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Estado de Minas HERDEIROS NA PREFEITURA

Ditado 'filho de peixe, peixinho é', traduz a política no Norte de Minas

Prefeito de Rubelita tomou posse no cargo já exercido pelo avô, o pai e a mãe. A história se repete em outros municípios


postado em 08/01/2017 06:00 / atualizado em 08/01/2017 09:23

Em São João da Ponte, Danilo Veloso, ao lado da mãe, a ex-prefeita Gervacina, ainda nem tinha nascido quando seu pai, Denizar, assumiu o primeiro mandato na prefeitura(foto: Bruna Lima/Divulgação)
Em São João da Ponte, Danilo Veloso, ao lado da mãe, a ex-prefeita Gervacina, ainda nem tinha nascido quando seu pai, Denizar, assumiu o primeiro mandato na prefeitura (foto: Bruna Lima/Divulgação)

Eles respiram política desde que nasceram, assistindo ao entra e sai de lideranças e eleitores em suas casas. De tanto conviverem com esse ambiente, entraram na disputa eleitoral e, com o empurrãozinho do sobrenome, foram vitoriosos. Essa é a história dos herdeiros políticos que assumiram prefeituras do Norte de Minas em 1º de janeiro. Em Rubelita, de 6,9 mil habitantes, o engenheiro agrícola Otávio Miranda (PMDB), de 54 anos, tomou posse no cargo já exercido por seu avô paterno, seu pai e sua mãe. Em São João da Ponte, de 30,3 mil habitantes, Danilo Veloso Santos (PT), de 42, ocupa agora a mesma cadeira já ocupada pelo pai e pela mãe (ambos por dois mandatos).

Otávio Miranda reconhece o peso da tradição familiar em sua vitória. Conta que desde que Rubelita foi emancipada, em 1963, em apenas duas eleições (1982 e 2004) o eleito não fazia parte das três famílias que disputam o comando da política na cidade: Alves Miranda (a dele), Murta e Alves Ferreira. Na eleição de outubro de 2016, ele foi vitorioso com 56,38% dos votos, derrotando Inael Murta (PSDB), que concorria à reeleição. Em 2012, Inael derrotou Otávio.

Um tio dele, Djalma Alves Miranda, foi o intendente (uma espécie de primeiro gestor, que é nomeado) de Rubelita e ficou no cargo por cerca de seis meses, até a posse do primeiro prefeito eleito pelo voto direto. O avô de Otávio, Leônidas Alves, foi o segundo prefeito do município (1967-1970). O pai, Oswaldo Alves Miranda (já falecido), comandou a prefeitura em um mandato (1989-1992) e a mãe, Maria do Divino Alves Miranda, a dona Vina, ocupou a chefia do Executivo por dois mandatos seguidos, de 1997 a 2004.

O novo prefeito de Rubelita afirma que, na família, a maior liderança foi exercida por seu avô, de quem – admite – ainda “herda” votos. Leônidas, que era fazendeiro, faleceu em 1976. Segundo Otávio, 30 anos depois de sua morte, o nome do antigo chefe político ainda influencia a disputa local.

“Em Rubelita é assim: 40% dos moradores ainda falam do meu avô, dizendo que votam ‘no povo de Leônidas’. Acho que pelo menos 30% dos votos que recebi vieram por causa do nome dele, que ainda é forte. Portanto, tenho o respeito do povo e a responsabilidade de honrar esse nome e fazer uma boa administração, como fizeram meu pai e minha mãe”, comenta o herdeiro. Ele disse que vai priorizar a geração de emprego e o apoio ao homem do campo.

Projeto político acima da tradição

O novo prefeito de São João da Ponte (30,3 mil habitantes), Danilo Veloso Santos (PT), ainda não tinha nascido quando o pai dele, Denizar Veloso Santos, tomou posse para o seu primeiro mandato na prefeitura da cidade (1971-1972). Depois, quando Danilo estava com 10 anos, o pai tomou posse para o segundo mandato (1983-1988). Anos mais tarde, com Denizar já falecido, a mãe, Gervacina Ferreira Santos, também exerceu dois mandatos  (1997-2004).

Danilo foi eleito com 52,9% dos votos e derrotou Sidnei Gorutuba (PMDB), que tentava a reeleição. O novo prefeito admite que a tradição familiar contribuiu em sua campanha, mas não foi o fator mais importante para que chegasse à vitória. “Minha eleição não ocorreu pelo fato de meu pai e minha mãe terem sido prefeitos. Fui eleito em cima de um projeto político. Preparei-me para ser prefeito. Passei quatro anos colocando o meu nome à apreciação da população”, afirma.

No passado, São João da Ponte ficou conhecida pelo domínio dos “chefes políticos”. Apesar de sua herança, Danilo afirma que não segue as antigas práticas. “Não tenho nada a ver com o coronelismo. Represento o povo mais simples, que precisa ser ouvido”, argumenta. Ele também afirma que o fato de ter se filiado ao PT pouca coisa mudou em sua eleição. “Nos pequenos municípios, os eleitores votam na pessoa. Não tem muito essa influência ideológica”, observa.

Danilo conta que iniciou e não concluiu o curso de engenharia civil exatamente por causa da política, pois retornou à cidade quando sua mãe era prefeita. Por outro lado, conta que adquiriu experiência na área pública como presidente da Fundação Municipal de Saúde de São João da Ponte (Fumasa), entidade filantrópica responsável pela gestão do único hospital da cidade (Hospital São Geraldo) e secretário de Saúde do município. “Tomei gosto em trabalhar em prol das pessoas, principalmente daquelas que precisam de uma boa administração. O meu objetivo é fazer uma gestão séria, com transparência, responsabilidade e participação popular”, disse o novo prefeito, demonstrando que está com o discurso afinado.

Vocação no sangue e mulher como vice

Ainda no Norte de Minas, em Ubaí (11,8 mil habitantes), o advogado Marco Antonio Andrade (PR), de 46 anos, o “Doutor Marquim”, assumiu a prefeitura, que já tinha administrado anteriormente por dois mandatos seguidos (2005-2012). A família dele sempre teve influência na política local desde que o município foi emancipado, em 1963. Também já comandaram a prefeitura um tio e dois irmãos dele.  Marquim exerce o terceiro mandato com sua mulher como vice, a professora Joselane Aparecida Nobre (PSD).

“A política está no sangue da nossa família”, diz o prefeito, eleito com uma votação esmagadora (85,74% dos votos). Marquim alega que a mulher dele foi escolhida como vice por causa da “concorrência” no seu grupo político, pois apareceram 11 pré-candidatos para integrar a chapa e Joselane foi escolhida como “nome de consenso”, a fim de evitar o risco de “racha”.

Ele afirma que não pretende nomear Joselane para nenhuma função na prefeitura. Afirmou que mesmo sendo eleita como sua companheira de chapa, ela deve continuar como professora – “desde que não haja nenhum impedimento legal, considerando que vice é expectativa de cargo”.

Marquim disse ainda que a “tradição” de sua família na política em Ubaí vem da característica da cidade pequena, onde “todo mundo conhece todo mundo”. “Aqui é assim, praticamente todo mundo sabe da história de cada um e onde as pessoas moram. As pessoas sabem em quem vão votar. Além disso, tenho 46 anos e sou uma pessoa de cabeça aberta. Portanto, não existe essa história de coronelismo”, assegura.


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