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Estado de Minas LANÇAMENTO

A vida e suas armadilhas retratados no primeiro livro de contos de Luciano Mendes

A primeira página e outros contos mexicanos aborda solturas de amarras, de uma espécie de liberdade que se conquista através dos contraditórios


16/10/2020 04:00 - atualizado 16/10/2020 09:03

Nascido em Pocrane, no Vale do Rio Doce, o professor mineiro Luciano Mendes acaba de lançar, pela editora Vienas Abertas, seu primeiro livro de contos, A primeira página e outros contos mexicanos. Revelando-se um belo contador de histórias, como todo mineiro, o escritor fala de solturas de amarras, de uma espécie de liberdade que se conquista através dos contrários, dos contraditórios, um sentimento agridoce forjado diante e dentro de armadilhas que a vida engendra.

Autor também do romance A morte do professor, ainda inédito, Mendes reuniu no livro recém-lançado histórias sobre o inevitável, amabilidades que acabam, não raro da forma mais crua e estúpida. São contos que falam das coisas que se desmancham com a chegada da velhice e revelam o trivial da vida cotidiana de gente simples.  

O maior destaque é o conto que dá nome ao livro: escrito em forma de relato, A primeira página é um bem montado thriller policial que mistura jornalismo, política, sexo com agilidade e eficácia. Ainda se destacam na edição os contos mexicanos Conhecer o país; Comer o país!; A herança maldita; e Uma viagem de metrô na Cidade do México. 

As virtudes dos livros superam os poucos percalços. Escrever é emaranhar-se. Na linguagem, no fluxo de alguma ideia. O conto, em sua essência, exige precisão nesse sentido. Precisão e fôlego de atleta. Mal comparando, o poema é relâmpago consumado; o conto, por sua vez, é um incêndio de grandes proporções. Tem a ver com intensidade, brilho e fascínio. Engana-se aquele que procura nas breves histórias um mero passatempo inconsequente.

Assim, cada parágrafo pode – e deve – ser decisivo para o bom ou o péssimo andamento da história. É preciso que o contista encontre a medida exata, o tempero certo para o bolo não desandar. Trata-se de uma ciranda na qual participam poucos integrantes, na qual todos são protagonistas, cada vírgula, a melodia da sintaxe, o tamanho das frases, as reticências, e por aí vai. 

Visto de cima, o conto mais parece um vespeiro, um formigueiro de palavras vivas. Se um elemento desanda, desaba por inteiro o castelo de cartas e palavras vivas.

Os contos do livro de Luciano Mendes falam sobre os problemas de se viver com medo, e sobre as consequências irreversíveis de tentarmos encarar a realidade sem as máscaras que o mesmo medo nos sugere, de forma rude e cínica. 

O autor mostra que a vida, formada por contingências que regem tantos desacertos, é sempre mais complexa e misteriosa do que pensamos e que é possível transitar dentro de tudo isso sem indícios de compaixão e ressentimentos. Cada um luta com as armas que possui.

A primeira página e outros contos mexicanos
Luciano Mendes
Editora Vieñas Abiertas
170 páginas
R$ 59,90 (livrarias Humanidades e Quixote)
R$ 20 (kindle na Amazon)


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