Francisco Alvares Bassoli
Gerente comercial do Travelex Bank
Faço um convite a refletirmos sobre o futuro do turismo, o famoso 'turismo pós-pandemia'. É fato que esse foi um dos setores mais afetados pela COVID-19. Recentemente, a ONU divulgou uma estimativa de até US$ 3,3 trilhões de perdas para o turismo.
Antes de mais nada, por mais tímido que seja, é possível ver o positivismo de empresas do setor. Especialistas comentam que voltamos ao turbulento 2001, mas nem mesmo nessa ocasião vi tanta colaboração e união em busca de uma melhora comum.
A Disney reabriu. Mas ninguém pode abraçar o Mickey. Quando um dos maiores símbolos do turismo e do entretenimento no mundo fez o anúncio, a sensação foi mesmo a de que nada mais será como antes. Quem aproveitou, aproveitou. Vamos contar aos nossos netos como era visitar o Coliseu sem máscaras, ver shows na Broadway em cadeiras coladinhas, e ir a aglomerações de festas populares como nosso carnaval.
Seria o fim do jeitinho brasileiro de explorar o mundo e receber turistas? O calor humano substituído por um aceno e litros de álcool em gel? O que estamos observando, como parceiro importante de prestadores de serviços do setor, é que uma adaptação aos novos tempos é mais do que necessária para dar sequência às atividades que representam, na média histórica, cerca de 8% do PIB do Brasil. A tendência, por ora, é de um turismo mais individualizado.
O Ministério do Turismo lançou, em junho, o selo Turismo Responsável, que orienta prestadores de serviços do setor – incluindo de hospedagem, guia turístico a bares e restaurantes – sobre quais protocolos devem ser adotados para receber turistas. Para ter o certificado de empresa confiável em tempos de crise sanitária, é preciso estar listado no Cadastro dos Prestadores de Serviços Turísticos (Cadastur) e reportar o enquadradramento aos protocolos exigidos. Na lista, itens como uso das áreas de lazer só sob agendamento e os famosos cafés da manhã de hotel sem mais bufês fartos para se servir à vontade. Tudo com acesso restrito, sem risco de contaminação. Além, claro, da frequente higienização, orientação para uso de máscaras e distanciamento social, comum a outros setores.
Nesse cenário e com as fronteiras ainda fechadas para o turismo de larga escala, saem na frente as empresas que se habilitarem ao selo e focar na experiência mais personalizada, especialmente em destinos nacionais com atrações a céu aberto, como o litoral ou o turismo rural. Hospedagens mais restritas, como imóveis de aluguel para temporada, também ganham tração nessa primeira onda de enfrentamento à COVID-19 pelo setor.
E no futuro? Nada será como antes? Talvez até a vacina e um tratamento conhecido o suficiente varrerem o medo para longe, o turismo viva uma experiência nova. Tudo indica que nosso melhor paralelo esteja no que o mundo passou após o 11 de Setembro, quando a rigidez nos controles de segurança atingiu outro patamar. Sim, houve medo no começo, mas depois tudo retomou seu ritmo, sob um olhar mais atento aos riscos, com legado até hoje.
A vigilância na segurança sanitária deve ser esse "novo normal", com padrões mais elevados de higiene, o que é uma excelente notícia. A experiência de viagens gradualmente tende a retomar o perfil de antes, contudo, sob essa nova régua.
A reabertura do turismo com o verão europeu está sendo um bom teste. Os cafés, símbolos de Paris, já tomaram as calçadas, respeitando, claro, o distanciamento social. Até ursos de pelúcia são usados para demarcar espaços em restaurantes da Europa e plantas são o público de concertos. É a criatividade, tão presente também no Brasil, que deve dar o tom neste primeiro momento.
O nosso retrovisor também traz esperanças de um futuro promissor. Após um ano devastado pela gripe espanhola, o Brasil de 1919 saiu da quarentena com um anseio tão grande de celebrar o coletivo e experiências novas que registrou um dos anos mais pujantes para o entretenimento, com o Rio de Janeiro tendo o que é considerado até hoje o melhor carnaval de todos os tempos. Que venha 2021!
