as últimas apresentações. “Foi importante a classificação, a gente sabia das adversidades, o campo, a chuva, os deslocamentos. Mas era hora de esquecer tudo isso e se entregar, dar o máximo. Foi o que fizemos”, afirma o atacante Edu, autor de dois gols na quarta-feira, chegando a oito na temporada. “Agora a gente continua nossa caminhada. Não gostei de ficar fora da última partida do Mineiro (contra o Pouso Alegre, devido a pancada na cabeça no clássico contra o Atlético), mas respeito os médicos. Agora é pensar no Patrocinense.”
O goleiro Rafael Cabral também destacou o empenho de todos para superar as dificuldades e garante que isso seguirá ao longo da temporada. “As condições que encontramos (no Maranhão) não foram as que a gente gosta, mas essa é também a beleza da Copa do Brasil. A gente tem de saber que é uma festa para a torcida, para a cidade, e a gente representa um clube gigante, pelo qual temos de dar sempre nosso melhor. O Cruzeiro é o maior vencedor da Copa do Brasil e temos de honrar essa história. Nós ainda estamos começando, não conquistamos nada, mas o clube tem muita tradição no futebol brasileiro e mundial”, declara ele.
Para o jogo de amanhã, o técnico Paulo Pezzolano não poderá contar com os volantes Willian Oliveira e Filipe Machado, suspensos por terem recebido o terceiro cartão amarelo. A expectativa é pela volta do armador Giovanni, que passou a semana aprimorando a forma física depois de se recuperar de contusão. Os jogadores foram liberados no desembarque, ontem, no aeroporto de Confins, e se reapresentam hoje pela manhã, na Toca da Raposa II. A lista de relacionados deve ser divulgada depois do treinamento.
Com 22 pontos, o Cruzeiro ainda pode terminar a fase de classificação em primeiro lugar. Para isso, além de vencer o Patrocinense, precisa contar com derrota do Atlético para a Caldense, no Mineirão, e tirar diferença de quatro gols de saldo, além de não ser superado no quesito pelo Athletic, que recebe o Villa Nova.
Clube recusa consulta de R$ 20 mi por Roque
Tiago Mattar
O início avassalador de temporada do jovem Vitor Roque, que completou 17 anos no mês passado, já chama atenção do mercado. Ao Superesportes, o empresário André Cury, membro do estafe do atacante, confirmou que o Cruzeiro descartou, há cerca de 10 dias, uma consulta de R$ 20 milhões por 70% dos direitos econômicos do jogador.
Cury optou por não dar detalhes. Contudo, não existiu uma proposta oficial por Vitor Roque, que assinou seu primeiro contrato profissional com o Cruzeiro no meio do ano passado. O agente apenas levou uma consulta de um clube do futebol brasileiro até a cúpula da Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Há expectativa de que os interessados não desistam das investidas – até por isso, o nome é mantido sob sigilo. Procurado por meio da assessoria de imprensa, o Cruzeiro optou por não comentar o tema.
Vale lembrar que a Fifa impede transferências internacionais de jogadores menores de idade. Por esse motivo, ainda que seja negociado com alguma equipe do futebol europeu, por exemplo, Roque só poderia deixar o Brasil em março de 2023 – ele completa 18 anos em 28 de fevereiro.
Vitor Roque chegou ao Cruzeiro em março de 2019, após uma manobra que envolveu até uma falsa peneira na Toca da Raposa I. Antes, o atacante defendia as cores do América, clube que detém 30% dos direitos econômicos do atacante. De acordo com outros membros do estafe do atleta, a Raposa é dona de 50%, enquanto o próprio goleador detém os 20% restantes.
Depois de ser lançado em 2021 pelo técnico Vanderlei Luxemburgo, Vitor Roque voltou a ganhar oportunidades com Paulo Pezzolano. Nesta temporada, o atacante, que dá indícios de que será titular do Cruzeiro, já tem cinco gols e uma assistência em sete jogos disputados.