Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

Em discurso na UFMG, infectologista critica governo federal e negacionismo

O infectologista Unaí Tupinambás criticou a condução do governo federal no combate à pandemia de COVID-19, a disseminação de fake news sobre a doença e o negacionismo de parte da população. As críticas aconteceram durante discurso para formandos do curso de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), nessa quarta-feira (22/12).





 

 


“Se não fosse o SUS e as universidades, a tragédia seria ainda pior”, disse em um trecho do discurso.  

Tupinambás foi um dos professores homenageados na solenidade. Ele também é membro do Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da prefeitura de Belo Horizonte. 

O infectologista começa agradecendo pela homenagem, que estende a todos os profissionais que trabalharam no enfrentamento à pandemia.  

“Recebo esta homenagem como uma homenagem a todos nós professores, pesquisadores e trabalhadores do SUS que não medimos esforços para enfrentar a pandemia COVID-19. 
Coube a vocês se formarem no meio da maior crise sanitária mundial dos últimos 100 anos.”

Ele lembra que apesar dos desafios, os alunos tiveram uma oportunidade de aprendizado única.

"Vocês fizeram parte da construção do conhecimento, vivenciando a importância, os limites da ciência e seu impacto na assistência. Andaram juntos com seus colegas e professores na beira do abismo.”





Em seguida, Tupinambás critica o governo federal e ressalta a importância das universidades, do Sistema Único de Saúde e de instituições como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“Se por um lado o governo federal não deu as respostas necessárias para o enfrentamento da pandemia – ficou muito claro na CPI da COVID - as universidades públicas, agora aqui representada pela nossa querida UFMG, o SUS e os Institutos de Pesquisa (destaco o papel da Fundação Oswaldo Cruz) foram e estão sendo fundamentais nestes tempos.”

Ele afirma que sem elas, a tragédia seria ainda pior.  

“Se a tradição do SUS não estivesse constituída em nosso país e em grau tão forte em nossa cidade, como poderíamos enfrentar uma pandemia tão devastadora e um governo que frequenta cotidianamente o dicionário da barbárie?” 

“Sem esta raiz, na consciência da população e nos serviços públicos, de uma das mais vastas experiências de cobertura vacinal, como seríamos capazes de vencer o negacionismo, como fomos capazes? Sem esta rede de cobertura assistencial estabelecida, como seríamos capazes de dar o mínimo de dignidade ao tratamento dos mais pobres, dos negros, das periferias, dos precarizados no trabalho que são multidão? Sem uma rede pública de informação sanitária, que soube resistir às tentativas mais vis de omissão e fraude nos dados, como poderíamos cumprir esta missão diária e sagrada de oferecer à população um boletim diário de informação científica e orientação de condutas?”, completa.  

Perseguição aos servidores da Anvisa e Conselho Federal de Medicina


Durante a fala, o infectologista destacou ainda a perseguição do presidente Jair Bolsonaro (PL) aos servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que liberaram a aplicação da vacina contra a COVID-19 para crianças. 





“Vimos estarrecidos a perseguição dos servidores da Anvisa incentivada pelo presidente da república, após a aprovação por esta agência da vacina contra COVID-19 em menores de 11 anos! Como se não bastasse enfrentamos os negacionistas e os antivacinas.”

Outra crítica foi feita ao Conselho Federal de Medicina (CFM) que aderiu ao chamado ‘Kit COVID’, medicamentos comprovadamente ineficazes contra o coronavírus. 

“Aqueles que tinham o dever de ser os guardiões da ciência, o Conselho Federal de Medicina (CFM), aderiu de forma acrítica e oportunista ao “Kit COVID” e a tantos outros absurdos incentivados pela presidência da república. Com certeza um dos momentos mais tristes e vergonhosos da história deste conselho.”





Reconhecimento do SUS e desafios 


Tupinambás pontuou também o reconhecimento do trabalho dos profissionais do SUS, durante a pandemia, pela sociedade. 

“Se podemos dizer que tivemos ganhos secundários com esta tragédia foi o reconhecimento que toda a sociedade brasileira adquiriu da importância do SUS e das universidades. O SUS merece e precisa de mais recursos em 2022.”

Ele ressaltou ainda os desafios que os profissionais de saúde devem enfrentar com o fim da pandemia. 

“O cenário pós pandêmico será de grandes desafios. Já estamos enfrentando as sequelas da COVID-19 com grande impacto na assistência, a ruptura das políticas de controle das diversas doenças crônicas degenerativas e endêmicas: arboviroses, sífilis, HIV, IST, tuberculose e das campanhas de vacinação. Portanto, os desafios de vocês serão ainda maiores.”

O infectologista terminou o discurso com uma citação do educador Paulo Freire. 
 
“Quero finalizar com citação de nosso patrono da educação Paulo Freire: “Um dos saberes primeiros, indispensáveis (...) é o saber do futuro como problema e não como inexorabilidade. É o saber da história como possibilidade e não como determinação. O mundo não é. O mundo está sendo.”




 
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie. 
 

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