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Estado de Minas ELEIÇÕES 2020

Candidatos se armam de máscara e álcool para caçar votos no interior de Minas

Apelo ao corpo a corpo nas campanhas para prefeito e vereador, apesar dos riscos impostos pelo novo coronavírus, se mantém em pequenos municípios, onde o uso das redes sociais não é a única aposta


04/10/2020 04:00 - atualizado 04/10/2020 12:11

"Numa cidade como Glaucilândia, o candidato tem que visitar as pessoas. Uso máscara e álcool em gel. Sempre ando sozinho, para evitar aglomerações" Herivelto Alves, candidato a prefeito, que pediu voto na casa do aposentado Antonio Pinheiro (foto: LUIZ RIBEIRO/EM/D.A. PRESS)

A despeito das regras de distanciamento social para evitar a transmissão do novo coronavírus, candidatos de pequenas cidades do interior de Minas Gerais ainda apostam no tradicional corpo a corpo, como visitas aos eleitores, para conquistar votos. Eles até admitem que vão usar as redes sociais e os programas de rádio para, assim, evitar aglomerações, mas não escondem que o velho modelo de fazer campanha é o preferido. O Estado de Minas conversou com candidatos de algumas cidades para saber como eles vão resolver essa difícil 'equação',  tendo de conquistar a distância o voto de um eleitor tão próximo.

Cientistas políticos ouvidos pelo EM destacam a importância das redes sociais na disputa nas cidades do interior do país, mas acreditam que os candidatos não vão abrir mão do tradicional corpo a corpo com o eleitor. O cientista político e professor da UFMG Felipe Nunes diz que atos presenciais continuarão mantidos, mas em menor frequência e com os devidos cuidados. “Vai ser muito difícil substituir a tradicional caminhada, a distribuição de materiais e as reuniões em casa. Esse tipo de campanha, em ambientes controlados, na minha avaliação, vai continuar e será intensificado”, afirma.

Nunes destaca que, provavelmente, não serão mais realizados os comícios e eventos de grandes aglomerações. Na visão do especiallista, as carreatas, em que os participantes ficam distribuídos entre os veículos, são eventos factíveis de ocorrer.

Para Murilo Medeiros, cientista político pela Universidade de Brasília (UnB), independentemente do corpo a corpo com o eleitorado, as redes sociais devem ser palco de intensas batalhas entre os postulantes às prefeituras e às câmaras municipais. “Provavelmente, teremos um cenário de guerra digital nas cidades do interior, com uma campanha individualizada e personificada nas características de cada candidato, visto que o debate nacional não influencia tanto as disputas no interior”, observa.

Além das lives para conquistar votos, os candidatos de municípios do Centro-Oeste de Minas apostam no contato direto com eleitor. Em Itapecerica e São Sebastião do Oeste, os tradicionais comícios, carreatas, presença de cabos eleitorais nas ruas com faixas, distribuição de santinhos e qualquer evento que gere aglomeração estão proibidos pela Justiça Eleitoral. “Fizemos a live da abertura da campanha, que teve participação muito boa. Mas é difícil com pandemia fazer campanha. As pessoas querem a nossa presença nas casas e não temos o alcance da televisão”, diz o prefeito de Itapecerica, Wirley Reis (Podemos), o Têko, candidato à reeleição.

"No interior, existe muito corpo a corpo. Estamos fazendo com máscaras, para não entrar nas residências. Serão visitas rápidas. Não tem como não fazê-las, mas com todos os cuidados" Sirleia Moreira, candidata a prefeita em São Sebastião do Oeste, faz campanha em lives, mas também visita eleitores (foto: ASSESSORIA DE CAMPANHA/DIVULGAÇÃO)
O candidato carrega álcool em gel,  usa máscara de proteção e busca se aliar às redes sociais. Uma alternativa encontrada por quem disputa vaga de vereador na cidade é acompanhar o candidato a prefeito da coligação no corpo a corpo, mantendo o distanciamento social indicado. É o caso do vereador Zezé Mariano (Podemos), que tenta novo mandato.  

Zona Rural


A estratégia de manter visitas a eleitores com regras sanitárias é adotada pela vereadora e candidata a prefeita de São Sebastião do Oeste Sirleia Moreira (PT). “No interior, existe muito corpo a corpo, estamos fazendo com máscaras para não entrar nas residências. Serão visitas rápidas. Não tem como não fazê-las, mas com todos os cuidados”, destacou.

Sem redes sociais, o candidato a vereador João Prata (PTC), de São Sebastião do Oeste, também vai investir nas visitas. Para evitar aglomeração, a ideia é contatar líderes, principalmente, na zona rural. Em Carmo do Cajuru, os candidatos devem apostar no contato com medidas restritivas. “Para visitar fica complicado, então devemos, primeiro, fazer o contato por WhatsApp, telefone, agendar e aí, então, visitar”, diz o candidato a vereador Marcelo Eletricista (Cidadania). 

*Amanda Quintiliano, especial para o EM


Visita com máscara


Diante da proibição de eventos que provoquem aglomeração, a solução é visita de casa em casa, na zona rural e na cidade, para tentar conquistar votos. Essa é a estratégia dos três candidatos a prefeito em Glaucilândia, município de 3.595 habitantes, no Norte de Minas: Marcelo Brant (PDT), Herivelto Alves Luiz (PSD) e Arnaldo Mendes Teixeira (PT). “Com a pandemia, temos uma situação nova do distanciamento social, porém, na cidade pequena, o que vale mais é o corpo a corpo. A rede social não chega a todo mundo”, afirma o produtor rural Marcelo Brant, ex-prefeito por três mandatos e em busca de mais um. “Visito as pessoas, mas com máscara e mantendo distanciamento”, diz.

A reportagem acompanhou Marcelo Brant em visita à casa do agricultor Valdeir Gonçalves, de 45 anos, na localidade de Lagoa do Boi, na zona rural. Na chegada à casa, em vez do antigo aperto de mãos, com ambos usando máscaras, candidato e eleitor  se cumprimentaram apenas com um leve toque de punhos fechados. Valdeir disse que tem evitado sair de casa, com o receio de contaminação. “No início, o povo estava assombrado por causa dessa doença. Agora, a gente está mais acostumado com a situação”, afirma o produtor rural.

O vice-prefeito de Glaucilândia e servidor público Herivelto Alves Luiz, candidato a prefeito com o apoio do chefe do Executivo, Geraldo Martins de Freitas (MDB), afirma que usa as redes sociais para divulgar suas propostas. “Mas, numa cidade como Glaucilândia, o candidato tem que visitar as pessoas”, afirma. Ele disse que visita, em média, cinco casas por dia, na área urbana e na zona rural. “Uso máscara e álcool em gel. Sempre ando sozinho para evitar aglomerações”, afirma Herivelto.

Ele diz que é recebido tranquilamente pela maioria dos eleitores. “Mas, por causa da pandemia, existem pessoas ainda apreensivas que não aceitam as visitas”, ressalta. A reportagem acompanhou a visita de Herivelto à casa do aposentado Antonio Pinheiro. “No passado, a campanha política era mais movimentada. Neste ano, está menor”, compara o aposentado, acrescentando que, por ser do grupo de risco, desde o começo da pandemia evita sair de casa.

Outro concorrente à Prefeitura de Glaucilândia, o empresário Arnaldo Mendes Teixeira (PT), afirma que usa as redes sociais para divulgar sua campanha. Mas não abre mão do corpo a corpo. “Em lugar pequeno, tem aquela condição de todo mundo conhecer todo mundo. As pessoas sempre querem ver o candidato de perto”, diz. Ele disse que faz as visitas domiciliares com os devidos cuidados para evitar a propagação do coronavírus. “Sempre uso máscara e, antes de cada visita, uso o álcool em gel”, explica. A reportagem acompanhou Arnaldo em visita ao pedreiro Maicon Jonas Ferreira. Maicon não quis emitir opinião sobre a campanha, apenas confirmou que no dia da eleição vai sair de casa para votar.


Santinhos em ‘quarentena’ de 48 horas


A campanha eleitoral em Martinho Campos, cidade de cerca de 15 mil habitantes do Centro-Oeste de Minas, vai mesclar redes sociais e o contato direto com os eleitores, mesmo com as restrições de saúde devido à pandemia de COVID-19. O prefeito José Hailton de Freitas (MDB), candidato à reeleição, diz que, além da campanha virtual, distribuirá santinhos, adesivos e também fará corpo a corpo com os eleitores. “Vamos sempre respeitar as normas da Secretaria Municipal de Saúde, evitar grandes aglomerações; não teremos o tradicional comitê nem utilizaremos carros de som; faremos visitas de porta em porta com duas pessoas apenas e visitas a pequenos grupos de maior referência na cidade”, detalha.

A estratégia também será adotada pelos outros dois concorrentes, Dulcelino José Corgozinho (PSD) e Wilson Correa Alves Afonso de Carvalho (Avante). Ambos estão cientes das mudanças publicadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em razão das restrições causadas pela pandemia do novo coronavírus. Comícios e carreatas estão autorizados das 8h às 23h59. “Ainda não definimos se faremos e como faremos os comícios, pois precisamos de um esclarecimento mai- or sobre o que estabelece a legislação eleitoral do município. Dessa forma, acreditamos que as redes sociais serão muito importantes neste período”, afirmou Corgozinho.

Já Wilson Correa (Avante) afirmou ao EM que sua equipe também fará a distribuição de adesivos e materiais gráficos nas ruas, além da campanha nas redes sociais. “Todas as vezes que recebermos algum material da gráfica, o deixaremos em espaço adequado por 48 horas antes de manuseá-lo. Após esse período, as pessoas que o forem manusear adotarão protocolos de segurança, como o uso de máscaras e a higienização constante das mãos”, reitera.


Caminhadas


Em Carmópolis de Minas, no Centro-Oeste do estado, os candidatos sempre fizeram campanha de porta a porta e os comícios, quase diários, eram estratégicos para entusiasmar a militância, servindo também de termômetro para os eleitores indecisos. Por causa da pandemia, os candidatos a prefeito e vereador dizem que vão priorizar lives, vídeos, postagens e mensagens nas redes sociais. Mas não vão esquecer o contato direto com os 14.053 eleitores. O coordenador de campanha de uma das coligações majoritárias, Ledson Morais, conta que os candidatos a prefeito e vice que assessora optaram por caminhadas, mas mantendo distanciamento dos eleitores.

“Os próprios correligionários e militantes nos cobram atos presenciais para demonstrar apoio abertamente. Mesmo com o coronavírus, sentimos que os eleitores, principalmente os da zona rural, querem oportunidade para encontrar e conversar com os candidatos”, afirma Morais. Os comícios ainda não estão na agenda das campanhas. Mas as carreatas devem ocorrer.

Candidatos a vereador apostam em visitas a familiares e amigos próximos para reunir apoio e garantir os votos a uma das 11 vagas na Câmara Municipal. Eles alegam que os santinhos são necessários porque parte da população não tem acesso às redes sociais e a cobrança do material em papel vem dos próprios eleitores. A propaganda gratuita na estação de rádio local começa nesta sexta-feira e também é considerada fundamental pelos candidatos para alcançar os eleitores que estão em isolamento social.

*Estagiários sob supervisão do subeditor Paulo Nogueira


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