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Estado de Minas ATAQUE AOS TRÊS PODERES

Políticos mineiros apoiaram atos terroristas em Brasília

Vereador, ex-secretário e ex-candidatos a prefeito no estado engrossaram o coro dos golpistas que provocaram terror


10/01/2023 04:00 - atualizado 10/01/2023 21:00

O Congresso, o Palácio do Planalto e o prédio do STF foram invadidos e vandalizados por apoiadores de Bolsonaro
O Congresso, o Palácio do Planalto e o prédio do STF foram invadidos e vandalizados por apoiadores de Bolsonaro. Políticos mineiros também participaram da tentativa de golpe fracassada, que ganhou repercussão em todo o mundo (foto: EVARISTO SA / AFP)

Políticos mineiros participaram das manifestações golpistas em Brasília, que culminaram na invasão e na depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). Para pelo menos um deles, o vereador de Betim Gilson da Autoescola (Cidadania), essa defesa de atos antidemocráticos pode render problemas para o seu mandato. Ontem, o presidente da Câmara Municipal, Léo Contador (União Brasil), encaminhou o caso à Comissão de Ética, que decidirá se abre um processo contra o parlamentar. Gilson da Autoescola não só caminhou ao lado dos golpistas na Esplanada, como registrou sua participação no movimento e postou nas redes sociais.

Depois das postagens, feitas na tarde de domingo, o vereador voltou às redes à noite para tentar explicar que tinha ido a Brasília esperando um ato pacífico e democrático. O parlamentar repudiou as ações violentas perpetradas pelos que protestavam na capital federal. “Quero externar minha indignação com os atos de violência e depredação ocorridos em Brasília no dia de hoje. Saí da minha casa na companhia dos meus dois filhos na expectativa de participar de um ato pacífico e democrático. Mas nada disso aconteceu. Não aprovo e nem participo de nenhuma atitude contra a democracia. O protesto é legítimo e democrático, quebradeira e violência, não”, disse.

Outro que também foi a Brasília participar dos atos golpistas é o ex-candidato a prefeito de Ouro Preto, o professor aposentado da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Antonio Clésio Ferreira. Em vídeo gravado na manhã de domingo, ele mostra como foi montado o acampamento de concentração e diz que “a ideia é ter pessoas suficientes e irmos para a Praça dos Três Poderes e fechar e cercar os prédios dos três Poderes”. O integrante da invasão terrorista foi candidato a prefeito de Ouro Preto nas eleições de 2020 pelo partido Democrata Cristão (DC). Com o nome de urna Professor Clesio, o candidato recebeu 806 votos, cerca de 2% dos votos válidos e hoje se intitula membro do grupo Direita Ouro Preto.

Ex-secretário Antidrogas e de Direitos Humanos de Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, Luís Gonzaga Militão (PSDB) é outro político mineiro que estava entre os manifestantes que invadiram as sedes dos três Poderes, em Brasília. Um vídeo nas redes sociais mostra o momento em que ele sobe a rampa do Congresso Nacional.

“O Brasil sobe a rampa do Congresso. O povo brasileiro assume o primeiro item da nossa Constituição, o poder emana do povo. Viva a liberdade, viva os brasileiros. Venceremos”, afirmou na gravação. Militão ocupou a secretaria da Prefeitura de Divinópolis entre 2013 e 2014. Ele também passou por outras funções durante a gestão do então prefeito Vladimir Azevedo (PSDB).

O presidente do diretório local, o vereador Eduardo Print Jr., disse que analisa uma possível expulsão do tucano. “Estou aguardando a autorização da Executiva Estadual, porque o Militão tem uma história com o PSDB, para saber se haverá alguma recomendação no sentido de 'não vamos aceitar atos como este' ou se deveremos seguir o estatuto”, disse Print Jr. Militão foi candidato a prefeito de Divinópolis nas eleições de 2016, mas terminou em terceiro lugar.

Deputado mostrou vídeos da invasão a Brasília 

O deputado estadual Sargento Rodrigues (PL) diz que não foi a Brasília participar das manifestações golpistas, mas ainda no domingo ele compartilhou vídeos mostrando a invasão às sedes dos três Poderes. Aliado e correligionário do ex-presidente Jair Bolsonaro, tentou justificar a ação dos terroristas.

"Como policial militar, sempre defendi e defenderei a manutenção da ordem pública, mas a ordem pública deve ser exemplo das maiores autoridades. No entanto, vem subvertendo a ordem e a própria Constituição", declarou em uma das postagens. Horas depois, ele fez uma nova publicação. "Deixei claro que sempre defendi e defenderei a manutenção da ordem pública, não compactuando com vandalismos e agressões", ponderou.

O deputado estadual também atacou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a imprensa e o Poder Judiciário. "A revolta popular foi provocada pelas maiores 'autoridades' de nosso país. Estão ignorando os apelos e os gritos por justiça justa".

O vereador de BH e deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL-MG) foi outro aliado de Bolsonaro que comentou os atos terroristas na sede dos Poderes. Disse ser contra atos de vandalismo e depredação do patrimônio público, para em seguida disparar críticas à esquerda, alegando que eles promovem movimentos violentos. Nikolas também ressaltou no vídeo que nunca cometeu um ato de vandalismo e que por isso poderia criticar os extremistas. A declaração foi dada em uma transmissão ao vivo e depois compartilhada nas outras redes sociais, na noite desse domingo.  "Eu tenho legitimidade para isso. Agora, a esquerda sendo contra isso. Que moral vocês têm? Afinal de contas, não é Carlos Marighella que é o heroi de vocês, o terrorista?", disparou Nikolas.

O vereador ainda criticou o posicionamento do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que repudiou os atos de vandalismo. Nikolas também disse que acha incoerente o deputado federal eleito Guilherme Boulos (Psol-SP) ter sido chamado por uma emissora de TV para comentar o ato terrorista. "Manifestações precisam ser pacíficas, ordeiras e assim que eu as defendo, mas também devem ser respeitadas e não tratadas com deboche ou 'perdeu mané'. Então aqui, repassando: eu tenho moral pra poder falar isso. Eu tenho moral, você, de esquerda, não, valeu", disse Nikolas. 

Reitor também apoiou ataques

O reitor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Janir Alves Soares, publicou, no Instagram, uma série de conteúdos simpáticos à ação de terroristas que depredaram prédios públicos em Brasília (DF), no domingo. Ontem, a deputada estadual mineira Beatriz Cerqueira (PT) pediu ao ministro da Educação, Camilo Santana, a exoneração do reitor. No documento, obtido pelo Estado de Minas e enviado ao governo federal, a parlamentar aponta "conduta criminosa" por parte de Soares. Presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), ela diz que o professor "atenta contra o Estado de direito e as suas instituições democráticas".

Nomeado reitor-interventor da universidade pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Soares afirma, em um dos vídeos postados na página, que a tomada da sede do Congresso Nacional ocorreu de "maneira pacífica", a despeito dos prejuízos materiais retratados em fotos e vídeos. O perfil de Janir no Instagram mistura fotos de momentos particulares, registros da atuação como reitor e materiais de apoio a Bolsonaro e críticas ao PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No vídeo publicado anteontem, minutos após o início da invasão ao Congresso, ao Palácio do Planalto e à sede do Supremo Tribunal Federal (STF), ele celebra a ação golpista, que terminou em vandalização do patrimônio público.

"Há poucos minutos, o povo assumiu o comando do Congresso Nacional de uma maneira pacífica. Hoje, nós tivemos a sensibilização, inclusive das pessoas responsáveis pela guarda do Congresso, pois entenderam que esta Casa é do povo – e o povo quer o respeito às leis e a manutenção do Estado e da ordem", festeja.

Na gravação, Janir lembra o bloqueio da BR-367, em Diamantina, no Jequitinhonha. A paralisação do fluxo de veículos na rodovia ocorreu no início de novembro passado, dias após a vitória de Lula sobre Bolsonaro ser proclamada.

"Este é o Brasil que nós queremos deixar para os nossos filhos e netos. Me orgulho de ser brasileiro e lutar por esta pátria. Parabéns a todos que não desistiram, ao longo de 68 dias de luta, de trabalho e de defender as cores da nossa bandeira", pontuou, antes de recorrer ao lema Deus, pátria, família e liberdade, utilizado por Bolsonaro ao longo da campanha eleitoral do ano passado. Em outra postagem, ele exime pessoas que chama de "patriotas" da responsabilidade pelos danos causados aos edifícios invadidos. Sem provas, o reitor atribui as depredações a "infiltrados".

No ofício em que pede a exoneração de Janir Alves Soares, Beatriz Cerqueira chama a postura do docente de "atentado à democracia". Além de reitor, ele é professor-titular da UFVJM, que tem unidades em Diamantina, Teófilo Otoni, Unaí e Janaúba.  Doutor Jean Freire, outro deputado estadual do PT, também quer o afastamento do reitor. Ele pediu à Mesa Diretora da Assembleia o envio, a Camilo Santana, de um requerimento sugerindo a saída do dirigente universitário.

As postagens de Janir Alves Soares irritaram, também, representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE). "Essa é uma postura inadmissível de um funcionário do Estado, principalmente por exercer o cargo de reitor de uma universidade pública, mesmo que seja um interventor", queixou-se Diego Carlos Ferreira, mineiro que ocupa a Diretoria de Universidades Públicas da entidade estudantil.

Em e-mail enviado à reportagem, Janir apontou, sem provas, a existência de fraude no resultado do pleito do ano passado e reiterou a acusação a respeito da existência de "infiltrados" responsáveis pelo quebra-quebra visto na capital federal e que apoia “a pauta de um grupo de cidadãos, pais de família, pessoas que trabalham, produzem, pagam impostos, que são ordeiras e defendem a vida e a liberdade com responsabilidade. Essas pessoas são definidas como patriotas. Estamos indignados com a omissão do Congresso Nacional e com o ativismo político do Judiciário perante as eleições de outubro de 2022”, afirmou ele.

Sobre o pedido de afastamento feito por Beatriz Cerqueira, o docente disse ter "consciência" dos direitos que a Constituição Federal garante aos cidadãos. "Toda acusação deve obedecer ao devido processo legal. Digo isso se, de fato, ainda estivermos no Estado democrático e de direito", defendeu. 


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