“Sempre foi assim, com sofrimento”. “Nunca foi fácil”. O desabafo de um torcedor anônimo do América define bem o sentimento de todos os americanos que têm de encarar a sexta queda para a Segunda Divisão: 1993, 1998, 2001, 2011, 2016 e 2018. Ontem, no Bar do Paulinho, na Rua Pium-í, no Bairro Sion, cerca de 200 apaixonados pelo Coelho, divididos entre a rua e a calçada, foram da euforia à revolta diante do resultado que decretou o rebaixamento. Mas muitos acreditaram até o fim: “Não tem que xingar, mas torcer”, pedia alto, para em seguida soltar impropérios entre um copo e outro de cerveja. “Animal, domina e não dá chutão!”
O boteco, reduto de americanos desde 1988, tem no dono Paulo César Cunha, o Paulinho, de 64 anos, um louco pelo Coelho. Mineiro, de Ponte Nova, músico, trabalha e torce ao mesmo tempo. Ontem, era só decepção. “Aqui é a filial do América, e sempre será. Quando ganha, festejamos, se perdemos, sofremos juntos. Vida que segue.” O bar lotado, com quatro TVs (três de tubo!), faixas, pôsteres, canecas e escudos do América por todos os lados, exalava tensão e paixão. Entre xingamentos impronunciáveis, gritos de “vamos, Coelho”, ordens técnicas e “elogios” a Luan, eleito o maior vilão da queda, os torcedores pareciam incrédulos com a chance desperdiçada pelo Coelho. Rafael Moura foi outro alvo e chamado de pipoqueiro por não ter cobrado o pênalti.
SPENCER Desabafos, olhos grudados na TV, inquieto na cadeira, Tádzio Coelho, de 36 anos, sociólogo, chamou a atenção. Ao pedir para descrever o que sentia, foi enfático: “Torço pelo América desde os 4 anos, quando meu pai me levava ao estádio. Hoje (ontem), passo pelo meu quinto rebaixamento. Mas como o Coelho já me fez muito feliz, dane-se. O América é minha vida, eu o amo”.Tádzio revelou que é filho do armador Spencer, campeão brasileiro em 1971 pelo Atlético e jogador do América no Brasileiro de 1973, quando formava a linha de frente com Pedro Omar, Juca Show e Edson.
Resignado, restou a Tázio ser realista: “Foi o Luan perder o pênalti que já previ... É difícil porque fomos bem em parte do campeonato, ficamos no meio da tabela e caímos de produção. Sei que o presidente Marcus Salum faz o que pode, o América recebe cota mínima da TV e deu no que deu”.