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Estado de Minas MEDICINA DO FUTURO

COVID-19: heróis da saúde também adoecem

Profissionais na linha de frente vivenciam uma experiência que assegura maior aprendizado, mas que acarreta graves consequências para a própria saúde mental


Medicina do Futuro
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Medicina do Futuro
postado em 12/07/2020 04:00 / atualizado em 01/12/2020 11:26


(foto: Gerd Altmann/Pixabay)
(foto: Gerd Altmann/Pixabay)

Se há preconceito contra os doentes mentais, não é surpresa ele também se aplicar entre os médicos que adoecem mentalmente. O novo coronavírus escancarou não só a precariedade física, mercadológica, estrutural e de logística do sistema de saúde, mas fez cair o véu de como anda a qualidade de vida dos profissionais que lidam com a dicotomia vida e morte diariamente.

Muitas vezes vistos como Super-Homem e Mulher Maravilha, eles aceitam e vestem a capa de super-heróis, e se esquecem de que não são invencíveis.

Diante do cenário provocado pela letalidade da COVID-19, muitos sentem a pressão (são humanos!), mas ainda assim resistem em gritar por socorro. Mas os médicos adoecem (assim como todos os profissionais da saúde), principalmente em meio ao caos de uma pandemia que exige tanto.

Esgotamento profissional (síndrome de Burnout), o estresse diante do alto nível de sofrimento, exaustão emocional, sensação de ineficácia, trabalho exigente, a depressão, escassez de recursos para desempenhar seu papel... São tantas as variáveis para afetá-los que eles têm de ser cuidados.

A doutora em psicologia Simone Borges de Carvalho, coordenadora do Serviço de Psicologia hospitalar da Rede Mater Dei de Saúde, afirma que existe uma tendência à resistência quando o médico se encontra em uma situação que o torna paciente.

Ela conta que a instituição começou a se preparar para esta pandemia em janeiro deste ano, com o vírus da COVID-19 surgindo na China. Quando chegou ao Brasil, uma série de medidas e protocolos já estavam sendo pensados para o enfrentamento da doença.

Dessa forma, o hospital pôde, rapidamente, disparar iniciativas que estudos consistentes e importantes, como os da Fiocruz, mostram ser de grande eficácia para combater impactos negativos advindos dessas situações.

Ela conta que já funcionava na rede uma mesa de crise para discussão das medidas necessárias a cada situação que se apresenta. Informações objetivas e claras foram repassadas aos profissionais, além de protocolos visando à proteção deles, bem como treinamento e capacitação para o uso de EPIs. Criou-se um grupo de coordenadores de todas as clínicas que tanto recebem dúvidas dos profissionais como orientam em tempo real.

DISCRIMINADOS 


Simone Borges lembra que o país vivencia a pandemia há três meses e, portanto, as demandas que se apresentaram no início não são as mesmas que se revelam agora e, por isso, é possível inferir que poderão ser diferentes no momento que está porvir.

“A gente escuta muitas vezes dos profissionais o medo de se contaminar e levar o vírus para um familiar, a dificuldade de lidar com o fato de serem discriminados. Ao mesmo tempo em que a sociedade os vê como heróis, também os vê como transmissores em potencial. E isso em grande parte das vezes é frustrante.”

Para a psicóloga, os profissionais da saúde vivem um momento de rupturas, de perdas. Já não há mais o cotidiano de antes, não convivem mais com os familiares e amigos como antes, não fazem coisas simples como ir ao supermercado.

Além disso, eles são lançados diante de uma realidade bem difícil: a COVID-19 coloca todos diante da possibilidade de morte, mas é o profissional de saúde quem vai lidar diretamente com essa realidade.

Quando o controle do vírus vier, como estarão esses profissionais da linha de frente? Simone Borges diz que esta é a pergunta que não quer se calar: como vai ser?.

“Não sabemos, mas acreditamos que muita coisa vai mudar na sociedade, no modo de viver, na forma de estar com as pessoas, inclusive na maneira de trabalhar. Vivenciamos um momento que nos coloca diante do limite da vida e isso não é sem consequência. Dificilmente o ser humano passa por uma experiência dessa sem que isso gere alguma mudança. Sintomas como estresse, depressão, ansiedade... Depende do tratamento que cada um vai dar a isso neste momento. É preciso cuidar agora para não desenvolver transtornos graves depois.”
 
 
 

 
Estratégias que ajudam 

 
 
 
» Buscar manter uma rotina de convívio social, mesmo que virtual

» Atividade física contribui de forma significativa para diminuir ansiedade, estresse e depressão

» Não se expor demasiadamente às notícias sobre a pandemia, já que o excesso pode ser gerador de ansiedade. A informação precisa ser clara, consistente, confiável e não ambígua para que tenha um impacto positivo

» É importante o profissional saber que sintomas de ansiedade, de estresse e de depressão são sintomas normais diante de uma situação anormal, bem como nos mostram os trabalhos da Fiocruz

» O profissional precisa estar atento a si, aos seus sintomas para procurar ajuda precocemente. Estudos mostram que boa parte das pessoas que apresentam tais sintomas, se não tratadas de forma precoce, podem desenvolver transtornos psíquicos mais graves em dois, três meses

» É fundamental que cada um busque aquilo que gosta de fazer, encontre algo que gere prazer e que possa ser feito nas condições impostas: a palavra de ordem é a criatividade. Cada um tem de criar, a seu modo, uma forma saudável de viver este momento 
 
 
 
 

três perguntas para...



Múcio Pereira Diniz, 
anestesiologista e diretor de serviços próprios da Unimed-BH 

1 Com a pandemia, como estão reagindo os intensivistas e demais especialistas que estão na linha de combate à COVID-19? Qual assistência eles têm?
Colocamos em prática diversas ações com o objetivo de trazer mais segurança aos profissionais. O foco está na capacitação, autocuidado e prevenção. Desde o início da pandemia, os médicos têm acesso a vários conteúdos educacionais, por meio de podcasts e vídeos de especialistas com enfoque voltado para o novo coronavírus. Investimos fortemente na compra de insumos de proteção individual e na capacitação das equipes quanto ao uso de EPIs. Adotamos outras ações, como a distribuição de máscaras de proteção para uso social e a opção de afastamento para médicos com mais de 60 anos e com comorbidades. Para trazer mais segurança financeira para aqueles que precisaram reduzir sua carga de trabalho nos consultórios em decorrência das orientações de isolamento social, a cooperativa disponibilizou a oportunidade de antecipação de 70% dos valores de produção aos cooperados. E lançamos a opção da consulta on-line. A Unimed-BH tem usado seu capital humano, seu know-how em inovação e toda a sua tecnologia para apoiar os cooperados e as equipes assistenciais.

2 - Há, especialmente, atenção quanto à saúde mental desses profissionais?
Passamos a oferecer serviços de acolhimento psicológico para as equipes e cada unidade assistencial da rede própria da Unimed-BH tem um psicólogo exclusivo para atendimento aos médicos, enfermeiros e outros profissionais da linha de frente. Os médicos que atuam nos consultórios também têm a possibilidade de fazer sessões com psicólogo de forma on-line – ação que faz parte do nosso Programa Saúde do Co- operado. O objetivo é oferecer todo o apoio necessário para a manutenção da saúde mental.

3 - Muitos profissionais relutam em buscar ajuda. Qual o cuidado para aliviar a pressão?
A Unimed-BH tem atuado em várias frentes. Convidamos os profissionais para participarem de eventos virtuais que trouxeram, por exemplo, o filósofo Clóvis de Barros e o tenente do Corpo de Bombeiros Pedro Aihara – que atuou durante a tragédia em Brumadinho. O objetivo foi promover reflexões positivas sobre como lidar com momentos de incerteza, como o que estamos vivendo. A cooperativa, por meio do Instituto Unimed-BH e seus parceiros culturais, tem promovido diversas ações de entretenimento, como shows, peças teatrais e conteúdos voltados para o bem-estar. E com foco na qualidade de vida neste período de isolamento social, incentivamos a prática de atividades físicas em casa.

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