neurocientista Yuri Utida

"Nos primeiros anos de vida, nós não temos os recursos intelectuais e o senso crítico necessários para separar o que são informações boas e ruins', diz o neurocientista Yuri Utida

Arquivo pessoal
A responsabilidade de educar uma criança é uma tarefa que exige não apenas planejamento financeiro, mas também maturidade emocional por parte dos pais. Estudo publicado no The Journal of Positive Psychology revelou que as crenças limitantes dos pais podem gerar filhos adultos com maior tendência a problemas de saúde mental e frustração.

De acordo com o levantamento, o cultivo de crenças negativas - como a de que o mundo é um lugar perigoso, que relacionamentos tendem a dar errado ou que o dinheiro é uma coisa "suja" - podem gerar adultos mais ansiosos, frustrados e menos dispostos a transformar a própria realidade e realizar os próprios sonhos.


Especialista em neurociência comportamental, Yuri Utida explica que essas crenças primárias, formadas ainda na infância, tendem a ficar codificadas na mente e determinam como o indivíduo irá se comportar e ver a realidade na fase adulta. "Nos primeiros anos de vida, nós não temos os recursos intelectuais e o senso crítico necessários para separar o que são informações boas e ruins. Por isso, quando aprendemos sobre o mundo com as referências de autoridade e sabedoria que vêm dos nossos pais e parentes próximos, a tendência é que essa informação seja absorvida como uma verdade absoluta, sem questionamentos. Isso abre brecha para que crenças limitantes relacionadas ao dinheiro, à vida e ao sucesso sejam gravadas no subconsciente dessa pessoa em formação", explica.
 

O problema, segundo o especialista, é que essas crenças podem determinar as escolhas futuras e a vida da pessoa. Caso a criança cresça com um ideal de sucesso, as chances de se ver frustrado ao não questionar esse padrão são grandes. "Digamos que seus pais te ensinaram desde pequeno que é preciso estudar, arrumar um emprego, brigar por uma promoção, casar em uma determinada idade e etc. A pressão de realizar isso em espaços de tempo pré-determinados gera um indivíduo que constantemente se compara, que está sempre ansioso e tem mais tendência a não sair da zona de conforto e bancar os próprios sonhos", exemplifica.

Yuri Utida aponta que a tendência é que esse comportamento condicione o indivíduo a uma vida de limitações. "Se a pessoa cresce em um ambiente que estimula desde cedo o empreendedorismo, o autodesenvolvimento, a aquisição de cultura e criatividade, por exemplo, consegue fazer com que essa criança, quando adulta, tenha virtudes como independência, estabilidade emocional e segurança para bancar as próprias decisões, ou seja, alguém que se permite explorar as infinitas possibilidades que o mundo oferece", pontua.

Desconstruir crenças

Essas crenças - ou padrões mentais - também podem influenciar em como uma população inteira se vê diante de outras nações. Yuri Utida cita como exemplo a famosa "síndrome de vira-lata", que delimita que apenas países 'desenvolvidos' são educados ou prosperam financeiramente "Isso também é algo ensinado e aprendido durante a infância, o que limita o indivíduo e o povo a uma posição de subserviência, de voz não-ativa. Então, fortalecer a cultura do brasileiro e ensinar as pessoas a sonharem e se permitirem falar de sucesso, de dinheiro, de não esperar tudo do governo, de um provedor, é também ensinar sobre ter auto responsabilidade sobre a vida", pontua.

O problema é que as pessoas costumam se dar conta de padrões nocivos apenas na fase adulta, após frustrações e adoecimentos. Entretanto, isso não significa que eles não possam ser quebrados. "Por meio de técnicas de reprogramação mental e outras terapias alternativas, o indivíduo consegue desconstruir essas noções de mundo enraizadas e trocá-las por entendimentos mais empoderados e de positividade", garante.

Como tudo que nos faz mal, Yuri Utida destaca que é preciso que os pais reconheçam essas crenças limitantes como um problema e busquem aconselhamento com relação a elas, para que isso não se perpetue ao longo das gerações.  "Em uma família, enquanto os pais que têm uma vida insatisfatória e de escassez não admitem que precisam fazer algo diferente, pouco pode ser mudado."  

"Reconhecido esse problema, leitura, treinamentos, materiais e orientação de quem já passou por uma jornada de desconstrução de crenças para atingir resultados diferentes são alternativas para conseguir traçar outros caminhos e criar filhos mais proativos e satisfeitos."