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Estado de Minas FUTEBOL

Onda estrangeira à deriva

Depois do sucesso do português Jorge Jesus no Flamengo e o bom trabalho do argentino Sampaoli no Santos, em 2019, técnicos de outras nacionalidades têm sofrido no Brasil em 2020


postado em 01/03/2020 04:00

(foto: Avaí Futebol Clube/Divulgação)
(foto: Avaí Futebol Clube/Divulgação)

 

"O futebol brasileiro é uma pistola com uma bala lá dentro, como uma roleta-russa”

Augusto Inácio, treinador português demitido pelo Avaí 
depois de pouco mais de um mês de trabalho
 
A demissão de Rafael Dudamel pelo Atlético, na quinta-feira, é apenas mais um caso de fracasso recente de técnicos estrangeiros no Brasil. Se o português Jorge Jesus vem obtendo muitas conquistas desde que chegou ao Flamengo, em junho passado, outros treinadores nascidos além de nossas fronteiras não obtiveram sucesso nos clubes daqui ou lutam para se manter em seus cargos.

No caso do venezuelano, chamou a atenção o pouco tempo em que ele ficou à frente da equipe alvinegra: 54 dias. Em 10 jogos, foram quatro vitórias, quatro empates e duas derrotas, com 13 gols marcados e sete sofridos. Foram fundamentais, porém, as eliminações precoces na Copa Sul-Americana (na primeira fase, pelo Unión-ARG, de Santa Fé) e na Copa do Brasil (na segunda fase, para o pouco conhecido Afogados da Ingazeira-PE).

Haveria ainda outros motivos para a mudança de rota precoce. Um deles, que o ex-técnico da Seleção da Venezuela não conhecia bem o futebol brasileiro, era mais que previsível, ainda mais pela pouca experiência de Dudamel na carreira e ainda mais em clubes. Outro, que os jogadores daqui não aceitaram bem os métodos da comissão técnica de lá, poderia ter sido contornado com conversa com ambas as partes.
 
O venezuelano Rafael Dudamel ficou apenas 54 dias no Atlético e foi demitido depois de duas desclassificações em uma semana (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
O venezuelano Rafael Dudamel ficou apenas 54 dias no Atlético e foi demitido depois de duas desclassificações em uma semana (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 
Há também o problema do calendário e peculiaridades de regulamentos. Se na Sul-Americana prevalece o formato de jogos de ida e volta desde o início, na Copa do Brasil, a primeira e a segunda fases são em jogo único, sendo que inicialmente os visitantes jogam pelo empate e, na etapa seguinte, se houver empate a decisão das vagas é na disputa de pênaltis.

Foi isso que vitimou outro estrangeiro neste início de 2020, o português Augusto Inácio. Contratado em dezembro por um Avaí rebaixado no Campeonato Brasileiro, ele caiu em 14 de fevereiro, ou pouco mais de um mês depois de começar a comandar os atletas, em função da eliminação na primeira fase do mata-mata nacional, com a derrota por 2 a 0 para a Ferroviária, em Araraquara (SP).

Antes, acumulava duas vitórias, um empate e duas derrotas pelo Campeonato Catarinense e um revés pela Recopa Catarinense. Nem mesmo a vitória sobre o arquirrival Figueirense, fora de casa, aliviou a barra do português, que passou por Porto e Sporting no país natal.

“O futebol brasileiro é uma pistola com uma bala lá dentro, como uma roleta-russa. É mais para morrer do que para sobreviver. No início é tudo uma maravilha, dizem que estão conosco, mas é tudo mentira”, afirmou Augusto Inácio, em entrevista publicada na semana passada pelo jornal A Bola, de Portugal. “O futebol brasileiro precisa de investidores para elevar o nível. O Flamengo está em patamar diferente, o Jorge Jesus tem razão, mas o calendário é um assassinato aos jogadores e aos treinadores.”
 
Já o também luso Jesualdo Ferreira tenta se segurar como treinador do Santos. Contratado em dezembro para o lugar do badalado argentino Jorge Sampaoli, que não acertou a permanência, ele vem sendo criticado pelo futebol apresentado, ainda que o Peixe seja o líder do Grupo A – pelo regulamento, classificam-se às quartas de final os dois primeiros colocados de cada uma das quatro chaves. São três vitórias, dois empates e duas derrotas, uma para Corinthians e outra para o Ituano, ambas fora de casa.

Já no Internacional, o argentino Eduardo Coudt ganhou sobrevida depois de o Colorado garantir vaga na fase de grupos da Copa Libertadores, aos eliminar o Tolima-COL na última quarta-feira. Em pouco mais de 50 dias de trabalho, são seis vitórias, três empates e uma derrota, para o Grêmio, pelo Gaúcho, que dói tanto para os torcedores quanto o desempenho irregular do time.
 
 
O português Jesualdo Ferreira assumiu a vaga do argentino Sampaoli nesta temporada e já sofre pressão no Santos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
O português Jesualdo Ferreira assumiu a vaga do argentino Sampaoli nesta temporada e já sofre pressão no Santos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 
 
Impaciência 

Em quase todos os casos, fica clara a impaciência e o mal planejamento dos brasileiros. Se o resultado demora, o treinador é questionado e, na maioria das vezes, demitido, ainda que reforços não tenham estreado ou que os atletas sintam a falta de ritmo de jogo no início da temporada. E não adianta falar da pré-temporada curta ou de ter de jogar a sorte em uma competição poucos dias depois de iniciar os treinamentos.

Quando se tem mais tempo para trabalhar, os resultados costumam aparecer. Como prova o sucesso de Jorge de Jesus, que teve quase um mês só de treinamentos quando chegou, em função da Copa América, e conseguiu levar o Flamengo aos títulos brasileiro e da Copa Libertadores em pouco mais de seis meses, além de este ano já ter conquistado a Supercopa do Brasil e a Recopa Sul-Americana.


Portugueses duraram pouco em BH

Paulo Bento foi demitido do Cruzeiro depois de 17 partidas(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press - 22/7/16)
Paulo Bento foi demitido do Cruzeiro depois de 17 partidas (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press - 22/7/16)
 
A cobrança aos técnicos estrangeiros está grande agora, mas já ocorreu em outras épocas. O Cruzeiro, por exemplo, não teve paciência com o português Paulo Bento em 2016, demitindo-o 75 dias depois de anunciá-lo como treinador.

Na época, ele cruzou o Atlântico para substituir Deivid, que não conseguiu nem chegar à final do Campeonato Mineiro, sendo eliminado pelo América. Mesmo com um grupo reformulado e que contava com jogadores como Pisano, Sánchez Miño, Bruno Ramires e Douglas Coutinho, conseguiu fazer o time criar bastante em termos ofensivos, mas de má pontaria. Além disso, a defesa deixou a desejar.

Paulo Bento foi demitido depois de 17 partidas, pelo Campeonato Brasileiro e pela Copa do Brasil, das quais venceu seis, empatou três e perdeu oito, aproveitamento de 41%. Em uma das derrotas, a Raposa foi goleada por 3 a 0 pelo Athletico, no Mineirão, pelo Nacional, em jogo em que finalizou 30 vezes.

Além dos resultados, pesou na decisão dos dirigentes celestes de trocar o comando o fato de Mano Menezes estar, na ocasião, livre no mercado. O treinador havia acabado de retornar da China, o que apressou a decisão celeste para que o técnico não fosse para outro clube.

Outro mineiro, o América, também fracassou recentemente em sua aposta em estrangeiros. Em 4 de junho de 2016, contratou Sérgio Vieira, mas demitiu o português 43 dias depois por aproveitamento vexatório: 10%, referentes a duas vitórias e oito derrotas.
 


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