Havana — Foi uma Dilma Rousseff bem-humorada que chegou no fim da tarde dessa segunda-feira ao hotel Meliá Cohiba de Havana para a primeira noite em Cuba em visita oficial como presidente do Brasil. "Estava com saudades de vocês", brincou com os jornalistas, para depois fazer mistério sobre aquele que poderia ser o primeiro compromisso, sem confirmação até o fechamento desta edição: um encontro com o ex-presidente Fidel Castro, 85 anos, líder da Revolução Cubana de 1959. "Não posso dizer", respondeu a presidente quando questionada se ainda sairia do hotel na primeira noite.
Mas basta uma volta por Havana para perceber a presença brasileira, seja nos ônibus que desafogam o transporte público, seja no sucesso das telenovelas – atualmente, eles se emocionam com Pasión (Passione, por aqui). Em Cuba, o Brasil deixou de ser sinônimo apenas de diversão e esportes. Moradores da capital veem na visita da presidente uma oportunidade de estreitar laços. "Todas as novelas brasileiras são boas, sem exceção", elogia o comerciante Érik Bril, 38 anos. "Os tênis e as sandálias brasileiras também têm qualidade muito boa", acrescenta, apoiado pela mulher, Ellen Perdomo, 28. Ela considera "ótimo" o intercâmbio, mas admite que não sabe muito sobre Dilma.
Sentado sobre o muro do Malecón, o quebra-mar que é o cartão postal de Havana, o agricultor Roberto González Ruiz tinha na ponta da língua a resposta sobre a presença brasileira em seu país. "Agora mesmo estão fazendo o Porto de Mariel. Vai ser o maior porto de Cuba e vai desenvolver a nossa economia um pouco mais", comenta. Roberto não sabe dizer se há muitos produtos brasileiros no mercado cubano, mas aposta no futuro. "Espero que a visita de Dilma traga mais desenvolvimento para Cuba e mais trabalho para a gente", acrescenta.
Enquanto segurava com atenção a linha do carretel, durante uma pescaria no Malecón, o desempregado Lázaro Rodríguez, 38, falou com simpatia sobre a passagem da presidente pela ilha. "As relações com o Brasil estão passando por um momento bastante bom. Meu país se enche de orgulho com a visita", admite. Ele espera pelos frutos da cooperação, de olho nos ganhos para a economia. "Percebe-se que o Brasil tem feito muitos investimentos, especialmente em Mariel. Isso vai ser um grande passo para o nosso desenvolvimento", sustenta. Em sua edição atual, o semanário oficial Granma não aborda o giro de Dilma, mas a tevê deu destaque à visita preparatória do chanceler Antonio Patriota e exibiu uma entrevista na qual Raúl Castro abordou o tema.
Caminhando a passos rápidos pelo Malecón, Virginia Pérez Fernández, 65, abriu o sorriso quando ouviu falar de Dilma Rousseff. "Vejo a presidente com boas perspectivas para meu povo, com muitas esperanças de vivermos melhor, de sermos seres humanos melhores", disse. Ela qualificou o Brasil como "uma nação muito empreendora", capaz de abrir "muito mais possibilidades a todos nós da América Latina", mas não esqueceu a preferência nacional dos cubanos: "As novelas brasileiras reinam aqui".