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Camisa 24, o número que ninguém quer no futebol brasileiro

Clubes brasileiros que adotam numeração fixa eliminaram da lista o 24. Recusa passa pelo preconceito no futebol, já que número é associado pejorativamente à homossexualidade


postado em 23/01/2019 05:04


O 24 parece ser um número proibido para os jogadores do futebol brasileiro. Atlético e Cruzeiro, entre outros grandes clubes nacionais, divulgaram a numeração dos atletas para a temporada, e foi possível notar uma grande coincidência: o algarismo não figura na camisa de nenhum jogador.

A explicação para essa recusa passa pelo machismo no futebol. O 24 está ligado ao animal veado no jogo do bicho, criado há cerca de 120 anos para salvar o zoológico do Rio de Janeiro – que corria o risco de fechar as portas. Cada animal representava um número. O jogo caiu no gosto popular e se espalhou pela cidade, com outros fins. Acabou proibido em 1941, mas ainda resiste em várias partes do Brasil.

Se é a representação de virilidade em muitos países – um cervo, por exemplo, é o símbolo da marca de roupas masculina norte-americana Abercrombie –, no Brasil, o veado foi estigmatizado como um animal delicado, como o personagem Bambi, dos desenhos de Walt Disney. Na linguagem popular, foi associado ao homossexual masculino. Essa história ajuda a entender o principal motivo de o 24 não ter grande adesão no futebol brasileiro.

Para Gustavo Andrada Bandeira, doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador em futebol e masculinidade, usar a camisa 24 seria uma espécie de afronta ao machismo que reina no futebol. Os jogadores buscam se afastar de tudo o que questiona esse status quo para evitar desgastes com torcedores, avalia o especialista. “Isso (a ausência do número 24) reflete as representações hegemônicas de masculinidade do futebol. Uma representatividade heterossexual e heterossesexista. Ser forte, viril e aparecer com mulheres na mídia são qualidades para os jogadores em um ambiente em que a masculinidade tem se mostrado frágil e em que qualquer deslocamento dessa hegemonia causa ruídos. Beira o ridículo você não querer usar o 24 e ver jogadores usando o 88, identificado com movimentos nazifascistas”, comenta Bandeira.

Ele frisa existir uma construção da masculinidade nos estádios, cujas torcidas separam os heterossexuais dos homossexuais, considerados inferiores. Usar a camisa 24 poderia vender uma imagem de fragilidade, tendo em vista esse olhar machista. “A homossexualidade no futebol está sempre presente, sempre no outro. Você nunca vê uma torcida gritando ‘nós somos os machões’, é sempre ‘vocês são os viados’, para demarcar quem ocupa o lugar do ‘normal’ e quem é o ‘anormal’”, diz.

LIBERTADORES Em torneios como a Copa Libertadores, o uso do número é obrigatório, pois a relação enviada pelos clubes deve ser sequencial, de 1 a 30. Alguns acabam colocando o terceiro goleiro como 24, talvez numa tentativa para que o número não entre em campo. Foi o caso do Cruzeiro na temporada passada, que inscreveu o goleiro Lucas França com a camisa. Com a saída do arqueiro, outro goleiro ficou com a 24: Vitor Eudes. Nenhum dos dois foi utilizado pelo técnico Mano Menezes. Não apenas a Raposa se valeu desse artifício: o Grêmio inscreveu Paulo Victor; o Flamengo, Thiago; o Santos, João Paulo; o Vasco, João Pedro. A camisa acabou virando o número dos terceiros goleiros na Libertadores. Apenas Palmeiras e Corinthians não colocaram arqueiros com a 24.

Bandeira acredita que o número, se adotado de forma voluntária, poderia gerar, em casos mais extremos, reação negativa de parte dos torcedores. “Se sou empresário do jogador, digo para não usar a camisa 24. Como militante dos direitos humanos e como torcedor, gostaria que jogadores homossexuais se assumissem ou que atletas heterossexuais defendessem essa bandeira. Mas hoje você tem pouco mais de 600 jogadores na Série A ganhando grandes salários. Se aconselha um jogador a se assumir ou defender abertamente, as chances de ele ter prejuízo na carreira são enormes. Apenas os jogadores extraclasse não teriam esse problema, no Brasil talvez somente o Neymar”, avalia.

A reportagem entrou em contatos com empresários para abordar o tema. Apenas um deles, que inclusive é ex-jogador, aceitou falar, resguardando o anonimato. “Não vejo problema, mas a gente sabe que há torcedor que pega no pé do jogador por tudo: pelo cabelo, pela chuteira, número então pode ser só mais um motivo”, afimou.

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