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Estado de Minas

Uso prolongado de bebidas alcoólicas pode trazer sérias consequências a longo prazo

Cerca de 120 mil jovens entre 12 e 17 anos têm algum tipo de relação com o álcool. Efeitos afetam negativamente corpo e mente


08/09/2019 04:00 - atualizado 06/09/2019 19:42
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Mulher pegando um copo de cerveja
Muitos jovens buscam na bebida uma forma de se socializar ou então de perder a timidez (foto: Marcos Santos//USP/Imagens/Divulgação)




A ingestão de álcool vem muito de padrões culturais. Como mostrou a pesquisa divulgada pela Fiocruz, mais de 100 milhões de brasileiros consumiram álcool uma vez na vida, sendo que a idade média do início do consumo foi de 15,7 anos entre os homens e 17,1 anos entre as mulheres. Apesar dos prazeres momentâneos, o álcool, assim como as demais drogas, atua negativamente no organismo e é um potente propensor, se usado de forma excessiva, para o surgimento de diversas doenças, como as cardiovasculares, diabetes, obesidade e transtornos psicológicos, como a dependência.

Certas características dessa juventude podem potencializar esse fato, como a busca por autonomia, identidade, curiosidade ou necessidade de experimentar novas emoções, pressão de grupos ou convívio familiar. Para Regina Mendonça, médica clínica do Hospital Madre Teresa, os principais riscos dessa situação com os jovens estão relacionados com o contato do organismo por tempo prolongado com o álcool. “Com o início precoce à ingestão de bebidas alcoólicas, a possibilidade de uma ingestão acima do tolerado é enorme, trazendo consequências, muitas vezes irreversíveis, e aumentando o risco de dependência”, pontua.

Segundo os pesquisadores, 119 mil jovens entre 12 e 17 anos têm algum tipo de vício em álcool e os efeitos da substância no jovem são piores a longo prazo. Outro estudo divulgado em 2018, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mostra que 13,5% das mortes de pessoas na faixa dos 20 anos tiveram relação com o excesso de bebidas alcoólicas. “Como o organismo ingere álcool por um período mais longo, existe maior risco da ocorrência de dependência e de suas consequências, como insuficiência hepática ou cirrose, secundárias ao álcool”, frisa a médica.

Com o próprio corpo e também personalidade em formação, jovens são mais suscetíveis aos efeitos do álcool no organismo. Esse ultrapasse da capacidade permitida pode levar ao coma alcoólico, ao risco de arritmias e insuficiência cardíaca, em diferentes graus. “Os efeitos no organismo de homens e mulheres é bem parecido, o que muda é a quantidade necessária para que esses efeitos ocorram. Em geral, homens necessitam de um consumo maior para que ocorra esses efeitos”, pontua Regina Mendonça.

EXCESSO 

Lucas Lanna, de 22 anos, teve seu primeiro 'porre' aos 12. Segundo ele, estava em uma festa de família e entrou na onda de sua prima, mais velha que ele, e teve seu primeiro contato. “Passei muito mal nesse dia. Afinal, nunca tinha bebido antes”, comenta. O jovem voltou a beber aos 16, em festas a que ia com seus amigos, mas de forma esporádica. “Na faculdade, a situação começou a piorar. Enchia a cara mesmo. Em 2016, foi a pior época para mim. Cheguei a apagar na rua e houve situações em que meus amigos tiveram que me levar carregado pra casa”, relembra.

Apesar das perdas de controle com a bebida, o jovem conta que isso nunca prejudicou sua vida acadêmica, a carreira profissional e nem deixava de ir nos compromissos. “No fim de 2017, fui diagnosticado com depressão e procurei ajuda. Com isso, passei a me controlar mais, o que melhorou muito a minha vida. Não vejo mais a necessidade de fugir da realidade e tenho me controlado”, conta Lucas. “Quando se é novo, não temos consciência dos nossos limites e há aquela falsa sensação de bem-estar quando se bebe”, reforça.

Ângela Mathylde afirma que a juventude, em si, é a fase mais difícil do ser humano e, muitas vezes, passamos por essa fase imaturos, tanto nas questões sociais quanto neuroquímicas, cognitivas, psicológicas. “A orientação é sempre o melhor caminho. É bom mostrar aos jovens que o consumo de álcool em excesso é prejudicial, que deve ser feito de forma consciente”, explica.

FAMÍLIA 

Bebidas, sexo e drogas ainda são considerados tabu em muitas famílias. Além disso, há aquela velha incógnita: “Se proibir meu filho, ele vai encontar na rua”. “A proibição causa curiosidade e a possibilidade do consumo fora de casa ('escondido') é maior. A família deve sempre ser um ponto de apoio para a criança/adolescente, para que, se ele vier a consumir bebida alcoólica, que esse consumo seja realizado de forma consciente e com responsabilidade”, comenta a médica Regina Mendonça. Em outra realidade, há famílias em que o álcool é facilmente difundido, seja em fins de semana ou em festas. “A criança/adolescente que cresce vendo o consumo de álcool como um hábito normal, do cotidiano, pode ter uma tendência maior ao consumo de álcool”, pondera

Ângela Mathylde salienta que o assunto deve ser trabalhado em todos os âmbitos – na escola, em casa, no social, para trazer informação para esse jovem. “A questão não é proibir, é educar o filho. Ao proibir, muitas vezes, os filhos que têm dificuldades disruptivas, ou seja, enfrentam leis e regras dos pais, vão à procura do contrário. Se o pai fala ‘sim’ ele fala ‘não’, se o pai fala ‘não’ ele fala ‘sim’. A questão é educar, e educar é conhecimento”, conclui.



Angela Mathylde, pedagoga e psicanalista, diz que a orientação é sempre o melhor caminho
Angela Mathylde, pedagoga e psicanalista, diz que a orientação é sempre o melhor caminho (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)


Angela Mathylde, 
pedagoga e psicanalista


O QUE DIZ O ECA?

 
Proibida a venda para menores

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca) proíbe expressamente a venda de bebidas alcoólicas a criança ou ao adolescente menor de 18 anos (artigo 81, inciso II), tendo, inclusive, criminalizado tal conduta, estabelecendo pena de detenção de dois a quatro anos e multa a quem “vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar de qualquer forma a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida” (artigo 243). Além disso, ele assegura que revistas e publicações destinadas ao público infantojuvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas. (Fonte: Ministério Público).
 
 
 
JOVENS E O ÁLCOOL
 
Izabele Miranda
de 20 anos

“Comecei a beber com 15/16 anos, na esportiva mesmo, porque todos bebiam. Então, precisava ter um gosto por isso também. Uma vez bebi muito, tive uma crise de ansiedade e minha glicose foi ao chão. Hoje, consumo somente quando tenho vontade.”


Mateus Henrique do Couto
de 21 anos

"Não acho que o ato de beber 
seja escape pra mim, mas encontrar os amigos pra um 
bom papo é, sim... E isso acaba levando a beber. Tenho 
muitos vícios, tipo doces ou 
Coca-Cola, e, fazendo a comparação, controlo 
demais o álcool.”




Brisa Soares
de 21 anos
Brisa Soares, de 21 anos, diz que tem controle e não bebe com frequência
Brisa Soares, de 21 anos, diz que tem controle e não bebe com frequência (foto: Arquivo pessoal)

"Não consigo avaliar, mas às vezes me pergunto por que bebo. Acho algumas bebidas gostosas, mas não sei definir. Depende do humor com que estiver no momento. Se não quero beber, não bebo. Não consumo com frequência, acho que isso me faz ter esse controle.”
 


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