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Estado de Minas PENSAR

Em 'Mulheres arco-íris', Leida Reis traz a luta contra um duplo preconceito

Livro apresenta narrativas contundentes sobre a dura realidade de personagens femininas em busca de superação e felicidade


23/09/2023 04:00 - atualizado 23/09/2023 06:10
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Leida Reis, Escritora e editora
(foto: Carlos Monteiro)


“As mulheres LGBTQAPIN+ 
sofrem duplamente preconceito e violência e não há outra forma senão na educação. Deixemos que as crianças novinhas saibam, cresçam sabendo da realidade, deixemos que os adolescentes manifestem sua essência sexual, e para os adultos machistas e violentos, punição! Não há outra saída: punição sem perdão”

Leida Reis
Escritora e editora

“Disse que seria a mulher do desejo dele. A mulher que desejasse eu seria. Com certeza. Aí ele falou baixinho: 'Meus amigos não podem saber, eles não podem saber de nada ou vão me chamar de boiola, isso tem que ficar entre nós, entre você e eu e vamos arrumar um lugar para a gente se encontrar para se divertir? E vou fazer de você uma mulher de verdade'”. Assim, a protagonista de “Mulheres arco-íris”, o terceiro romance da escritora e jornalista mineira Leida Reis, que será lançado hoje em Belo Horizonte, desmascara uma das faces do preconceito que sufoca mulheres trans ao relatar seu romance com um funcionário de uma mineradora.

A obra mostra também que a discriminação vai muito além do machismo, oprime também todas as mulheres, começa na família, dentro de casa. “Eu não sabia como ela ia reagir ao saber que além da primeira filha tinha mais uma e que era eu e eu poderia dizer a ela que não doía, se ela se importasse então em saber que não doía ao contrário o que doía era ficar para sempre no corpo de homem que ela certamente achava que era o meu”, reflete a protagonista, que tem sua sexualidade feminina aprisionada em um corpo masculino.

Em “Mulheres arco-íris”, Leida Reis abre o leque da diversidade feminina. A personagem principal ainda procura um nome – se apresenta na primeira pessoa como narradora de sua própria sina e tem o leitor como confidente. Nascida menino, cresce e se reconhece mulher presa num corpo de homem. Mas tem dificuldade para encontrar um nome feminino (“Eu, afinal, tinha tudo. Só não tinha um nome”) porque o seu de batismo não lhe serve mais. A diversidade de “Mulheres arco-íris” conta também com Cássia, Alice e Carmen – apresentadas na terceira pessoa. Com narrativa ágil e econômica de palavras, sem divagações filosóficas ou existenciais, Leida Reis abre mão da pontuação formal da língua para emendar e intercalar ações e reflexões a fim de desnudar a crua realidade de cada personagem.

“O meu romance começa com a personagem trans porque ela se mostrou a mim, eu posso dizer isso: ela foi o ponto de partida. A princípio seria só a história dela, mas como eu costumo amarrar várias histórias e as personagens povoam com abundância minha mente, outras mulheres se mostraram com suas buscas pela liberdade e pela felicidade. Quando comecei a escrever, pensei em fugir de estereótipos, por isso a protagonista tem apoio da avó e dos irmãos, mas é como se a escrita se fizesse por si mesma e foi impossível não deparar com essa mãe, o primo, a tia e o tio que não aceitam nem sequer a homossexualidade”, conta Leida.

As mulheres do livro vivem em duas espécies de prisão, a do corpo masculino e a da opressão moral da sociedade. São duas lutas simultâneas pela superação e pela libertação. O enfrentamento desses preconceitos não é apenas diário, é a cada hora, a cada minuto, a cada segundo, o tempo todo, uma guerra permanente pelo reconhecimento e pela própria sobrevivência. A protagonista cita a mãe novamente: “Lá estava minha mãe e ela não sabia que eu era uma mulher, uma mulher como ela, mas eu sentia uma espécie de tontura porque não sabia que queria que ela soubesse da verdade eu não sabia como ela ia reagir ao saber que além da primeira filha tinha mais uma e que era eu e eu poderia dizer a ela que não doía, se ela se importasse então em saber que não doía ao contrário o que doía era ficar para sempre no corpo de homem que ela certamente achava que era o meu”.

Mais consciência

Menos mal quando se pensa que, apesar de toda a opressão ainda persistente, as mulheres agora estão atentas. “Hoje temos mais consciência do quanto a mulher é discriminada, do quanto sofre de preconceito e violência em suas modalidades física, moral, psicológica. Não que a violência tenha diminuído, mas as redes sociais ajudam na disseminação das informações. A luta pela superação é eterna e bastante injusta para nós, mulheres. Já é tempo de não termos mais que provar ser melhores que os homens porque, na verdade, somos igualmente competentes no que fazemos. Não precisamos provar. Mas isso nos é cobrado sim, especialmente das mais jovens, em construção de carreira e de lugar no mundo. Eu não tinha clareza dessa situação ao começar a escrita porque escrevo sem planejamento. Deixo fluir a escrita. Então, isso veio da minha própria visão da vida, porque o escritor de ficção não foge das suas experiências”, diz a escritora.

Em geral, salvo exceções de poucos familiares e amigxs, o enfrentamento desse mundo hostil para mulheres passa por educação e punição. “As mulheres LGBTQAPIN sofrem duplamente preconceito e violência e não há outra forma senão na educação. Deixemos que as crianças novinhas saibam, cresçam sabendo da realidade, deixemos que os adolescentes manifestem sua essência sexual, e para os adultos machistas e violentos, punição! Não há outra saída: punição sem perdão”, avalia Leida Reis. 

Capa do livro MULHERES ARCO-ÍRIS


• MULHERES ARCO-ÍRIS
• Leida Reis
• Editora Literíssima
• 220 páginas
• R$ 61 (impresso) R$ 34 (digital)



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