Mau futebol, estratégias equivocadas, dois gols anulados pelo árbitro de vídeo, gritos de “burro” para o técnico Tite e muitas vaias da torcida no fim. Em seu segundo jogo pela Copa América, a Seleção Brasileira decepcionou o público de Salvador ao ficar no empate por 0 a 0 com a Venezuela, na Fonte Nova, resultado que adiou a confirmação da classificação às quartas de final para sábado, quando encara o Peru, no Itaquerão, em São Paulo. Embora o empate seja favorável para garantir o primeiro lugar, fica a obrigação de vencer e ter bom desempenho, numa cidade em que a torcida costuma ser mais exigente.
Foi a primeira vez depois de cinco anos que o Brasil saiu de um jogo em casa sem marcar – o último havia sido na disputa do terceiro lugar da Copa de 2014, na derrota para a Holanda por 3 a 0, em Brasília. Ontem, as armas de Tite de fato não funcionaram contra um adversário que certamente atuaria na retranca e por uma bola durante os 90 minutos. Os anfitriões já haviam passado por isso na estreia diante da Bolívia, mas foram mais efetivos ao marcar três vezes no segundo tempo.
Um dos mais experientes da Seleção, o zagueiro Thiago Silva afirmou que as críticas da torcida depois da partida foram exageradas, alegando que a performance não foi tão ruim: “Primeiramente, faltou paciência no último passe. Foi um jogo bom da nossa parte. Encontramos uma equipe fechada. Estávamos todo o segundo tempo na área deles. Tentamos algumas jogadas individuais, mas, infelizmente, devido aos detalhes, não conseguimos o gol. Mas quando não se marca, parece que tudo está errado”.
O também zagueiro Marquinhos entende que o Brasil deve rever sua postura para tentar vencer o Peru, que é teoricamente o adversário mais qualificado do Grupo A: “A Venezuela se defendeu bem, com bloco baixo, e nós tivemos dificuldade na transição. Não conseguimos concretizar as jogadas. Foi difícil realmente e faltou mais intensidade nos passes. O mais importante é a gente se classificar e pontuar. Temos de analisar bem e ver o que podemos fazer no próximo jogo”.
DECISÃO QUESTIONADA O árbitro de vídeo, o chileno Roberto Tobar, foi personagem central. No segundo tempo, graças a uma intervenção dele, o compatriota Julio Bascuñan anulou gol de Gabriel Jesus, numa jogada em que Roberto Firmino, que deu o passe, estava à frente do penúltimo defensor – mas a bola foi aparentemente desviada por um defensor venezuelano antes de chegar ao jogador do Liverpool. Em seguida, foi a vez de Philippe Coutinho ter um gol anulado. O camisa 11 tocou para o gol depois de cruzamento de Éverton, mas a bola bateu em Firmino, que estaria em posição irregular. Nessa jogada, Roberto Tobar optou por não consultar as imagens e confiou na análise do VAR.
De qualquer forma, faltou mais ousadia do time de Tite na etapa final, depois de atuação pouco expressiva na primeira. Mesmo com posse de bola acima de 60% nos 45 minutos iniciais, a equipe não chegou ao gol, o que começou a irritar a torcida. O treinador apostou nas entradas de Gabriel Jesus e Éverton para dar intensidade ao ataque – Fernandinho substituiu Casemiro, que levou cartão amarelo –, mas prevaleceu a postura defensiva segura dos venezuelanos.
A torcida perdeu a paciência com as inúmeras chances desperdiçadas, algumas que pararam antes do último passe. Gritos irônicos de “olé” quando a Venezuela trocava passes pressionaram o time de Tite, que se mostrou mais ansioso e displicente nas conclusões. No fim, toda a equipe foi vaiada na saída de campo.
FICHA TÉCNICA
Brasil 0 x 0 Venezuela
Brasil: Alisson; Daniel Alves, Marquinhos, Thiago Silva e Filipe Luís; Casemiro (Fernandinho 12 do 2º), Arthur, Philippe Coutinho, David Neres (Éverton 26 do 2º) e Richarlison (Gabriel Jesus, intervalo); Roberto Firmino
Técnico: Tite
Venezuela: Fariñez; Hernández, Osorio, Villanueva e Rosales; Moreno, Herrera (Soteldo 20 do 2º), Rincón, Machiz (Figuera 30 do 2º) e Murillo; Rondón (Martínez 40 do 2º)
Técnico: Rafael Dudamel
2ª rodada do Grupo A da Copa América
Estádio: Fonte Nova
Árbitro: Julio Bascuñan (CHI)
Assistentes: Christian Schiemann e Cláudio Rios (CHI)
VAR: Roberto Tobar (CHI)
Cartão amarelo: Murillo, Casemiro e Figueira
Pagantes: 36.657
Renda: R$ 8.734.480
ATUAÇÕES
BRASIL
ALISSON (Nota 6)
Foi pouco exigido, mas mostrou atenção em todos os lances
DANIEL ALVES (Nota 5)
Muito marcado, desta vez não teve tanto espaço, como na estreia, e foi pouco efetivo
MARQUINHOS (Nota 6)
Novamente teve boa atuação, com antecipação correta nas jogadas
THIAGO SILVA (Nota 7)
Anulou o contra-ataque da Venezuela com inteligência
FILIPE LUÍS (Nota 5)
Embora tenha acertado muitos passes, tomou algumas bolas perigosas nas costas
CASEMIRO (Nota 5)
Efetivo na proteção da defesa, mesmo abusando das faltas. Saiu para a entrada de FERNANDINHO (Nota 5), que manteve o padrão tático
ARTHUR (Nota 5)
Recuperado de lesão, sentiu a falta de ritmo, mas armou várias jogadas ofensivas
PHILIPPE COUTINHO (Nota 5)
Atrapalhou-se em alguns momentos e não conseguiu incomodar o adversário. Teve gol anulado pelo VAR
RICHARLISON (Nota 4)
Atuou pelo lado direito e como centroavante em vários momentos, mas não foi bem. Substituído no intervalo por GABRIEL JESUS (Nota 6), que deu mais trabalho e teve um gol anulado
DAVID NERES (Nota 6)
Teve três oportunidades no primeiro tempo, mas desperdiçou todas. ÉVERTON (Nota 5) entrou para incendiar a partida, mas suas jogadas não deram certo
ROBERTO FIRMINO (Nota 5)
Outra vez foi pouco participativo no jogo
TITE (Nota 4)
Fez mudanças erradas e não conseguiu criar estratégias para que sua equipe saísse de campo com a vitória. Foi vaiado pela torcida
VENEZUELA
O atacante RONDÓN (Nota 7) deu trabalho ao Brasil, sobretudo nas jogadas de bola aérea. MURILLO (Nota 6) também fez boas jogadas pelo lado esquerdo
ARBITRAGEM
O chileno JÚLIO BASCUÑAN (Nota 5) teve atuação polêmica ao anular dois gols brasileiros com auxílio do árbitro de vídeo. Mas mostrou-se disciplinador na marcação de faltas