Entre 2010 e 2019, cerca de 15 mil pessoas morreram em decorrência de câncer colorretal em Minas Gerais, segundo dados da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed). Os índices de internação no estado também são altos: 90.462 pacientes foram hospitalizados em razão da doença entre 2011 e 2020, e isso somente no Sistema Único de Saúde (SUS).
O câncer colorretal, de acordo com a entidade, é a segunda neoplasia que mais mata homens e mulheres no Brasil. E as estimativas não são animadoras. Isso porque o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que até 2022 cerca de 40 mil novos casos sejam registrados por ano.
Nesse cenário, a pandemia de COVID-19 também teve forte impacto no retardo do diagnóstico da doença, o que também interfere no tratamento e cura da doença. É o que aponta a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). Segundo a entidade, cerca 10% dos oncologistas afirmaram que a redução dos pacientes oncológicos foi entre 40% e 60% durante a pandemia, momento que retardou o diagnóstico e o início dos cuidados necessários.
Além disso, os dados apontam que 74% dos médicos oncologistas tiveram pelo menos um paciente que precisou interromper ou adiar o tratamento por mais de um mês no Brasil.
Para Maria Ignez, médica oncologista e pesquisadora na Rede D’Or, o rastreamento é o grande aliado do controle de casos e óbitos pela doença. Isso porque é ele o principal responsável pelo diagnóstico precoce do câncer colorretal, otimizando o tratamento e o prognóstico do paciente. Mas o que isso significa?
“Com o rastreamento, vamos buscar alterações que podem acontecer antes do nascimento do câncer ou em uma fase inicial, antes da pessoa notar os sintomas. Quando aparecem os sintomas, não existe rastreamento, mas sim investigação. Então, é importante o rastreamento com procura nas fezes, endoscopia e colonoscopia em pessoas a partir dos 50 anos de idade”, afirma.
Maria Ignez, no entanto, lembra que algumas entidades de saúde nacional sugerem que o rastreamento comece aos 45 anos, haja vista o aumento da curva de casos em pessoas mais jovens. E, segundo ela, apesar das variedades de exames de rastreamento, a colonoscopia é a mais indicada, uma vez que é responsável pelo diagnóstico de lesões que podem indicar o câncer. Posteriormente, em caso de lesões, a biopsia é feita para constatar o tumor.
Esse rastreamento deve ser realizado de dois em dois anos, dependendo dos resultados apresentados, o que pode reduzir o período de exames de acordo com a indicação médica. Em caso de predisposição genética, o rastreamento deve ser feito anualmente.
Outra medida importante para evitar quadros mais graves de câncer colorretal ou até mesmo o acometimento da doença, segundo a oncologista, é a prevenção. “Tendo em vista que o câncer colorretal tem relações com o estilo de vida, é possível preveni-lo com mudanças nos hábitos alimentares. Evitar carnes processadas e vermelhas, ter uma dieta rica em fibras e manter o peso adequado para a idade e altura, são estratégias para evitar a doença.”
Fazer exercícios físicos, evitar a obesidade e o uso excessivo de cigarro e álcool também são medidas preventivas contra o câncer colorretal.
O QUE É O CÂNCER COLORRETAL?
“O câncer colorretal acomete a região do intestino grosso ou o reto. Ele começa na parte de dentro do intestino, geralmente com cólica e uma verruga bem pequena. Depois, com o acúmulo de alterações, pode-se ter o aparecimento do câncer – tumor maligno que tem potencial para se deslocar para outro órgão”, explica Maria Ignez.
E essa é uma doença silenciosa. Isso porque é muito comum que os primeiros sinais, as alterações intestinais, não sejam valorizados. “Alguém que tinha o intestino preso e ele passa a ser solto ou alguém que tinha um que funcionava todos os dias e passa a funcionar a cada seis dias, por exemplo, é um exemplo. Esse é um sintoma comum. Mas claro que quando isso é recorrente e não algo esporádico.”
Outros sintomas são: perda de peso não motivado, abdômen estufado e sangue nas fezes. Porém, não é sempre e nem todo tipo de tumor que causa ao aparecimento de sangue nas fezes, o que normalmente ocorre já na fase final do câncer. Anemia também pode ser um indício da doença.
Alguns fatores podem chamar a atenção e exigir mais atenção. Um deles é o estilo de vida, que pode indicar risco ao acometimento do organismo pelo câncer colorretal. “Os principais fatores de risco são relacionados à dieta. Além disso, existe uma parte da população que tem a hereditariedade como fator de risco, ou seja, a pessoa herdou uma predisposição a ter o câncer no intestino”, afirma Maria Ignez.
No entanto, a oncologista lembra que muitos quadros de câncer colorretal são considerados como esporádicos.
TRATAMENTO
O tratamento para o câncer colorretal varia de acordo com a situação do paciente. “O tumor, quando instalado no intestino, é tratado com cirurgia. Se ele já tiver saído do intestino, tem que haver uma avaliação pelo oncologista para entender se ainda precisa do tratamento cirúrgico ou se vai iniciar com quimioterapia. É muito individualizado. Já nos tumores do reto, mesmo com a individualização, o mais indicado costuma ser a radioterapia.”
Caso o paciente não possa ser submetido à cirurgia, trata-se o tumor com quimioterapia de forma intermitente.
CURADO E COM ESPERANÇAS
O vendedor Silvio José Gonçalves de Sousa, de 56 anos, sentiu na pele a ausência de um rastreamento. Ele, que não tinha o hábito de realizar exames de reconhecimento de possíveis lesões colorretais, foi diagnóstico com o câncer em fevereiro de 2014.
“Na época, minha esposa observou que havia no cesto de lixo um papel sujo de sangue. Ela imediatamente marcou uma consulta com urgência. Após exames, foi identificado o câncer colorretal. Fiquei desesperado. Foi a pior sensação possível. Fiz uma cirurgia de urgência e em seguida tratamentos de quimioterapia. Depois, realizei mais 10 cirurgias e segui com tratamentos quimioterápicos, que me deixaram bem debilitado”, conta.
Hoje, Silvio relata que continua em tratamento quimioterápico e com dois tumores pequenos que migraram para o fígado. Mas, curado do câncer colorretal, ele afirma que sua força sempre esteve em sua esposa, que nunca o abandonou e sempre esteve ao seu lado, e também em Deus.
“Alcancei a cura no colorretal com tratamentos, muita fé em Deus e pensamentos positivos e mudança de hábito alimentar. Essa foi a chave para a minha melhora, administrando melhor o tratamento, com o fortalecimento da minha imunidade. Percebi o quanto era importante manter os bons pensamentos focados na cura. Hoje, posso dizer que já me sinto curado e isso me dá forças para continuar lutando”, afirma esperançoso.
MARÇO AZUL MARINHO
O mês de março é destinado ao combate do câncer colorretal. A campanha denominada como Março Azul Marinho tem o intuito de informar e educar as pessoas sobre a importância de prevenir a doença. Além disso, ressalta-se a relevância do diagnóstico precoce para o tratamento e possível cura da patologia.
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram