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As causas da condição não são conhecidas, como na maioria das doenças autoimunes

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Mais conhecido como lúpus, o lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória autoimune, ou seja, o sistema imunológico ataca tecidos saudáveis do próprio corpo por engano e causa reações inflamatórias que podem se manifestar de diferentes formas.

A doença, que ainda causa muitas dúvidas na população, entrou em evidência após a plataforma de streaming Netflix lançar o filme 'Depois do universo', retratando uma pianista que sofre com a síndrome. O filme foi lançado em 27 de outubro e o Google Trends mostrou um aumento considerável nas buscas pela doença entre 30 de outubro e 5 de novembro.
 

Levando em consideração o interesse da população, a gravidade da doença e a quantidade de pessoas no Brasil que têm lúpus, é importante trazer mais luz sobre o tema, falando com médicos especialistas que podem explicar detalhes sobre a síndrome.

Segundo o Ministério da Saúde, existem mais de 80 doenças autoimunes conhecidas atualmente, e entre estas, o LES. Essa doença pode apresentar uma grande variedade de manifestações, desde quadro leves com acometimento em pele e articulações até quadros graves com comprometimento renal ou do sistema nervoso. De acordo com estimativas, há cerca de 65 mil pessoas com a patologia no Brasil, a maioria delas mulheres.

De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Saúde do DF no ano passado, no Distrito Federal, incluindo a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, são entre mil e duas mil pessoas com lúpus.

A doença

Luciana Parente Costa Seguro, reumatologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), explica que o lúpus é multissistêmico, podendo atingir qualquer tecido ou órgão do corpo, inclusive simultaneamente.

As regiões mais comumente afetadas são a pele, as articulações, os rins, os pulmões, o coração e o sistema nervoso. As células do sistema imunológico se desregulam e começam a atacar o organismo, causando as reações inflamatórias que podem evoluir para uma série de outras condições.

 
As causas da doença não são conhecidas, como na maioria das doenças autoimunes, mas, atualmente, as teorias mais aceitas entre os especialistas é de que a condição atinge pessoas que têm predisposição genética.

Pessoas que têm esses marcadores podem ter a doença ativada ou despertada por fatores externos, entre eles uso de medicamentos, desequilíbrios hormonais, infecções virais, exposição excessiva à luz solar e raios ultravioleta e tabagismo.

O lúpus é uma doença crônica, como a maioria das condições autoimunes e não é transmissível.

Sintomas

Podem se manifestar em uma ou diversas formas. Entre as mais comuns, está o aparecimento de manchas vermelhas na pele, principalmente no colo, braços e no rosto, na região malar, chamadas de lesões asa de borboleta.

Dores articulares, inflamação nas articulações, dores musculares, fadiga e queda de cabelo também são sinais que costumam aparecer com frequência. Além disso, os sintomas podem aparecer e desaparecer continuamente, sem causa aparente.

Entre as manifestações mais graves, destacam-se a nefrite lúpica, quando ocorre a inflamação dos rins, que pode chegar a causar falência renal e alterações neurológicas, como convulsões e formigamentos.

Luciana acrescenta que muitos profissionais de saúde consideram o lúpus uma síndrome, uma vez que pode atuar como se fosse várias doenças ao mesmo tempo. "Cada paciente tem um tipo, e isso inclui os sintomas, as manifestações e o tipo de tratamento mais indicado", explica.

O lúpus pode atingir pessoas de todas as idades e gêneros, mas Luciana destaca que os casos mais graves costumam ser, em maioria, em homens e os que se manifestam durante a infância.

As mulheres em idade fértil, entre 20 e 45 anos, estão no grupo mais comumente atingido pela doença. As mudanças hormonais naturais e as causadas pelas gestações ou o uso de contraceptivos hormonais, como a pílula, podem estar relacionados a essa prevalência.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico costuma ser feito a partir das manifestações clínicas sugestivas de lúpus, que são confirmadas a partir de exames laboratoriais, como hemograma e exame de urina.

A terapia está ligada ao tipo de manifestação e à gravidade dos sintomas. "Por isso, defendemos cada vez mais os tratamentos personalizados e feitos para cada paciente", afirma Luciana.

Corticoides são muito usados pela característica que o medicamento tem de cortar quase imediatamente a inflamação ativa. São muito usados quando os rins e o sistema nervoso estão com inflamações graves.

Embora seja o tipo de medicamento que "salva vidas" de pacientes com lúpus, Luciana explica que os efeitos colaterais podem ser muito nocivos a longo prazo. Entre eles, ganho de peso e inchaço, diabetes, catarata e glaucoma.

"A ideia é usar o mínimo possível de corticoides e pelo menor tempo possível", explica a médica. Uma vez controlada a inflamação grave, medicamentos imunomoduladores e imunossupressores passam a ser mais indicados. Eles são responsáveis por "acalmar" o sistema imunológico e controlar os ataques das células de defesa ao próprio organismo.

Medicamentos biológicos também têm sido muito usados, eles agem diretamente nos mecanismos das células do sistema imunológico, controlando sua ação.

Sem o tratamento adequado ou o diagnóstico correto, as manifestações do lúpus podem evoluir rapidamente. A mortalidade dos pacientes é cerca de três a cinco vezes maior do que a da população geral e está relacionada à atividade inflamatória da doença, especialmente quando há acometimento renal e do sistema nervoso central.

Palavra de especialista
Maria Fernanda Guimarães
Presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia

O lúpus tem cura?

A doença não tem cura como acontece com outras condiçôes crônicas como; por exemplo, o diabetes. No entanto, é muito importante ressaltar que a doença tem diversos tratamentos disponíveis e que o diagnóstico precoce e o acompanhamento com reumatologista podem garantir qualidade e manutenção de todas as atividades da vida do paciente.

Pode ser uma doença grave?

As manifestações do lúpus podem ser muito variáveis, desde uma doença leve com acometimento apenas de pele ou articulações até uma doença grave com acometimento de órgaos nobres como os rins e o sistema nervoso. Existe, inclusive, tratamento capaz de dimiuir o risco de agravamento da doença a longo prazo, como o uso de hidroxicloroquina.

Além do acompanhamento médico e do tratamento medicamentoso, o que mais o paciente com lúpus deve fazer ?

Deve levar uma vida normal e manter hábitos saudáveis com a prática de atividade física regular, dieta adequada, parar de fumar , evitar a exposição solar e fazer uso regular de protetores já que os raios ultravioleta são capazes de exacerbar a doença.