Em alguns casos, a obrigação de ter relação sexual no dia indicado pelo aplicativo pode deixar o casal mais estressado

Em alguns casos, a obrigação de ter relação sexual no dia indicado pelo aplicativo pode deixar o casal mais estressado

Freepik

infertilidade conjugal, ou seja, a dificuldade de conceber um filho atinge, em média, um em cada sete casais; após os 38 anos, esse número é de um em cada três casais. Depois de muitas tentativas, é fundamental buscar ajuda de um especialista, mas antes de chegar a um médico, alguns casais estão buscando uma estratégia arriscada: os aplicativos de fertilidade. Disponíveis para todos os tipos de smartphones, essas tecnologias monitoram os ciclos menstruais baseado nas datas dos ciclos anteriores.

"Elas funcionam muito bem para as mulheres que têm ciclos completamente regulares. O que acontece é que o ciclo menstrual é dividido em duas fases: a primeira é variável e compreende o período entre o primeiro dia do fluxo menstrual até a ovulação. A segunda vai da ovulação ao dia que antecede o fluxo do próximo ciclo e essa fase é fixa, durando 14 dias. Portanto, para as mulheres com ciclos menstruais regulares, é possível prever o dia da ovulação e período fértil (por exemplo, a mulher com ciclo de 28 dias ovula no 14º dia, a mulher com ciclo de 32 dias ovula no 18º). Mas se naquele ciclo, a ovulação atrasar ou adiantar, o aplicativo não é capaz de detectar", explica o especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, Rodrigo Rosa. Mas, na tentativa de ajudar, esses aplicativos podem gerar outro problema: aumentar o estresse do casal ao "orientar" o dia fértil. "Muitos casais ficam mais estressados com a obrigação de ter relação sexual no dia indicado pelo aplicativo, que nem sempre pode estar correto", afirma Rodrigo.

Leia: Deficiência hormonal pode afetar crescimento de crianças

Ter controle dos ciclos menstruais é um dos passos mais poderosos para cuidar da saúde reprodutiva. No entanto, o médico pondera que, apesar dos aplicativos auxiliarem, os testes de ovulação de farmácia ainda continuam sendo os mais eficazes na detecção da ovulação. "Vale ressaltar também que a ausência de ovulação é responsável por apenas 25% das causas de infertilidade feminina e cerca de 15% de todas as causas", afirma Rodrigo. O especialista enfatiza que o aumento da prevalência de infertilidade é devido às mudanças sociais, como adiamento da gestação e piora do estilo de vida (dieta inadequada, alterações do peso, abuso de álcooltabagismo, entre outros).

Os métodos alternativos são considerados uma tendência. "O grande problema desses aplicativos é a demora que os casais podem ter para buscar ajuda especializada", diz o médico. O uso também não é recomendado para todas as mulheres. Rodrigo Rosa explica que a queda na fertilidade feminina após os 30 anos e de forma mais acentuada após os 35 anos é decorrente do fato da mulher já nascer como todo o estoque de óvulos que será utilizado durante toda a vida reprodutiva e, ao longo do tempo, há queda da quantidade e da qualidade dos óvulos, com mais erros genéticos, dificultando a gestação e aumentando o risco de abortos espontâneos.

O médico ressalta que, quando o casal não consegue engravidar após 12 meses de tentativas, é fundamental procurar ajuda especializada para identificar todas as possíveis causas de infertilidade, tanto masculina quanto feminina.