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Goleira que interrompeu carreira no futebol por causa de Mariana agora defende o América

Aos 15 anos, Sandy parou de jogar bola pelo luto e viu vários colegas perderem tudo por causa de Fundão. Mas a menina perseguiu seu sonho e hoje, aos 18, está em campo novamente


postado em 08/04/2019 05:08 / atualizado em 08/04/2019 08:33

Sandy tem treinos pela manhã e à tarde e à noite cursa o último ano do ensino médio (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )
Sandy tem treinos pela manhã e à tarde e à noite cursa o último ano do ensino médio (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )

Em 5 novembro de 2015, quando o rompimento da Barragem do Fundão, da mineradora Samarco, deixou ilhado o distrito de Águas Claras, em Mariana, Sandy Monteiro tinha 15 anos. O tsunami de rejeitos levou a ponte do principal acesso ao vilarejo. Ela ficou sabendo da tragédia enquanto voltava da escola. Na noite daquela quarta-feira, ela e duas amigas não saíram de casa para jogar futebol com os meninos na quadra do distrito, como faziam todos os dias. O bate-bola foi suspenso pelo luto. “Amigos de escola que moravam em Paracatu perderam tudo. Foi muito triste. Ficamos umas três semanas sem aula”, recorda a jovem.

A lama que varreu distritos vizinhos a caminho do mar, no Espírito Santo, matou 19 pessoas, no maior desastre ambiental da história do país, mas não destruiu o sonho da jovem. Três anos depois, Sandy seria contratada pelo América, como uma promessa do futebol feminino mineiro. Nesse intervalo de tempo, outros capítulos desafiadores ainda seriam escritos na vida dessa jovem goleira.

 

A ponte provisória em Águas Claras, construída três meses depois da tragédia provocada pela mineradora, amenizou transtornos de locomoção da comunidade com pouco mais de 400 habitantes e abriu passagem para Sandy, que deixou o vilarejo para continuar os estudos em Mariana. “Fui morar com meus irmãos, para cursar o ensino médio. Nas horas vagas, comecei a treinar num time feminino de futsal, o Style”, lembra.

No futsal, o talento dela como goleira foi revelado. Em 2018, o treinador a indicou para integrar a equipe de futebol feminino do Betis, de Ouro Branco, que a levou ao Campeonato Mineiro de Futebol Feminino. “Era tudo muito amador. Conheci as outras jogadoras do time no dia da partida. Ficamos em terceiro lugar. Perdemos para o Ipatinga e o América”, conta a jovem. Ao fim de todos os jogos do torneio, Sandy retornava para Mariana.

 

Como até no fim do ano passado o único time profissional de futebol feminino de Minas era o América, Sandy não sonhava ser jogadora profissional. “Sabia que queria muito jogar futebol, mas ser atleta profissional, nem imaginava”, afirma a goleira, que pensava fazer faculdade de psicologia. Mas esse jogo virou. A experiência com a equipe do Betis despertou o desejo da jovem em tentar jogar em um time grande e seguir carreira no futebol.

A oportunidade veio em janeiro deste ano. “Meu treinador, Neidmar, ficou sabendo de uma seletiva para entrar no América, que aconteceria em São Gonçalo do Rio Preto. Ele que me avisou e incentivou muito a participar”, diz. Mesmo morando em uma cidade que fica a pouco mais de 100 quilômetros de Belo Horizonte, sede do América, ela percorreu mais de 450 quilômetros até o município do Vale do Jequitinhonha, local do exame, numa viagem de carro com mais de sete horas de duração.

O teste


O pai, João Bosco Alves, de 60 anos, foi quem acompanhou a goleira. O teste seria em um sábado, mas para a filha não chegar cansada, eles viajaram um dia antes. “Saímos umas cinco e pouco da manhã de uma sexta-feira. Uma colega dela, que também fez o teste, foi com a gente. Não conhecíamos nada. Chegamos na cidade e fomos perguntando até encontrar uma pousada”, lembra João.

 

Na manhã seguinte, às 9h, lá estava ele na arquibancada do campo, acompanhando a avaliação da caçula. Sandy foi aprovada. “Ela ter sido selecionada foi um orgulho danado. Levei minha filha pra buscar o sonho dela”, comemora, emocionado. Apesar do orgulho atual com as conquistas da filha, João admite que não aprovava a empolgação dela com o futebol na infância. “Eu trabalhava como caminhoneiro. Chegava de viagem em casa e cadê a Sandy? Estava jogando bola. Já dei algumas chineladas nela por causa disso”, relembra. Hoje, o apoio é total.

 

Depois da seleção em São Gonçalo do Rio Preto, Sandy ainda passou por mais uma semana de teste no centro de treinamento do time, em BH. Quando o clube anunciou que ela seria jogadora do América, uma mudança inesperada quase colocou tudo a perder. “Logo depois que passei por todas as etapas, a comissão técnica que havia me selecionado foi trocada. Tive de fazer outro teste, com a nova equipe”, lembra. O talento mais uma vez se destacou. A responsável por colocar fim nesse jogo de idas e vindas foi a nova técnica do América, Kethleen Azevedo. “A Sandy é uma atleta nova e com muito futuro. Vi nela uma técnica apurada, mesmo com a pouca idade. Acredito que, com um trabalho de qualidade, em breve será uma goleira acima da média”, elogiou.

 

Sandy vive hoje, juntamente com outras colegas de clube, numa casa alugada pelo América, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste de Belo Horizonte. Os estudos também foram transferidos para a capital. “Os treinos são pela manhã e à tarde. À noite, todos os dias, vou para a escola”, conta a jovem que cursa o último ano do ensino médio. A estreia no time ainda não aconteceu, mas ela sabe que sua hora vai chegar. “A ansiedade é grande, mas, no momento, só penso em treinar e melhorar meu condicionamento”, conclui.

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