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Estado de Minas

Eleitores pedem sistema de saúde mais eficiente e perto de casa

Série do Estado de Minas mostra a partir de hoje quais demandas são consideradas essenciais pela população


postado em 24/08/2014 06:00 / atualizado em 24/08/2014 08:06

Após 13 dias de internação, Ilda Oliveira cobra suprimentos básicos para os hospitais:
Após 13 dias de internação, Ilda Oliveira cobra suprimentos básicos para os hospitais: "tive que trazer cobertor, travesseiro e lençol" (foto: Euler Júnior/EM/D.A Press )

O repositor de sacolão Paulo Henrique Alves, de 28 anos, pediu socorro por três horas dentro de uma policlínica antes de ver a mãe morrer na recepção sem atendimento. A trabalhadora rural Efigênia Pereira, de 43, entrou na Justiça para conseguir o remédio que pode curá-la de um câncer de mama. Morador de Manhumirim, na Zona da Mata, Valdemir de Jesus, de 41, viajou mais de 300 quilômetros para se consultar com um otorrinolaringologista. Longe dos gabinetes dos políticos e afastados da corrida eleitoral, todos eles vivem na pele os desafios da saúde do Brasil e sabem na ponta da língua o que querem para melhorá-la. O Estado de Minas começa hoje a série semanal de reportagens “A vontade do eleitor”, em que cidadãos propõem medidas aos futuros governantes em áreas essenciais, como saúde, educação, transporte e segurança pública. Em vez de palanques, as propostas partem das ruas, elaboradas por gente comum que, ao passar por obstáculos, aprendeu na marra o que é preciso fazer.


Não por acaso a saúde é o primeiro tema abordado na série. Pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Paulista de Medicina (APM) revelou que 57% dos eleitores brasileiros consideram o assunto prioridade nas políticas públicas. O estudo, encomendado ao Instituto Datafolha, acendeu o alerta ao mostrar que 93% dos entrevistados consideram os serviços públicos e privados de saúde no país péssimos, ruins ou regulares.


As medidas sugeridas por quem enfrenta essas dificuldades vão desde o reforço da estrutura hospitalar no interior e garantia de acesso a remédios até a contratação de médicos especialistas e a cobertura do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em todo o estado. “Tem que investir mais, contratar médicos”, cobra Paulo Henrique.


E, como doença não espera, eleitores pedem mais agilidade do sistema de saúde, particular e público. “O fato de pagar um plano não é garantia de bom atendimento”, diz a aposentada Zilah de Carvalho, de 77, que teve que esperar autorização para cirurgia já na mesa de operação. Já a servidora pública aposentada Ilda Cândida, de 74, internada em hospital sem lençol nem travesseiro para pacientes, propõe que as instituições sejam supridas de materiais e medicamentos básicos. É também o que quer a técnica em patologia Paloma Jacques, de 33. “Faltam medicação, seringa e até luvas”, diz.


Levar médicos especialistas para o interior e ampliar a capacidade dos municípios de atenderem casos de maior complexidade é a proposta daqueles que cruzam quilômetros de distância atrás de tratamento. “Se no posto de saúde tivesse médico especialista, não precisaria de vir tanto aqui (a BH)”, comenta a dona de casa Antônia Célia Custódia, de 64, empenhada há oito meses em conseguir, para a filha Ester, de 14, cirurgia para corrigir um problema no canal urinário. Elas moram em Lagoa da Prata, na Região Centro-Oeste de Minas, e precisam viajar todo mês a BH.


Na avaliação de quem trabalha no setor, a implantação das medidas propostas pelos eleitores depende de maior planejamento na gestão do sistema de saúde. “É preciso dar condições para as macrorregiões (divisões de saúde no interior) resolverem os problemas”, afirma o coordenador de plantão do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, o clínico emergencista Marcelo Lopes Ribeiro. O médico, que também atua na Santa Casa de BH, no Hospital Risoleta Neves e no Samu, reforça a necessidade de mais leitos. “O défict é de pelo menos 1 mil leitos em BH. Pacientes recebem tratamento no corredor”, diz.
O professor de Política e Planejamento de Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Virgílio Baião afirma que para a saúde caminhar é preciso integração. “Você tem uma parte privada e outra pública que não têm sequer uma estatística comum. Há também fragmentação entre os governos federal, estadual e municipal. Falta integração, a criação de uma rede que socialize a compra de materiais e medicamentos”.


O presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), Itagiba de Castro Filho, aponta ainda a necessidade de valorizar a classe médica. “Um plano de carreira e remuneração adequada são condições para fixar profissionais longe dos grandes centros”, afirma.

 

(foto: Euler Júnior/EM/D.A Press )
(foto: Euler Júnior/EM/D.A Press )
A mãe morreu sem atendimento

 

Paulo Henrique viu a mãe morrer aos 48 anos na cadeira de uma policlínica em Contagem à espera de atendimento. Maria do Carmo pediu socorro por três horas, mas ele só chegou quando o coração, infartado, parou. “Se tivesse alguém pelo menos para medir a pressão dela… Mas não tinha”, lamenta. O enterro da mãe foi no mesmo dia do funeral do vice-presidente José Alencar, morto em 29 de março de 2011. “Devia ter uns 15 médicos para atender ele, ninguém cuidou da minha mãe. Se morre gente pobre, não muda nada”, diz. Sem esperança no sistema de saúde, Paulo Henrique agora se apega à fé. A correntinha com uma cruz dependurada no peito foi comprada em memória da mãe. “Ela era muito católica”, conta.

Proposta: contratar mais médicos e investir mais na área

 

 

(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Nem remédio na prateleira

 

Paloma Jacques, 33 anos
técnica em patologia

 

“Falta medicação, seringa e até luvas de procedimento. Minha chefe já teve que comprar do bolso dela”, conta a técnica em patologia Paloma Jacques. O relato é de quem vivencia o cotidiano da saúde pública há mais de uma década. Não é raro ela andar pelo Hospital Júlia Kubitschek, na Região do Barreiro, em Belo Horizonte, e ver os corredores lotados de pacientes que, sem vaga nas enfermarias, ficam internados ali mesmo. A experiência lhe dá autoridade para reivindicar melhorias. “Tem que ter mais recurso para comprar o básico”, diz.

Proposta: investir na compra de materiais básicos de saúde e medicamentos

 

 

(foto: Euler Júnior/EM/D.A Press )
(foto: Euler Júnior/EM/D.A Press )
120 minutos para o socorro chegar

 

Júnio César, de 35 anos, instrutor de motocicleta

 

Duas horas estirado no asfalto quente com a clavícula quebrada. Para completar, portas fechadas por duas casas de saúde antes de receber atendimento. Essa foi a saga cumprida pelo instrutor de motocicleta Júnio César, vítima de acidente de trânsito. Como Santa Luzia, município da região metropolitana onde mora, não tem Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) nem Corpo de Bombeiros, o motociclista precisou esperar socorro da vizinha Sabará. Antes de chegar ao Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, ele passou por outras duas instituições que não contavam com plantão de ortopedista. “O acidente foi às 10h e só consegui ser atendido às 13h. É uma vergonha”, afirma.

Proposta: criar rede de atendimento móvel de urgência em todo o Estado 

 

 

 


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