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Estado de Minas

Conheça Alan García: Líder carismático e envolvido em vários casos de corrupção

Ex-presidente do Peru se matou com um tiro na cabeça pouco antes de ser preso, na operação que investiga o escândalo de corrupção envolvendo a construtora brasileira Odebrecht


postado em 17/04/2019 15:57 / atualizado em 17/04/2019 16:22

Dias antes de se matar com um tiro na cabeça, o ex-presidente do Peru Alan García Pérez afirmou em entrevista a uma emissora peruana que não se importava com acusações feitas por investigadores “arbitrários” e “precipitados”. A intenção dele era entrar para a história. Segundo ele, sua inocência será comprovada com o passar do tempo. García negou as acusações, mas não explicou as denúncias de lavagem de dinheiro e recebimento de propina envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht em sua campanha eleitoral de 2006.

Nome influente da social democracia peruano, García tinha o desejo confesso de entrar para a história(foto: Ernesto Benavides)
Nome influente da social democracia peruano, García tinha o desejo confesso de entrar para a história (foto: Ernesto Benavides)
 

“Ao final, a história perguntará onde estão as propriedades, os bens e as contas-correntes de Alan García. Não existe. Não existe nada. O que me interessa é a história e não a opinião imediatista e pequena de alguns”, afirmou Alan García. Sorridente e bem-humorado, ele descartou a possibilidade de ser preso preventivamente e considerava sua detenção uma “injustiça incabível”.

 

Embora tenha admitido que atravessava momento difícil e feio, garantiu confiar na história. “Não estou aqui para odiar. Confio na história. Sou cristão. Acredito na vida depois da morte. Me aproximo dos 70 anos, fui presidente por duas vezes”, disse García, adotando por um dos poucos momentos da entrevista tom sério e preocupado.


O líder peruano se formou em letras e direito e teve ascensão rápida na política durante a década de 1980. Deputado constituinte nos anos pós-ditadura militar no Peru, García se destacou como um dos nomes mais influentes da Aliança Popular Revolucionária Americana, partido conhecido como Apra (membro da Internacional Socialista) e que depois passou a ser chamado de Partido Aprista Peruano.

Carismático e com discurso reformista, prometendo brigar para reduzir as desigualdades sociais no país por meio de políticas socialistas, García chegou à presidência da República pela primeira vez aos 35 anos, em 1985. Na época, o país atravessava grave crise econômica, com altos índices de pobreza e inflação descontrolada.

Em discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, ele anunciou que passaria a reservar apenas 10% do orçamento peruano para pagar a dívida externa deixando investidores estrangeiros em alerta com um possível calote. García determinou o aumento dos salários para algumas categorias e buscou incentivar o consumo pela população. De acordo com o jornal norte-americano New York Times, o então presidente peruano despontava como principal liderança da América Latina desde o argentino Juan Peron. Sua política econômica foi bem-sucedida nos primeiros anos de governo e o Peru registrou significativos índices de crescimento no Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços do país).

Ligações perigosas

No entanto, ao fim de seu governo, entre 1988 e 1990, a crise na indústria peruana voltou a derrubar a economia do país. O número de desempregados voltou a aumentar e a inflação se descontrolou completamente. García enfrentou também as primeiras denúncias de corrupção logo em seu primeiro mandato, mas as investigações não avançaram durante os anos 1990 e acabaram prescrevendo.

Em 1992, quando Alberto Fujimori deu um autogolpe e fechou o Congresso peruano, García deixou o país e recebeu asilo na Colômbia. Até 2002 ele viveu fora de seu país e, quanto voltou, fracassou na tentativa de assumir novamente a presidência, perdendo as eleições para Alejandro Toledo (também investigado atualmente pelo recebimento de propina da Odebrecht).

A volta ao poder foi em 2006, quando se lançou como o candidato que retomaria o crescimento econômico do Peru. Com o boom das commodities e expansão global acima da média na década de 2000, García teve seu segundo mandato marcado pela manutenção da estabilidade econômica e o lançamento de grandes obras de infraestrutura.

Foram exatamente essas ações de altos investimentos em mobilidade nas principais cidades do Peru que aumentaram as relações entre Alan García e a empreiteira brasileira Odebrecht, uma das principais investigadas pela Operação Lava-Jato. Diretores da empresa afirmaram em delação aos promotores peruanos que pagaram como propina US$ 4 milhões ao amigo e ex-secretário de García, Luis Nava, como forma de garantir vitórias em licitações de obras públicas. Entre as obras investigadas com indícios de superfaturamento e prática de corrupção está a construção do trem de Lima, capital peruana.

Trânsito com o Brasil

Apesar de ter liderado um partido de esquerda próximo aos partidos socialistas, Alan García se caracterizou pela flexibilidade ideológica, mantendo boas relações com gente de vários campos políticos. No Brasil, além da boa relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), García era próximo também do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em 2012, ele participou ao lado do tucano da Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa, em São Paulo, quando defendeu que a liberdade de expressão é “valor universal para o ser humano e para a democracia”.

Além de García, os casos de suborno da Odebrecht no Peru envolvem outros três ex-presidentes (Alejandro Toledo, Ollanta Humala e Pedro Pablo Kuczynski), com cifras milionárias usadas para fraudar licitações e eleições. Em fevereiro, a empreiteira assinou acordo com a Procuradoria peruana para ampliar as apurações sobre pagamentos de propinas e aceitou pagar indenização de U$S 182 milhões como compensação aos peruanos por fraudes em licitações.

Meses antes de se suicidar, García era apontado por lideranças políticas peruanas como um nome para a disputa da eleição em 2021 em busca de seu terceiro mandato. No entanto, negava que tinha intenção de voltar ao poder e que pretendia se defender de “acusações injustas” que manchavam sua honra.


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