
O
Correio Braziliense
teve acesso ao dossiê sobre a pesquisa, que chegou a ser exaltada pelo presidente Jair Bolsonaro. Conduzida pelos médicos Rodrigo Esper e Fernando Okawa - respectivamente supervisor e professor do programa de residência da Prevent -, foi realizada em pacientes que apresentaram sintomas gripais, e teve início em março de 2020. Uma mensagem enviada pela direção do plano de saúde ao corpo médico sinalizava para a conjugação dos medicamentos, mas vinha acompanhada de uma observação: "Por favor, não informar o paciente ou familiar sobre a medicação e nem sobre o programa".
A pesquisa, que não tinha a aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), foi realizada sem que os internados soubessem. De acordo com o dossiê, a preocupação de Pedro Batista Junior era "facilitar a manipulação dos resultados da pesquisa para 'comprovar' a eficácia do tratamento". As informações passadas à CPI vieram de médicos e ex-médicos da Prevent.
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta chegou a fazer críticas ao plano pelos atendimentos realizados durante a pandemia. De acordo com o dossiê de posse da comissão de inquérito, "a Prevent Senior aderiria às diretrizes do governo federal e do Ministério da Economia repassadas por novos 'assessores', e o Ministério da Saúde pararia com as críticas e acusações, ainda que fosse necessário trocar o ministro da Saúde".
De acordo com a CPI, a construção dessa estratégia passou pelo chamado "gabinete paralelo da saúde", montado para assessorar Bolsonaro no combate à pandemia. Para supostamente ajudar na divulgação do "kit covid", foram convidados o toxicologista Antony Wong, a imunologista Nise Yamaguchi e o virologista Paolo Zanotto. Na gestão de Eduardo Pazuello, o Ministério da Saúde fez forte defesa do chamado "tratamento precoce" e, inclusive, forças-tarefas foram defendê-lo junto a prefeituras - como aconteceu em Manaus, em que a secretária em gestão da pasta, Mayra Pinheiro (conhecida como Capitã Cloroquina), fez discurso para um grupo de médicos pressionando para que fosse prescrita a combinação que incluía a cloroquina.
No dossiê de posse da CPI, os médicos da Prevent denunciam, também, que foram forçados a trabalhar mesmo infectados com a COVID-19 e que tinham EPIs limitados para atendimentos. Mais: em algumas ocasiões, eram proibidos de usar máscaras de proteção, além de serem forçados a participar de um controle por metas de desempenho de prescrição do "kit COVID".
O que é uma CPI?
As
comissões parlamentares de inquérito
(CPIs) são instrumentos usados por integrantes do Poder Legislativo (vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores) para investigar fato determinado de grande relevância ligado à vida econômica, social ou legal do país, de um estado ou de um município. Embora tenham poderes de Justiça e uma série de prerrogativas, comitês do tipo não podem estabelecer condenações a pessoas.
Leia também: Entenda como funciona uma CPI
O que a CPI da COVID investiga?
Instalada pelo Senado Federal em 27 de abril de 2021, após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF)
, a
CPI da COVID trabalha para apurar possíveis falhas e omissões na atuação do governo federal no combate à pandemia
do novo coronavírus. O repasse de recursos a estados e municípios também foi incluído na CPI e está na mira dos parlamentares.
