Enquanto a humanidade ainda luta para se recuperar da tragédia sanitária causada pela pandemia do novo coronavírus, o planeta segue mandando sinais de que é preciso tratar de outra doença grave que o acomete: o aquecimento global. Nos últimos dias, fenômenos climáticos extremos têm dado a dimensão da importância de se preservar florestas e mananciais, replantar árvores e reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa.
No hemisfério Norte, temperaturas muito altas sufocam regiões normalmente mais amenas. Na Europa, Moscou, por exemplo, teve a mais forte onda de tempo quente em 120 anos, com termômetros na casa dos 35 graus dias seguidos. O mesmo ocorre em regiões dos Estados Unidos. Em Boston, na semana passada, o registro chegou a 37 graus. E até no Canadá, país tipicamente frio, vizinho ao Polo Norte, o calor bateu recordes históricos, atingindo inacreditáveis 49 graus na região da Columbia Britânica, onde fica Vancouver, sendo apontado como responsável pela morte de centenas de pessoas.
Mesmo considerando-se que é verão no Canadá, trata-se de um calor que não se sente nem nas mais quentes cidades brasileiras. Aliás, no Brasil tropical, a situação se inverteu, com um frio de trincar os dentes no Sudeste e até no Centro-Oeste, além do Sul, com temperaturas abaixo de zero em várias localidades, sobretudo nas serras Gaúcha e Catarinense, onde caiu neve por dias seguidos, o que é incomum.
Em outro contraste ambiental preocupante no Brasil, o Rio Negro teve no mês passado sua maior cheia desde o início das medições, em 1902, alcançando 30,02 metros e deixando boa parte de Manaus debaixo d’água, enquanto no Centro-Oeste e Sudeste a estiagem mais severa em 90 anos esvazia para menos de 30% da capacidade os reservatórios das hidrelétricas responsáveis pela maior parte da energia produzida no país.
Todos esses fenômenos evidenciam a urgente necessidade de se cuidar melhor do meio ambiente e conter o aquecimento. Nesse sentido, um ponto positivo é a radical mudança de postura do governo norte-americano após a eleição de Joe Biden, que se propõe a dar prioridade à questão climática e levou os EUA de volta ao Acordo de Paris. O país havia deixado o tratado no governo do antecessor de Biden, Donald Trump, em uma de suas muitas manifestações de desprezo às causas ambientais.
Seria importante uma mudança de postura também no Brasil. Principalmente após a saída de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente, cuja gestão, que vinha desde o início do governo Bolsonaro, foi marcada pelo relaxamento na fiscalização e recordes de desmatamentos e de queimadas na Amazônia. O bioma, por sinal, sofreu em junho com o maior número de focos de incêndio (2.308) para o mês em 14 anos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Está mais do que na hora de uma correção de rumo, no sentido do fortalecimento da preservação ambiental e da busca do desenvolvimento sustentável, para garantir um futuro melhor aos brasileiros e ao resto do mundo.
