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Estado de Minas

VAR, o vilão preferido de todas as torcidas


postado em 19/04/2019 05:07

Que qualquer faísca em um jogo de futebol tem potencial para virar incêndio, isso quem está a alguns anos acompanhando o esporte bretão já sabe. Mas a enxurrada de polêmicas levantadas com o advento do assistente de vídeo (VAR) – não só no Brasil, mas pelo mundo de forma geral – está alcançando níveis exagerados. Começou com um certo estranhamento, até natural, pela espera de alguns minutos para a comemoração dos gols. Agora, chegou ao ponto de muita gente lamentar a não marcação de gols irregulares. Isso mesmo: tem torcedor sentindo falta do tempo em que o time para o qual ele torce, ou com o qual simpatiza, era favorecido pela arbitragem. Para essa turma, o tal futebol-raiz está sendo assassinado pela tecnologia.

Tal demonização acaba tirando de foco a verdadeira discussão: a de que é preciso aprimorar o sistema, qualificar quem o opera. A tecnologia é muito bem-vinda, desde que seja bem utilizada. O problema está na manipulação errada da ferramenta, não na ferramenta em si. É tipo aquela pessoa que recebe uma notícia ruim e quer descontar em cima do mensageiro.

Ter um arsenal de câmeras acompanhando lances que seriam de difícil definição pelo olhar do árbitro não pode nunca ser considerado um prejuízo ao futebol. A reclamação precisa ser direcionada aos erros que os árbitros cometem ao analisar os lances – e vamos combinar que essa história vem praticamente desde que Charles Miller apresentou o futebol aos brasileiros, o pobre do VAR nada tem a ver com ela, embora estejam colocando na conta dele.

Enquanto o elemento que carrega o apito e toma as decisões continuar errando, mesmo com o auxílio de imagens (como naquele pênalti absurdo marcado a favor do Grêmio na decisão do Campeonato Gaúcho, contra o Internacional, na noite de quarta-feira), nada vai melhorar.

Até compreendo que não é das mais agradáveis. a sensação de ver seu time balançar a rede e, logo em seguida, o árbitro desenhar no ar aquele quadradinho. Os minutos de apreensão, a ansiedade pela definição e, por vezes, a frustração não são mesmo confortáveis. De certa forma, dá até certo receio no torcedor comemorar quando um jogador balança a rede.

Tudo isso, no entanto, faz parte de um processo. Vamos ter de reaprender a acompanhar futebol, nos acostumando com as novas regras. Pode ser até um futebol um pouco mais árido, porém, inegavelmente, é muito mais justo. E isso vem com o tempo, como qualquer novidade que é implementada em qualquer lugar, em qualquer tempo.

Outro ponto importante é que as pessoas precisam se informar mais a respeito do funcionamento do VAR. Não é qualquer lance que é passível de análise pela arbitragem. Isso também tem rendido muita discussão desnecessária. Qualquer falta no campo e lá tem torcedor reclamando: “Aí, isso o VAR não viu, né?”. Nem era para ver mesmo...

Li nas redes sociais vários comentários de especialistas e que gostaria de reproduzir aqui. O ex-árbitro Sálvio Spinola, por exemplo, recorreu a uma alteração de regra do passado para externar sua opinião e, de certa forma, rebater a turma que prefere o futebol pré-VAR. “Vamos voltar ao ano de 1970, implantação do cartão amarelo e cartão vermelho nas regras de futebol”, diz ele. “O debate era: ‘Pra quê essa cartolina, perda de autoridade do árbitro’”, completou Spinola. Pois bem, atualmente você imagina uma partida de futebol sem os cartões para balizar a disciplina? E tem alguma dúvida que nas arquibancadas mundo afora, naquela época, teve gente reclamando da punição ao jogador de sua equipe?

O jornalista Cláudio Arreguy, uma verdadeira enciclopédia de futebol, com quem trabalhei por quase 15 anos no Estado de Minas, fez um levantamento curioso sobre heróis que perderiam seu posto e títulos que deixariam de ser conquistados se o assistente de vídeo tivesse sido implementado antes. Um dos casos citados por ele: o controverso gol de mão do argentino Maradona contra a Inglaterra, na Copa do Mundo de 1986. Com VAR, nada da poética La Mano de Dios sobre a qual o craque fala com tanto orgulho – e os ingleses lamentam – até hoje.

Do espanhol Pep Guardiola, técnico do Manchester City, veio uma análise bem realista. Depois da frustrante eliminação de seu time da Liga dos Campeões para o Tottenham, com o gol que lhe daria a vaga na semifinal, nos acréscimos, sendo anulado após avaliação das imagens, ele foi sintético: “Eu apoio o VAR. (…) Sou a favor do futebol justo. Quando é impedimento, é impedimento. No futuro, e até no presente, será sempre mais justo”. Sem dó nem piedade até consigo próprio.

Moral da história de toda essa cotenda? O VAR é uma evolução muito necessária ao futebol. Aceita que dói menos.

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