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Estado de Minas COVID-19

Como Trump, Bolsonaro minimiza riscos de surto

Repetindo a tese do líder norte-americano, presidente diz, nos EUA, que há ''fantasia'' no noticiário sobre epidemia. Ele voltou a negar mudança no imposto sobre a gasolina


postado em 11/03/2020 04:00 / atualizado em 10/03/2020 22:26

À imprensa e a empresários com quem se reuniu, Bolsonaro disse que os efeitos da contaminação pelo vírus na economia estão superdimensionados(foto: Zak Bennett/AFP)
À imprensa e a empresários com quem se reuniu, Bolsonaro disse que os efeitos da contaminação pelo vírus na economia estão superdimensionados (foto: Zak Bennett/AFP)
Miami – Um dia depois de os mercados financeiros ao redor do mundo registrarem perdas históricas, o presidente Jair Bolsonaro negou que haja uma crise e culpou a imprensa pela situação. Durante evento com empresários, ele minimizou o risco do novo coronavírus, que já matou mais de 4 mil pessoas em 100 países e derrubou as bolsas de valores, ao avaliar que o poder destrutivo da nova epidemia foi “superdimensionado”. A queda nas bolsas “tem a ver com os preços do petróleo” e com “a questão do coronavírus”, declarou Bolsonaro para cerca de 200 brasileiros.

“Muito do que tem ali é mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propaga”, disse Bolsonaro. Na segunda-feira, ele já havia dito que a disseminação da doença estava “superdimensionada”. O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, também tem minimizado o coronavírus. Segundo fontes presentes ao jantar entre Trump e Bolsonaro em Mar-a-Lago, no sábado, os dois líderes conversaram sobre a disseminação do vírus e estimaram que até o fim de abril haverá uma melhora na situação. Em Genebra, o diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, já havia avaliado que a “ameaça de uma pandemia se tornou muito real” agora que o coronavírus “se estendeu a muitos países”.

Para Bolsonaro, “alguns da imprensa conseguiram fazer de uma crise a queda do preço do petróleo (…) É melhor cair 30% do que subir 30% do preço do petróleo. Mas isso não é crise. Obviamente, problemas na bolsa, isso acontece esporadicamente. Como estamos vendo agora há pouco, as bolsas que começam a abrir hoje (ontem) já começam com sinais de recuperação.”

A segunda-feira foi caótica nos mercados financeiros, com a disseminação do coronavírus e a violenta queda nos preços do barril de petróleo, em uma disputa entre a Arábia Saudita, grande produtor, e a Rússia. As ações de empresas negociadas na bolsa de valores brasileira, a B3, tiveram grande prejuízo em um único dia. A B3 teve de suspender os negócios, depois que a queda passou de 10%, e em Nova York também houve interrupção temporária nas negociações.

Ontem, Bolsonaro voltou a negar que o governo possa aumentar o tributo federal sobre combustíveis, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), como forma de compensar uma possível queda no preço da gasolina. “Zero, zero, não existe isso (sobre aumento da Cide). A política que a Petrobras segue é a de preços internacionais, então a gente espera, obviamente, não como presidente, mas como cidadão, que o preço caia nas refinarias e seja repassado ao consumidor na bomba”, afirmou o presidente.

Agenda 


Bolsonaro afirmou que Trump está disposto a “buscar o livre-comércio” com o Brasil. “Discutimos questões pontuais, como é do interesse americano, etanol e carne de porco. Pedi para ele para que nós deixássemos questões pontuais e discutíssemos de forma mais ampla. Ele concordou. Então, nossas assessorias vão começar a discutir livre-comércio mais amplo com EUA”, disse.

Os dois países estão, desde o ano passado, negociando acordos pontuais de liberalização de comércio – o que não envolve negociação sobre tarifas, portanto, não se caracteriza como um acordo de livre-comércio. No jantar, as conversas confirmaram o interesse de formular um pacote de medidas para facilitar negociações entre os dois países.

No encontro que teve com empresários brasileiros, o presidente Bolsonaro sustentou que “os números estão demonstrando que o Brasil começou a arrumar sua economia. Obviamente, os números de hoje (nas bolsas brasileira e de outros países) têm a ver com os preços do petróleo basicamente, que despencou quase 30%, e na questão do coronavírus também, que no meu entender está sendo superdimensionado o poder destruidor desse vírus”, afirmou.

Pânico é disseminado

O mundo hoje tem acordado em alerta devido à epidemia do COVID-19, num estado de atenção que deve vir acompanhado de informações de prevenção, procura de ajuda, tratamentos, entre outras ações. Mas, também é preciso perceber qual a origem desses alertas, já que existe um perigo ainda maior do que a epidemia do coronavírus: a epidemia do pânico.

“Recentemente, devido ao pânico gerado pelo coronavírus, alguns mercados foram saqueados em busca de máscaras e álcool em gel. Hospitais começaram a regular as máscaras, pois alguns indivíduos acabavam por furtá-las, já que estavam em falta nos mercados”, observa o professor, palestrante e doutorando em comunicação Leonardo Torres. Para ele, nesse contexto, é perceptível o estado de temor da população diante do problema, a tal ponto que as pessoas entram em uma condição de pânico epidêmico e, quando isso ocorre, é comum esperar até violência de todos os tipos.

O especialista pontua que o pânico é uma disposição mental que contagia não somente quem está próximo, mas também quem está conectado a redes sociais, canais de televisão e qualquer outra forma de comunicação tecnológica. “O ser humano, por ser uma espécie que vive em grupo, tem maior facilidade em contagiar e se contagiar por fortes emoções. Hoje, a ciência já descobriu que, quanto maior o vínculo entre as pessoas, maior é o contágio psíquico entre elas. Por isso, uma pessoa ri quando outro ri, chora quando o outro chora, sente fome, ânsias, por exemplo”, diz.

“O contágio de pânico não acontece somente hoje, diante da epidemia do coronavírus. Basta lembrar as filas intermináveis da vacina da febre amarela, a procura por gasolina na greve dos caminhoneiros, ou então de casos como a novela de Orson Welles cuja transmissão radiofônica gerou um contágio de pânico sem igual, levando as pessoas que se contagiavam à morte súbita, suicídios, saques generalizados, entre outras situações”, exemplifica Leonardo.

Transtorno 

Considerando as características do pânico, o psicanalista, psicólogo e sociólogo Jorge Miklos explica que que existe o pânico classificado no Código Internacional de Doenças (CID) como transtorno mental, ou seja, uma patologia propriamente dita, mas também quando esse sentimento transborda a subjetividade e ganha um âmbito maior, formando o chamado pânico cultural.

“Isso advém da era da ansiedade, na qual vivemos. É um traço do nosso tempo. Nos sentimos ameaçados pela possibilidade de ocorrerem catástrofes, no plano ambiental, econômico, entre outros”, esclarece. (Joana Gontijo)

Enquanto isso

Weintraub zomba da doença

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, voltou a usar o seu perfil no Twitter para atacar seus desafetos. Ele fez várias publicações zombando da possibilidade de a presidente da organização não governamental (ONG) Todos pela Educação, Priscila Cruz, estar infectada com coronavírus. Weintraub publicou uma série de prints do Instagram de Priscila Cruz nos quais ela falava sobre o educador Paulo Freire e o médico Drauzio Varella. “Evidentemente que Priscila Cruz, presidente do Todos pela Educação, é fã do Paulo Freire”, escreveu o ministro. Ele alegou que Priscila faz “estratégias” para tirá-lo da pasta. Depois de publicar todos os prints, o ministro zombou: “Para fechar o bloco de informações sobre Priscila Cruz e sua ONG Todos pela Educação: CORONAVÍRUS!”, anotou.
 


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