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A Seleção não precisava de forasteiros


postado em 16/06/2019 04:08

Julho, para um adolescente de 17 anos, férias escolares mais que aguardadas. Isso era para qualquer adolescente, menos eu. Filho de jornalista, meu pai, Felippe, sempre que me via de folga tratava de me levar para trabalhar com ele. Era repórter da TV Itacolomi e do Diário da Tarde. Mas aquele julho de 1975 não era um mês comum. A rotina seria quebrada por causa da Copa América. E a Seleção Brasileira seria representada pela Seleção Mineira, decisão de João Havelange, que pesidia a extinta Confederação Brasileira de Desportos (CBD ), entidade que antecedeu a CBF.


Meu pai sabia que eu era apaixonado por esporte e me chamou para dizer. “Vou ter que cobrir a Seleção Brasileira que disputará a Copa América. Será em BH, e vai ser o máximo ver Raul, Nelinho, Vantuir, Piazza, Getúlio, Zé Carlos, Vanderlei, Danival, Campos, Batata, Reinaldo, Marcelo, Romeu, Joãozinho todos juntos. Serão campeões da América do Sul. Você vai comigo para os treinos, pois está de férias.”


A escolha do treinador coube ao presidente da Federação Mineira de Futebol, o coronel José Guilherme. Estava entre Ilton Chaves, do Cruzeiro, e Telê Santana, do Atlético. Escolheu o primeiro, pois o time celeste ia bem na Copa Libertadores. Só que a coisa desandou. Na fase de preparação, contra seleções estaduais, só empates. Nada dava certo. A solução seria trocar o comando. Havelange, que estava de olho, chamou o coronel Zé Guilherme e deu a ordem. “O Oswaldo Brandão é o técnico oficial da Seleção Brasileira. Ele vai assumir o time. Telê e Ilton passam a ser auxiliares.”


Pronto. O sonho de ver uma Seleção só com jogadores de times mineiros campeã da América começava a ruir. Apenas nos dois primeiros jogos (4 a 0 em cima da Venezuela, em Caracas, e 2 a 1 sobre a Argentina, em BH), a equipe foi mineira. Depois, Brandão chamou o goleiro Waldir Peres, os zagueiros Luís Pereira e Amaral, de São Paulo, e do Rio, o também zagueiro Miguel, o armador Geraldo e o atacante Roberto Dinamite. O time ficou pior. Sem entrosamento, não passava confiança.


As críticas vinham de todos os lados. Em Minas Gerais, ninguém aceitava os enxertos. Os comentários eram de que não eram necessários os “estrangeiros”. Já no Rio e em São Paulo, diziam ser um absurdo a Seleção ter Minas Gerais como base. Desde essa época, tenho a impressão, quase certeza, de que ninguém neste país gosta de mineiro. A Seleção pagou caro. Na semifinal, perdeu feio, no Mineirão, para o Peru: 3 a 1. Miguel falhou, mas culparam Raul, que “pagou o pato”. Foi sacado e puseram Waldir Peres. Brandão parece ter visto a besteira que fez ao trazer “forasteiros”, e mexeu mais para o segundo jogo. Colocou mais mineiros. Vantuir voltou à zaga, com Nelinho e Getúlio nas laterais. Zé Carlos foi de novo titular, atuando ao lado de Wanderley, o “carregador de piano”. Geraldo saiu no segundo tempo para a entrada de Palhinha. No ataque, Roberto Batata, Campos e Romeu. Ganhamos de 2 a 0. Gols de Meléndez (contra, em jogada de Zé Carlos) e Campos.


Isso provocou um sorteiro, para definir o finalista. Dentro de um pote foram colocadas duas bolinhas – uma branca, representando o Brasil, e outra vermelha, o Peru. Pois é, perdemos. Quem sorteou? A filha do presidente da Confederação Sul-Americana da época, o peruano Teófilo Salinas. Até hoje dizem que a bolinha vermelha estava gelada. Pois o adolescente, grato ao pai por acompanhar tudo de perto, ainda hoje chora aquele sorteio. Chora também o treinador não ter sido mineiro e tem certeza de que o time não precisava de enxerto. Raul, Nelinho, Vantuir, Piazza e Getúlio; Vanderlei, Zé Carlos e Dirceu Lopes; Batata, Campos ou Reinaldo e Romeu ou Joãozinho, eram suficientes para trazer o título. Mas não deixaram. Tinham de meter a colher de pau.

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