Candidato à presidência da Câmara dos Deputados pela segunda vez, o mineiro Fábio Ramalho (MDB) obteve 21 votos no pleito de segunda-feira (01/02). Para ele, a disputa foi marcada por influências externas. “Ficaram duas forças na eleição. O governo jogou muito pesado”, diz ao Estado de Minas.
Além do apoio de Jair Bolsonaro (sem partido) ao vencedor Arthur Lira (PP-AL), o terceiro colocado na corrida pela Mesa Diretora aponta a participação de governadores estaduais em prol de Baleia Rossi (MDB-SP), que terminou na segunda posição. Ainda segundo Ramalho, presidentes de partidos dos dois blocos tentaram persuadir parlamentares em busca de votos.
Ramalho se lançou candidato almejando a “independência do plenário”. Em discurso antes da votação, criticou a postura de líderes partidários no processo eleitoral interno. Segundo ele, a ideia de alguns era conduzir as bancadas como “boiadas”. O problema, assevera, só pode ser resolvido com a distribuição do protagonismo entre o conjunto de deputados.
“O que acontece é: ‘Não vou falar com o deputado. Vou falar com o líder, pois quem resolve o problema é o líder da bancada’. Não fui candidato por questão de vaidade. Foi porque, como estou lá há mais tempo, vejo muita coisa errada — e muita coisa que eu poderia mudar”.
O senhor recebeu 21 votos na eleição interna da Câmara. A quantia estava dentro dos planos traçados quando lançou a candidatura?
Ficaram duas forças na eleição. O governo jogou muito pesado. Os governos estaduais e os presidentes de partidos também estavam quase obrigando os deputados a votar nos candidatos de sua preferência. Houve influência externa muito grande na eleição. Nunca vi igual. (A interferência externa) influenciou. O governo federal tem mais recursos e coisas para oferecer. E, do outro lado, o Baleia (Rossi) teve governadores estaduais, como o (João) Doria, ajudando ele. Governadores do PT e quase todos da oposição estavam ajudando o Baleia. E houve, dos dois lados, os presidentes de partido.
O senhor se lançou candidato dizendo que Rodrigo Maia centralizou as discussões em torno de poucos deputados. Há esse temor quanto a Arthur Lira?
O que acontece na Câmara a cada dia fica pior para os parlamentares. Essa questão é muito ruim para o Parlamento. Existe uma centralização. O próprio poder do presidente é centralizador. Ele (Lira) tem (o perfil centralizador). Todos têm.
Na segunda-feira (01/02), o senhor questionou a dificuldade de falar com ministros e reclamou que líderes estão tentando conduzir os demais deputados como “boiadas”. O que fazer para mudar esse cenário?
Temos que dar respeitabilidade à Casa e poder aos deputados eleitos. O que acontece: ‘Não vou falar com o deputado. Vou falar com o líder, pois quem resolve o problema é o líder da bancada’. Não fui candidato por questão de vaidade. Foi porque, como estou lá há mais tempo, vejo muita coisa errada — e muita coisa que eu poderia mudar. O Parlamento a cada legislatura, não se torna melhor, mas pior.
O senhor teme desgaste na relação com o presidente ao se apresentar como alternativa ao candidato defendido por ele?
Não temo isso. Fui eleito. E, quem foi eleito, tem que ter coragem para tomar posições.