Brasília – Sob holofotes, o discurso é de união, mas nos bastidores o PMDB e a presidente Dilma Rousseff ainda se esforçam para falar o mesmo idioma. A cisão provocada pela votação do Código Florestal, que opôs Dilma e o vice Michel Temer, forçou o governo a acionar o sinal vermelho no Congresso Nacional. Desde essa terça-feira, deputados e senadores estão fazendo operação padrão, em quarentena de 15 dias sem qualquer votação que possa trazer tensão à base. Na Câmara, a parada técnica trará prejuízos inclusive ao projeto que destinava R$ 780 milhões às vítimas das chuvas do início do ano.
Os senadores garantem que o almoço é uma cortesia e servirá para a retomada da confiança entre parlamentares e a presidente. Por isso, não pretendem cobrar modificações do governo, nem pressionar por pautas de interesse do partido, como uma votação ágil do Código Florestal no Senado. Outras saias justas estão vetadas, como o projeto que altera o trâmite de medidas provisórias – o governo é radicalmente contra a proposta. “Não há pauta daqui para lá, nem de lá para cá. O Temer nos representa e merece nossa solidariedade”, deu a senha o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Na tentativa de reabrir o canal com os peemedebistas, toda a cúpula da Secretaria de Relações Institucionais bateu ponto nessa terça-feira na reunião dos líderes aliados na Câmara. A intenção era de acenar para o PMDB de que o Planalto está disposto a aumentar o diálogo com a base do partido. Além do ministro, Luiz Sérgio, participaram o secretário-executivo, Cláudio Vignatti, e o subchefe de Assuntos Federativos, Olavo Noleto. “O governo, com essa base e com o PMDB, teve um ponto de divergência e isso é normal entre partidos. Não foi a primeira vez que ocorreu e não deve ser a última”, minimizou Sérgio.
Articulação Representando o PMDB na reunião, o deputado federal Eduardo Cunha (RJ) disse que o governo está satisfeito com a articulação tocada por Luiz Sérgio e o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), mas não citou o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, porque essa não seria a atribuição do ministro. “Estamos muito satisfeitos. O que o PMDB quer é conversar mais, mas isso não significa trocar ninguém, significa apenas conversar mais”, ponderou. Durante o almoço, o deputado reclamou da imagem do partido transmitida por setores do próprio governo. “Se votamos a favor, dizem que é por que queremos cargos. Se votamos contra, também”, resumiu.
A determinação transmitida pelo Planalto para as próximas duas semanas é de que nada polêmico seja votado enquanto o governo não retomar o controle sobre a base. “Estamos lambendo as feridas”, disse o deputado federal e futuro líder do governo no Congresso, Mendes Ribeiro (PMDB-RS).
O jantar na casa de Temer com senadores peemedebistas e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, promovido na noite de segunda-feira no Palácio do Jaburu, serviu mais para rachar ainda mais o grupo dos oito senadores independentes do partido do que propriamente unir o PMDB. Até porque os temas políticos foram deixados de lado. Ali, se falou sobre reforma tributária, saúde, educação e a regulamentação da análise e edição de medidas provisórias. Ao longo das conversas, o caso Palocci foi mencionado apenas por Roberto Requião que anunciou de viva voz que assinará a CPI para investigar o ministro da Casa Civil.
Na conversa, Temer tratou de temas de interesse do Poder Executivo e da necessidade de o partido ter projetos para várias áreas.