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Estado de Minas ENTREVISTA

'Tenho de furar o bloqueio do meu partido', diz empresário que quer disputar a Presidência

Guilherme Afif Domingos vê o Estado desconectado da realidade do país


postado em 02/06/2018 08:00 / atualizado em 03/06/2018 14:40

(foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press)
(foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press)

Sem candidaturas ao Palácio do Planalto no espectro da direita liberal que animem o eleitor brasileiro, o diretor-presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empreas (Sebrae), Guilherme Afif Domingos, empresário de 74 anos, descendente de libaneses, está determinado a lutar, dentro de seu partido, o PSD, para viabilizar a indicação de seu nome. Parte da legenda tem se alinhado para apoiar a pré-candidatura do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB).


“Estou voltando. Sou candidato a candidato. Tenho de furar o bloqueio do meu partido”, afirma ele, que não está preocupado em se articular com outras legendas. “O universo da pequena empresa é de 12 milhões de formais, 15 milhões de informais. Se somarmos os trabalhadores, são mais 45 milhões de pessoas. Portanto, tenho que negociar é com a sociedade, porque senão a coligação vai se chamar unidos da Lava-Jato: são todos partidos comprometidos. E disso o povo foge como o diabo da cruz”, diz, em referência ao MDB, ao PSDB, ao DEM e ao PP, legendas tradicionais que, segundo ele, são tão “pesadas” que irão derrubar o palanque.

Enquanto Afif avalia Alckmin como espécie de “docinho de coco” que não empolga; considera que Henrique Meirelles “está mais para Davos do que para a periferia”. Jair Bolsonaro (PSL), acredita, vai se esvaziar. “É só deixar ele falar mais”, sustenta, depois de ter sido ovacionado durante sabatina na Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, organizada pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) com a máxima: “O Brasil de cima para baixo não deu certo. Está na hora de construir o Brasil de baixo para cima”. Para ele, o Estado brasileiro está desconectado com a realidade na nação.”, diz.

Não será a primeira vez que Afif será candidato à Presidência, caso concorra. Em 1989, disputou o Palácio do Planalto num concorrido pleito com 22 candidaturas, com o slogan “Juntos chegaremos lá”. Surpreendeu conquistando 3,2 milhões de votos e terminando à frente de nomes de expressão nacional como Ulysses Guimarães.

 

Que avaliação faz do momento político e social do Brasil?

O ambiente é de profundo mau humor gerado pelo total desalento da população, em todas as classes sociodemográficas A, B, C, D, E. As pessoas se sentem enganadas, desrespeitadas e creditam tudo à representação política e à desfaçatez com que usaram os recursos públicos. Isso trouxe alto impacto sobre a população. Por outro lado, por que a economia não reage se houve queda real de inflação, foram feitos ajustes, algumas reformas? O desemprego permanece em 13 milhões. As pessoas têm medo de perder o emprego, têm na sua família gente desempregada. Puxam o freio de mão, não vão ao consumo e estamos andando de lado na economia. Esse aspecto gera um clima perigoso. Não tem combustível no posto, mas tem combustível suficiente na sociedade para pegar fogo. Lembre-se que 2013 foi o início de um tsunami. Em princípio foi uma onda autêntica de manifestações: “Vocês não nos representa”. Os outros movimentos que vieram depois já tiveram manipulação política: foi interesse para o impeachment. Mas aquele (primeiro momento) foi um terremoto em alto-mar cujas ondas podem chegar e explodir. A energia está aí.

Em 1989, o sr. foi candidato à Presidência da República. Foram 22 candidatos e a direita liberal foi engolida pelo discurso moralista de “caça aos marajás” de Fernando Collor de Mello. Neste pleito de 2018, temos Jair Bolsonaro (PSL) ocupando o espaço da direita liberal, cujas candidaturas estão com dificuldades para decolar. Que avaliação o sr. faz do quadro eleitoral?

São dois momentos difíceis. Pois a eleição de 1989 foi solteira, só um candidato. Nestas eleições temos toda a complexidade das coligações. O alinhamento estadual não vai corresponder com a escolha presidencial. A escolha será feita diretamente pelo povo. Não adianta ninguém pedir para votar no A, B, ou C. Os candidatos que aí estão, por exemplo, o Bolsonaro era uma polarização muito forte com Lula que representaria o grande eleitorado dito de esquerda. E o Lula é forte. Ele tem força. Como Lula não vai, a tendência desse lado mais à esquerda é diluir e migrar para o centro. E nesse caso, quem está polarizado cai. Bolsonaro já está perdendo consistência. É só deixar ele falar mais. A tendência é o Ciro Gomes açambarcar esse voto do Lula. Quem iria pegar tudo isso seria Joaquim Barbosa. Não é do ramo, não progride. O Geraldo não preenche. Não vai. Tem aquela musiquinha: “Você é meu docinho de coco, mas enjoei de você”. Ele não diz mais nada. O Henrique Meirelles, que o MDB está lançando, é uma pessoa competente, homem de carreira de banqueiro, mas está mais para Davos do que para a periferia. O MDB vai ficar naquela posição histórica dele: “Elege quem for, vai ter de sentar no nosso colo para governar”. Está dando muito mais ênfase à eleição proporcional do que à majoritária. Eles falaram para o Meirelles: “Dinheiro do fundo (eleitoral) é para a nossa turma”. Ele: “Pode deixar que eu ponho”. Então, ele está comprando aquela vaga. Há um vácuo aí. Estou voltando. Sou candidato a candidato. Tenho de furar o bloqueio do meu partido. Em São Paulo, o PSD apoia o Doria. E, em Minas, Anastasia. São arranjos locais. Mas não significa que vincula.

O apoio de Michel Temer a um candidato hoje mais atrapalha ou ajuda?

O Temer por ser a figura maior - presidente da República - e havendo essa revolta da população contra a classe política, é o maior representante dessa classe política. Até está tentando fazer, dar um passo. Mas não consegue. É ele e o que ele representa como classe política: MDB, mensalão, a história do Porto de Santos...

Pensando no grupo de candidatos à Presidência, qual é o seu possível campo de articulação com os partidos?

Estou me articulando com a sociedade.

Mas o sr. vai precisar de tempo de TV.

Às vezes, o tempo de televisão trabalha contra. Tenho a experiência. Em 1989, a minha campanha pegou. Conversei e me comuniquei com o povo. A proposta começou a fazer sentido na classe média. Naquela ocasião, houve manipulação muito forte de comunicação, que nos levou a uma falsa “modernização” com o jagunço yuppie. Tanto é que não dei apoio no segundo turno. E falei à época: “Vamos atrasar 20 anos o projeto de modernização do Brasil”. Foi o que aconteceu. Hoje tem a tendência liberal sim. A periferia é liberal. O universo da pequena empresa é de 12 milhões de formais, 15 milhões de informais. Se somarmos os trabalhadores são mais 45 milhões de pessoas. Portanto, tenho que negociar é com a sociedade. Porque senão a coligação vai se chamar unidos da Lava-Jato: são todos partidos comprometidos. E disso o povo foge como o diabo da cruz.

O PSD não está citado?

O (Gilberto) Kassab está. Mas ele não é candidato. Sou fundador do partido e presidente da fundação, escrevi o programa do partido. E tudo o que estou falando está em nosso programa.

Entre os candidatos, há alguma possível coligação?

Tem uma coligação importante com o PSC, que tem o Paulo Rabello. Não sei como está a cabecinha do Flávio Rocha. É uma coligação meio outsider do processo tradicional. Eles (os tradicionais) vão morrer abraçados. Esse núcleo grande: MDB, PSDB, DEM, PP...vão ter um peso de palanque, que vai cair.

Quando o sr. foi empossado em maio de 2013, no governo Dilma, ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa , era vice- governador de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo. Marcou a adesão do PSD à base do governo. Como foi essa aproximação com Dilma Rousseff, uma vez que o sr. pertencia, em São Paulo, a um governo que integrava o núcleo da oposição à então presidente e ao PT?

Como vice-governador de São Paulo, havia assumido a Secretaria de Desenvolvimento, para um trabalho voltado às pequenas empresas e à desburocratização. Naquela oportunidade, surgiu a necessidade de fundar o nosso partido, o PSD, porque havia dissidência no DEM. Gilberto Kassab me pediu para acompanhá-lo. Comuniquei ao Alckmin. No dia seguinte, ele me demitiu da secretaria. Depois de um tempo, me chamou para coordenar as PPPs (parcerias público-privadas) e percebi que ele não gostava delas. Então, estava lá para enxugar gelo. Quando a Dilma baixou drasticamente o imposto das MEIs (Microempreendedores Individuais), escrevi um artigo elogiando a coragem dela e falando dos “batalhadores”. Ela me ligou para pedir licença para usar o termo os “batalhadores”. A Dilma tinha essa cabeça e me disse: “Vou criar ministério, você aceita?” Eu disse: “Na hora. É a bandeira da minha vida. Não estou fazendo nada aqui”. Então, não foi acordo partidário, do PSD com o PT. Foi um convite da cota pessoal dela, me chamando, pela minha experiência de vida. E foi assim que implementamos o ministério do verbo, não da verba: fazia a articulação das ações de governo, sob o peso da presidência. E avançamos muito. Aí ela ganhou reeleição. Eu continuei ministro, mas veio o Joaquim Levy representando os bancos, mandando enxugar a estrutura do governo. Fui para o Sebrae para lá continuar a desenvolver o trabalho, assumi a coordenação do Bem Mais Simples para fazer todo o processo da desburocratização. Um dos produtos gerados foi a identidade civil nacional (traz o título de eleitor já acoplado e poderá, futuramente, receber outros documentos, conforme convênios sejam firmados com órgãos públicos para a integração da base de informações). Esse foi um acordo junto com a Justiça, coordenado por mim, junto ao Dias Toffoli e Gilmar Mendes. Continuei  trabalhando com ela. Quando aconteceu o processo do impeachment, a minha posição pessoal com a Dilma não teve nenhum arranhão sequer. Sempre mantive bom relacionamento. E ela deu apoio inestimável para essa bandeira.

Que avaliação o sr. faz do desenrolar do processo de impeachment?

Ele está  rolando ainda. Toda intervenção traumática gera efeitos colaterais. Talvez o que estamos vivendo hoje seja um efeito colateral. Era melhor ter esperado para que acontecesse uma sucessão natural.

É claro que o combate à corrupção é fundamental, mas num certo sentido a forma de atuação de órgãos de controle e do Poder Judiciário, que criminaliza a política e a atividade empresarial, está havendo exagero?

Há exagero da corrupção. Mais um exagero total, inclusive do montante. Um bilhão é trocado. E a promiscuidade do relacionamento de empresas e poder. Isso eu já falava na minha campanha de 1989 quando citava o triângulo de ferro: a estatocracia, o político à cata de votos e o capitalista nacional que só tem a lista, pois o capital vai buscar no fundo público, tem reserva de mercado, proteção. Essa relação promíscua agora veio com toda a força. E tem exagero na reação. Por outro lado tem o Ministério Público, o Judiciário, a polícia que vai chegar um ponto que vai ter de entrar em equilíbrio. E onde entra em equilíbrio? Há uma espécie de acordo entre Ministério Público e a mídia, lógico que a mídia vive da manchete. Se há exagero do Ministério Público, a mídia está acobertada, porque é um órgão oficial que falou. Você vai corrigir isso no dia em que o Ministério Público responder por sucumbência. Então, vai ter de começar a ter cuidado na hora de vazar, de fazer, porque se depois não comprova, toma um processo na cabeça. Estamos aos poucos consolidando as nossas instituições. Mal ou bem a Constituição tem sido, como diz o meu amigo Ayres Britto (Carlos Ayres Britto, ex-presidente do STF), o Posto Ipiranga. O que esperamos é que se busque um ponto de equilíbrio. Isso é a força da democracia. Mas temos muito aprendizado em cima dessa crise.

Esse desalento da população, essa falta de esperança pode prejudicar as instituições democráticas?

Temos de partir para a solução. Proponho, se eleito presidente, a convocação urgente de plebiscito para uma chamada de Constituinte exclusiva para fazer a reforma do sistema político e eleitoral, com a introdução do voto distrital. Isto é reatar a representatividade geograficamente. O voto distrital é majoritário. E defendo dois turnos. Com direito de recall da população, pode ser cassado. Entramos no Brasil com uma visão nova de desenvolvimento territorial. Essa é a grande mudança que vamos fazer no Brasil. Temos também, antes da reforma tributária, a reforma federativa, que é a reforma fiscal: os recursos arrecadados da sociedade vêm a serviço carreados para o ente que tem melhor competência para exercê-la. Desburocratiza. Permite a economia que é geradora de emprego e renda. Então as Reformas Política, Tributária e Fiscal andam juntas dentro do princípio da descentralização.

Em sua avaliação, como deve ser o Estado brasileiro?

O povo quer estado. Mas quer em quê? Há dois grandes princípios: o princípio da igualdade de oportunidade, que é o estado na educação e na saúde, e da garantia dos direitos do cidadão, que representa o estado na Justiça e na segurança. Além disso, garantir a infraestrutura básica para promoção do desenvolvimento.


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