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Estado de Minas

Economia estagnada ameaça popularidade do governo Bolsonaro

Planalto não faz a economia deslanchar e aprovação reflete estagnação. Embates e ausência de diálogo são problemas


postado em 21/07/2019 06:00 / atualizado em 21/07/2019 08:35

Presidente Bolsonaro anunciou ontem corte de R$ 2,5 bilhões no Orçamento(foto: Valter Campanato/ABR)
Presidente Bolsonaro anunciou ontem corte de R$ 2,5 bilhões no Orçamento (foto: Valter Campanato/ABR)
Brasília – Passados quase sete meses desde a posse, o presidente Jair Bolsonaro não conseguiu fazer a economia deslanchar. Não fosse o empenho do Congresso para a aprovação da reforma da Previdência, o fracasso seria geral. A fraca retomada econômica se refletiu nos índices de popularidade do governo. O problema, reconhecem os próprios governistas, é que o Palácio do Planalto parece não se importar com a fragilidade do Produto Interno Bruto (PIB). Não bastassem os entraves criados para a Previdência, com falta de articulação política e críticas do ministro da Economia, Paulo Guedes, o Executivo dá sinais de que está disposto a um grande embate em torno da reforma tributária. Um processo que, pela costura feita até o momento, deve manter a economia como o calcanhar de aquiles da gestão Bolsonaro.
 
A aprovação da reforma previdenciária em primeiro turno na Câmara dos Deputados animou o mercado, mas nada a ponto de mudar o otimismo dos analistas a curto prazo. A última mediana das expectativas divulgada pelo Banco Central (BC) aponta uma alta do PIB de 0,81%, inferior ao crescimento de 1,1% em 2018. A desaceleração da atividade, por sua vez, escancara as dificuldades do governo em se popularizar. A última pesquisa do Datafolha, em julho, aponta que 33% da população considera o governo como ótimo ou bom. Considerando a margem de erro, de dois pontos percentuais para mais ou menos, Bolsonaro continua na mesma faixa de 35% de intenção de votos que tinha na última pesquisa do instituto, às vésperas do primeiro turno das eleições de 2018.
 
Em outras palavras, Bolsonaro continua prestigiado apenas pela base eleitoral que se mantém fiel a ele desde as eleições. Os votos “antipetistas” captados por ele no segundo turno, entretanto, não se materializam como presidente da República. E Bolsonaro não tem se empenhado em reconquistar essa fatia perdida do eleitorado. Nas últimas três semanas, reforçou uma aproximação com as bancadas evangélica e ruralista – fiéis a ele desde o segundo turno das eleições –, em um processo que, politicamente, se mostra incapaz de dar respostas à economia.
 
Na prática, o presidente não desceu do palanque e continua pregando para convertidos. Prestigiou ruralistas na solenidade alusiva aos 200 dias de governo, na quinta-feira (18), e mantém estreitamento próximo com os evangélicos, a ponto de ter ido a um culto na sede internacional da Sara Nossa Terra, em Brasília, na sexta-feira (19). Movimentos que intensificam as costuras feitas com esses dois grupos em cafés da manhã no Planalto e fora da agenda oficial, além de um culto na Câmara ao longo de julho.
 
O problema, alertam aliados de dentro e fora desses dois grupos, é que as amarrações políticas construídas por Bolsonaro não pacificam a relação com as lideranças partidárias. A costura do governo tem méritos e é inteligente. Com os ruralistas e evangélicos, o Executivo mapeia lideranças do Centrão – bloco político composto por PP, PRB e PL – para compor com a articulação governista. Mas, até o momento, tudo está no campo das conversas e nenhuma postura mais enfática foi adotada para dar poderes a novos interlocutores que possam fazer esse arranjo.

Sem diálogo Ao não expandir os interlocutores e continuar ouvindo apenas os fiéis mais próximos, Bolsonaro mantém a articulação estagnada, como durante a votação da reforma da Previdência. E nada disso é positivo para a economia. A reforma tributária desenhada pela equipe econômica, por exemplo, nem sequer vem sendo dialogada abertamente com as lideranças partidárias. “Nenhum líder foi convidado para conhecer a reforma do governo”, critica o líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO).
 
O Podemos é o partido que apresentou destaque à reforma da Previdência para prever aposentadoria especial para policiais. A emenda foi aprovada por 467 deputados, em uma costura capitaneada por Nelto com outros líderes. Ouvir lideranças e suas respectivas bancadas, é, para ele, algo que o governo deveria também ter adotado em relação à agenda econômica. “O governo está preso às redes sociais e às polêmicas ideológicas. Mas economia não se faz com isso. Seja de esquerda ou de direita, ideologia que não gera empregos está fadada ao fracasso. Bolsonaro deveria aproveitar o recesso parlamentar e chamar os líderes para discutir o que planeja. Ganharia tempo”, pondera o parlamentar.
 
Por ora, o governo sinaliza como primeiras prioridades de estímulo à economia um modelo de saques anuais do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), pondo fim ao saque automático nas demissões sem justa causa. A reforma tributária é uma outra vertente, conduzida à revelia do conhecimento do Congresso.

Novo bloqueio no Orçamento

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que haverá um “novo corte” no Orçamento de R$ 2,5 bilhões. Segundo o presidente, o governo ainda está decidindo qual ministério terá suas despesas bloqueadas. “Estamos no sufoco, queremos evitar que o governo pare dado ao Orçamento nosso completamente comprometido. Deve ter um novo corte agora. O que deve acontecer, não quer dizer que vai acontecer. O novo corte agora é R$ 2,5 bilhões”, disse o presidente na portaria do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República. O Orçamento já está sob forte contingenciamento de R$ 30 bilhões. Esse bloqueio é feito como medida para que o governo cumpra a meta fiscal ao fim do ano. Este ano, a meta permite rombo de até R$ 139 bilhões.
 
"Uma merreca. Concorda que é uma merreca perto do orçamento trilionário nosso? É pouca coisa num Orçamento de trilhão. Dois bilhões e meio é pouco, o que estamos decidindo com a equipe econômica. Em vez de cortar de seis ou sete ministérios, todo mundo morrer, mata um ministério só. Estou sendo obrigado a decidir”, afirmou. Em maio, o governo anunciou um bloqueio de 30% no orçamento de todas as universidades e institutos federais. O bloqueio atingiu 3,4% do orçamento total das universidades, segundo o Ministério da Educação.


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