mãe amamentando um recém-nascido

O leite materno é do ponto de vista físico e nutricional e também é responsável por criar o lastro de emoções e afetividade entre mãe e filho

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O leite materno é imbatível quanto aos benefícios para bebês do ponto de vista físico e nutricional. É responsável também por criar o lastro de emoções e afetividade entre mãe e filho, uma conexão insubstituível. E as descobertas sobre seu poder não param por aí. Foi publicado no The News Harvard Gazete um estudo que mostra como o leite materno está vinculado a melhores resultados para bebês prematuros. 
 
Por sete anos, pesquisadores do Brigham and Women's Hospital, em Boston, Massachusetts (EUA), juntamente com colaboradores do Instituto de Pesquisa Médica e Saúde da Austrália do Sul, descobriram que as crianças que receberam maior quantidade de leite materno durante e após o tempo na unidade de terapia intensiva neonatal tiveram maior desempenho acadêmico, QI mais elevado e sintomas reduzidos de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Os resultados foram publicados em julho na JAMA Network Open.
 
Claudia Drumond, pediatra responsável pelo serviço de atendimento às mães e recém-nascidos na Saúde no Lar, empresa especializada em home care, enfatiza que o leite materno é de suma importância para o bebê e tem tudo aquilo que a criança precisa até o sexto mês de vida. “Ele, logo após o nascimento, ajuda a reduzir a mortalidade neonatal, auxilia a mãe com relação às contrações uterinas (diminui o risco de hemorragias), além de fortalecer o vínculo entre mãe e filho. Crianças amamentadas com o leite materno ficam menos doentes e estão mais nutridas do que aquelas que ingerem outro tipo de alimento”, comenta.  

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O aleitamento mostra toda a sua potência, já que ao melhora a saúde cardiovascular, reduz a retinopatia e a incidência de sepse, além de melhorar, a longo prazo, o desempenho escolar e fazer com que a criança tenha um perfil nutricional mais saudável

Claudia Drumond, pediatra

 
 
pediatra Cláudia Drumond

A pediatra Claudia Drumond explica que a prematuridade ocorre quando bebês nascem antes de completar a 37ª semana de gestação

Arquivo Pessoal
 
 
No caso dos bebês prematuros, que tendem a ser mais vulneráveis, o aleitamento mostra toda a sua potência. “Melhora a saúde cardiovascular, reduz a retinopatia, a incidência de sepse e a enterocolite necrosante (principal quadro agudo intestinal que acomete os pacientes em unidades de terapia intensiva pouco tempo após o nascimento), além de melhorar, a longo prazo, o desempenho escolar e fazer com que a criança tenha um perfil nutricional mais saudável.”
 
A pediatra explica que a prematuridade ocorre quando bebês nascem antes de completar a 37ª semana de gestação e são classificados de acordo com a idade gestacional ao nascer: limítrofe – nascidos entre 36 e 37 semanas; moderado – nascidos entre 31 e 36 semanas; e prematuro extremo, nascidos entre a 24ª e a 30ª semanas. “Quanto menor for a semana do nascimento, mais vulnerável biologicamente esse bebê é, precisando, muitas vezes, de cuidados especiais. 
 
No Brasil, nascem 340 mil bebês prematuros todo ano, o que equivale a 931 por dia ou a seisprematuros a cada 10 minutos. “Mais de 12% dos nascimentos no país acontecem antes de a gestação completar 37 semanas, o dobro do índice de países europeus, segundo dados do Ministério da Saúde. No mundo, a prematuridade atinge 15 milhões de crianças e um em cada 10 bebês nasce prematuro.”

Fatores de risco para um parto prematuro

Ao pensar nos fatores de risco para um parto prematuro, a pediatra explica que a mãe pode fazer “tudo certinho durante a gravidez” e, mesmo assim, ter um bebê prematuro. “Existe uma diferença grande com relação ao risco de nascimento prematuro por grupo racial, mas, além da etnia, outros fatores podem contribuir, como por exemplo estar grávida de gêmeos ou mais, ter tido parto prematuro na gestação anterior, problemas crônicos de saúde da mãe (diabetes, distúrbios de coagulação, pressão alta), problemas com o útero ou colo do útero, abuso de álcool, drogas e cigarro ao longo da gravidez, ou ainda infecções.” 
 
O bebê prematuro precisa de cuidados especiais dos médicos e da família para um desenvolvimento saudável. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prematuridade é a principal causa de mortes de bebês no primeiro mês de vida. “Essa atenção vai depender do nível de prematuridade da criança. É comum que tenham complicações para respirar, regular a própria temperatura e também para se alimentar e, muitas vezes, os primeiros cuidados são dados ainda na UTI neonatal. Mas esse zelo deve ser redobrado em casa também, como, por exemplo, evitar cigarro e aglomeração próximos à criança, contato com pessoas que estejam com infecções respiratórias, estar sempre com as mãos higienizadas, trocar a fralda com constância, manter a vacinação em dia, além de priorizar, se possível, o aleitamento materno”, alerta a pediatra.
 
 
Claudia Drumond destaca que o bebê prematuro terá alta do hospital/maternidade mais rápido se alimentado com leite materno. “Recém-nascidos prematuros têm alta, em média, duas semanas antes daqueles alimentados com fórmulas lácteas e correm risco menor de voltar para o hospital no primeiro ano de vida. As mães devem ser orientadas e encorajadas a permanecer amamentando em casa. Atualmente, existem serviços de home care voltados para mães e bebês, com equipe multidisciplinar para dar total suporte nos primeiros meses de vida da criança, inclusive no quesito amamentação.”

As fórmulas lácteas

Caso a mãe não consiga e não possa amamentar o bebê, até mesmo por meio do banco de leite, a pediatra lembra que devem ser oferecidas fórmulas lácteas específicas para prematuros, a fim de atender às suas necessidades. “A composição deve oferecer os nutrientes que um bebê prematuro precisa, além de ter mais proteínas, gorduras e nutrientes balanceados e adição de ácidos graxos específicos, essenciais para o desenvolvimento cerebral, visual e psicomotor. Mas ela deve ser usada como complemento ou em conjunto com a amamentação”, avisa a médica. 
 
Claudia Drumond chama a atenção para o resultado do estudo dos pesquisadores do Brigham and Women's Hospital e do Instituto de Pesquisa Médica e Saúde da Austrália do Sul: “Esse estudo foi feito em 586 crianças nascidas com menos de 33 semanas de gestação em cinco centros perinatais australianos e que ingeriram leite materno até os 18 meses. Essas mesmas crianças foram avaliadas aos 7 anos de idade e os pesquisadores descobriram que a maior ingestão de leite estava associada a um QI mais elevado, pontuações mais altas em leitura e matemática e menos sintomas de TDAH. 

Não quer dizer que todas as crianças prematuras vão desenvolver déficits e transtornos de aprendizagem, mas o nascimento precoce afeta a maturidade do sistema nervoso central e isso pode fazer com que a criança desenvolva o TDAH, síndrome caracterizada por distração, agitação, impulsividade, esquecimento, desorganização, entre outros sintomas. Os primeiros sinais ocorrem no período em que a criança está iniciando a escola. Pais, professores e educadores precisam estar atentos. Com essa rede de apoio é possível fazer com que a criança explore mais seu potencial e tenha resultados mais positivos. Além disso, é fundamental que a criança tenha acompanhamento com neurologista de forma regular para que qualquer alteração de comportamento ou no desenvolvimento seja detectada precocemente.”