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Estado de Minas NEFROLOGIA

Mantenha a saúde dos rins

A insuficiência renal atinge cerca de 10% da população mundial. Como ela é uma doença silenciosa, vai progredindo até que o órgão pare completamente


17/04/2022 04:00 - atualizado 13/04/2022 15:23
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Lecticia Jorge Barbosa, gerente médica da Fresenius Medical Care
(foto: Danthi Comunicação/Divulgação)


O bom funcionamento do rim é tão importante quanto o coração para a saúde. Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), cerca de 10% da população mundial tem insuficiência renal – responsável pela morte de milhares de pessoas todos os anos.

A nefrologista Lecticia Jorge Barbosa, gerente médica da Fresenius Medical Care, explica que um dos maiores problemas, além da negligência com o assunto, é que se trata de uma doença silenciosa, ou seja, nem sempre os sintomas aparecerão de imediato. Dito isso, a condição vai progredindo até que os rins parem completamente de exercer suas principais funções.
 

"Se ao menos as pessoas que têm algum risco controlassem a doença corretamente e seguissem todas as recomendações médicas, já teríamos muito menos doentes renais e óbitos precoces também"

Lecticia Jorge Barbosa, gerente médica da Fresenius Medical Care

 
 
“Eles são responsáveis por filtrar substâncias nocivas do sangue que fazem mal ao organismo, retirar excessos de líquidos e equilibrar a pressão arterial, produzir os hormônios que protegem os ossos e participam da produção de glóbulos vermelhos, que evitam a anemia”, esclarece a médica.
 
Estima-se, de acordo com a SBN, que apenas 0,001% dos acometidos por alguma insuficiência descobrem a tempo de iniciar um tratamento com diálise – feita na etapa mais avançada da doença renal – e/ou fazer um transplante. Um senso realizado pela Sociedade mostrou que, de 2005 a 2021, o número de pacientes em diálise no Brasil mais que dobrou, passando de 65 mil para 144 mil.
 
“Estamos numa constante luta para conscientizar as pessoas, os médicos em geral, e os governos da importância da saúde renal. No momento, com o aumento do envelhecimento da população e do sedentarismo, má alimentação e doenças crônicas como o diabetes e hipertensão arterial, existe um temor em faltar tratamento a todos os que precisarem”, disse a profissional.
 
Segundo a médica, é possível tentar retardar o envelhecimento natural dos rins com atitudes simples. Alimentar-se adequadamente, ingerindo alimentos que contenham pouco sal, açúcar e gorduras, beber líquidos na medida certa, jamais tomar medicamentos, como os anti-inflamatórios ou anabolizantes sem o devido acompanhamento médico, e evitar o álcool e o cigarro são alguns comportamentos cruciais para manter a saúde dos rins o mais prolongada possível.
 
“E como a pressão alta também é uma das principais causadoras dos problemas renais, recomendamos a prática regular de exercícios físicos e atividades de lazer, que vão auxiliar a manter o peso adequado e evitar o estresse da vida moderna. Evitar o diabetes ou controlar rigorosamente a doença também são primordiais”, acrescenta.

EXAMES Está evidente que todos devem se manter atentos à saúde dos rins. Entretanto, algumas pessoas precisam fazer os exames que indicam se o órgão está cumprindo sua função corretamente com mais frequência. Barbosa ressalta que esse grupo de pessoas inclui os portadores de diabetes, hipertensão arterial, idosos, obesos, cardíacos, pessoas com doença renal crônica na família e fumantes.
 
“As pessoas que fazem uso de agentes nefrotóxicos, como o iodo, presente no contraste de exames, e que estão ingerindo medicamentos também devem receber cuidados especiais, como aumentar a ingestão de líquidos. Se ao menos as pessoas que têm algum risco controlassem a doença corretamente e seguissem todas as recomendações médicas, já teríamos muito menos doentes renais e óbitos precoces também”, completa.
 
Ela recomenda que os médicos procurem conhecer a saúde renal dos pacientes para prescrever a dose individualizada de remédios e até mesmo evitar passar vários fármacos diferentes ao mesmo tempo, pois isso pode prejudicar ainda mais o órgão. Para ela, os profissionais da saúde devem analisar fatores de risco como idade, sexo, a presença de doenças crônicas, incluindo a doença renal prévia, doenças cardiovasculares, hepáticas, intestinais, desidratação e doenças metabólicas, como o diabetes, para prescrever medicamentos.
 
“Feito o diagnóstico, é importante o acompanhamento com o nefrologista – o médico especialista em doenças renais. E o tratamento a ser definido depende de uma série de fatores, inclusive da doença de base que acometeu os rins. Nós lutamos para que as pessoas se previnam, sobretudo em cidades do interior, porque a doença atinge muito as populações mais pobres e nem sempre elas podem contar com o SUS para conseguir o tratamento”, conclui Lecticia Barbosa.

* Estagiária sob supervisão da 
editora Teresa Caram
 
 
FIQUE DE OLHO

Sintomas 

 Alguns sinais podem indicar a presença de um problema renal. São eles: urinar mais de duas vezes à noite ou urinar pouco, cor da urina escura, presença de espuma e ou de sangue na urina, inchaço nos olhos, tornozelos e pés, principalmente pela manhã, fraqueza, perda do apetite, falta de ar, aumento da pressão arterial, náuseas e vômitos.

Tratamentos 

 Na diálise convencional, o sangue do paciente é filtrado fora do corpo, numa máquina, de duas a quatro horas seguidas, entre três e seis vezes por semana. Outro tipo de diálise, que vem crescendo no Brasil, é a Hemodiafiltração online e filtra as toxinas maiores. A modalidade entrou no rol da Agência Nacional de Saúde (ANS) há um ano e vem trazendo diversas melhorias de saúde para os usuários, sobretudo, crianças, cardíacos graves e pacientes com dificuldade de controlar fósforo e potássio na hemodiálise.Outra opção de terapia é a diálise peritoneal, na qual o paciente tem o sangue filtrado dentro do próprio corpo ou o transplante, no qual o paciente recebe um rim doado de alguém vivo ou que tenha sofrido uma morte cerebral. 
 
aposentado
O aposentado Geraldo Mangela Mota Coelho tinha 71 anos quando precisou fazer hemodiálise (foto: Danthi Comunicação/Divulgação)
 

 
Conheça a história de pacientes renais  

 
A coordenadora de call center Laiana Arcoverde, de 40 anos, natural de São Paulo, descobriu a doença renal após diversas crises que a deixaram extremamente estressada. Ela conta que a primeira vez que soube da sua creatina alta foi após passar por uma depressão depois de perder o marido e, três meses depois, o pai. Contudo, o resultado dos exames não foi suficiente para que Laiana buscasse ajuda profissional.
 
“Uns tempos depois, no início da pandemia de Covid, fiquei muito sobrecarregada no trabalho, com vários colegas afastados, e tive crise de hipertensão. Na família, havia diversos hipertensos. Aí vieram os inchaços, e mesmo assim demorei a procurar o médico. Foi quando descobri que meus rins estavam à beira da falência, totalmente reduzido, e que eu precisava fazer a diálise. Foi um impacto muito grande na minha vida. Espero um dia ao menos conseguir fazer um transplante”, revela.
Já o mineiro aposentado Geraldo Mangela Mota Coelho tinha 71 anos quando de repente sofreu uma crise de náuseas e vômitos. Um tempo antes, ele havia descoberto o diabetes. 
 
“Ao saber que teria que fazer a hemodiálise me senti derrotado, mas logo depois entendi que seria o tratamento que me daria mais dias de vida que poderiam me restar”, conta.
 
“Iniciei uma nova e perfeita fase de vida, com muito apoio. Eu temia agulhas, o maior suplício era imaginar aqueles procedimentos quase diários. Não foi fácil, para mim, aceitar aquela nova realidade, de uma rotina e de uma dependência que para mim eram inimagináveis, mas me convenci de que era urgente e necessário que eu com elas me conformasse e me adaptasse. Hoje, essa dorzinha já se transformou como um momento sagrado, quase que agradável, que me faz pensar em amor.” 


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