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Estado de Minas Márcio Fagundes Oliveira

Democracia custa caro

''Um fenômeno de hibridismo político intoxicou parte da intelectualidade brasileira, esquecida da missão de problematizar a realidade''


30/09/2023 04:00
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Márcio Fagundes Oliveira

São dois os processos políticos em andamento no país. O assunto retorce o nariz de muitos. Paciência, não tem como fugir à sua inexorabilidade. As próximas eleições serão municipais e compulsórias. Se facultativas, melhor. O Brasil, porém, recusa-se a enfrentar o tema, adotado por uma maioria de nações democráticas. Direito e obrigatoriedade não se confundem. De um lado, a política tradicional, cerzida com partidos, correligionários, aliados e cabos eleitorais, mais irritantes adversários. Eles estimulam sorrisos na vitória e abraços poucos na derrota. De outro, o pessoal antenado na contemporaneidade.

Craques da linguagem instrumental tecnológica das redes sociais. Linhas de atuação díspares de um receituário inacabado. O aflitivo dragão da modernidade digital frente aos antiquados analógicos. Se antes sujeitos, hoje todos objetos. E, democracia, como se sabe, custa caro. Essas atividades políticas se assentam na frágil representação da democracia liberal. As estratégias conceituais, submetidas ao senso comum, se rendem à concepção pragmática. É difícil fazer o fácil na política: conquistar votos.

Candidatos em geração espontânea, falsamente, surgem do nada. Frutificam na frondosa árvore da internet, enxertados por cativos de celular, sem intermediários. Dizem aos eleitores o que estes querem ouvir. Em nenhum lugar, mas em todos os lugares. Ao sufragista caberá a palavra final. Ser do contra é princípio cidadão, assim como ser a favor. Os prefixos anti e pró têm duelo agendado para breve. O meio termo inexiste, ofuscado pela complexidade da realidade global. As consciências ingênuas se digladiam em debates sobre estado mínimo, mudança climática, Guerra da Ucrânia, pinturas rupestres do Piauí e sucessos de Marília Mendonça. Divergências de toda ordem à parte é preciso observar bem o bem.

MODISMO


O mundo do saber e do conhecimento, em várias manifestações culturais, tem abusado da palavra "spoiler", precedida do verbo “dar”. Anglicismo abestalhado, que revira Ariano Suassuna no túmulo. Traduz-se por “estragar”. Serve ao desenlace ou desfecho de um livro, peça teatral ou filme. Quem incita o público com tal expressão se veste de falsa sapiência. Imagina poupar a audiência adulta de informação antecipatória e conclusiva.  Esse papo chato de "spoiler" é chavão comercial.

NEUTRALIDADE

Um fenômeno de hibridismo político intoxicou parte da intelectualidade brasileira, esquecida da missão de problematizar a realidade, esperançosa na venda de livros e convites para palestras. Poucos tomam partido no atual cenário polarizado. Quadros de rica formação profissional se apresentam ao público em aulas magnas. Um deleite aos neófitos. Entretanto, o país não se insere no modo nação no discurso de cabeças brilhantes. Desconhecer o passado por conveniência então quase virou norma. Recente palestra em BH, sobre "Psicanálise e Literatura", especialistas em Freud e Lacan omitiram, por exemplo, a existência de Hélio Pellegrino, como se a história começasse a partir deles. Ah! que falta fazem Antônio Cândido, Darcy Ribeiro, Celso Furtado...

COFRINHO

O papel-moeda desaparece aos poucos em transações comerciais por causa de avanços tecnológicos e insegurança do portador. A manipulação de notas é gestual de dias contados em todo o mundo com a evolução dos celulares e da internet. Ninguém toma cafezinho com gerente bancário. A moeda de um centavo sumiu do mercado. Os preços dos produtos da cesta básica são fracionados de propósito. A bala Chita não serve mais de troco, apenas para tirar obturação. O comércio de varejo sugere doações na hora da devolução do dinheiro, constrangendo o freguês. A causa é justa. Atende entidades beneficentes adeptas de políticas públicas na área de saúde. Contudo, há que se publicar a arrecadação mensal em letras garrafais na entrada do estabelecimento com a mesma cordialidade.



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