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Benz, linda, partiu. Pilotando seu avião


28/09/2020 04:00 - atualizado 27/09/2020 20:27

Fábio P. Doyle
Da Academia Mineira de Letras Jornalista


Beatriz Romanó Peixoto manda mensagem comunicando a morte de Maria Aparecida Benz. Beatriz e Aparecida Benz tinham em comum para a sua geração a beleza.

Beatriz, felizmente, continua bela e atuante. Aparecida Benz, que foi Miss Minas Gerais no final dos anos 50, partiu há alguns dias. Eleita pelo júri e pelo público a mais bela mineira, ficou em segundo lugar, apesar de favorita de todos, na disputa do Miss Brasil.

Filha de alemães, olhos azuis, ela nasceu em Governador Valadares, terra de meu amigo e colega Nilo Costa, de quem era amiga também. Nilo morava, enquanto estudante, no Grande Hotel, só para ricos e importantes, na Rua da Bahia.

Benz, famosa pela beleza, era avançada para uma época em que mulheres raramente dirigiam carros. Ela pilotava seu próprio avião, e foi pilotando que voou até o Rio para disputar o Miss Brasil, com enorme repercussão na imprensa e na população.
Mas os famosos, com o passar dos tempos, algumas vezes são esquecidos. Não vi nenhuma referência, nem um pequeno registro, na imprensa, lamentavelmente alienada de alguns eventos do passado, sobre a partida definitiva da moça bonita que tanto destaque teve, além da beleza, por quebrar a tradição masculina ao pilotar o seu próprio aviãozinho. Alienação que, aqui do meu canto, procuro corrigir. Boa viagem, menina linda!

Guglielmo

Outro que partiu foi o chef Memmo. Este com ampla e merecida cobertura na mídia. Nascido em Monsummano Terme, na Toscana, uma das regiões mais bonitas da Itália, foi batizado lá como Guglielmo Alfredo Gino Biadi. Seu restaurante, na Tomé de Souza com Levindo Lopes, o Dona Derna, nome da fundadora, Derna Biadi, sua mãe, era dos melhores de BH, especializado na boa comida italiana.

A história do restaurante é bem mais antiga. Remonta à década de 60 do século passado. Fui, com Rachel, um dos primeiros frequentadores do Fontana di Trevi, lá na Amazonas, dois quarteirões abaixo da Praça Sete. E nos tornamos amigos da proprietária, a italiana d. Derna, ainda mantendo o sotaque da Toscana. Amigos e fregueses, quase sempre aos domingos, com meus filhos ainda crianças. Tão amigos que a mãe de Memmo e Matilde, quase crianças também, sempre me servia, ela mesma, os pratos de massas deliciosas que preparava na cozinha. E nunca deixou de me servir, ao longo de sua vida, até o final, já na Tomé de Souza, do outro lado da rua, em um sobrado quase esquina com Bahia.

Matilde, sua filha, tornou-se mais próxima. Memmo, bom amigo mas mais fechado, desde a adolescência trabalhou com a mãe no preparo do cardápio.

Matilde, descontraída, bonita, foi trabalhar no escritório da Alitalia, empresa aérea italiana, em BH, sem abandonar sua paixão pelo teatro. Foi atriz, diretora de peças. Eu a levei para fazer parte da equipe que iria transformar o Diário da Tarde, vespertino policial e futebolístico, em um jornal eclético, cobrindo política, economia, cinema, música, funcionalismo público, veículos etc..

Talentosa, ela criou uma coluna sobre atividades teatrais, que despontavam no movimento cultural da cidade. A mudança editorial foi um sucesso. Duplicou a tiragem do jornal, que só poderia ser vendido nas bancas e por jornaleiros, sem assinantes. A edição sobre a morte de Jk em um acidente de carro superou os 100 mil exemplares. O novo DT foi elogiado pelos diretores Geraldo Teixeira da Costa e Pedro Aguinaldo Fulgêncio: "O DT não fica nada a dever editorialmente ao Globo", dizia a mensagem que está guardada.

A equipe que reformulou e duplicou, ou mais, a tiragem do DT era formada por especialistas em suas áreas. Morgan da Motta, nas artes, João Bosco Barbosa, que criou a editoria da Grande BH, e outros do mesmo gabarito. Voltarei outro dia com mais nomes e detalhes. É uma história de sucesso editorial que merece ser contada.

Sucesso que, por justiça, contou com a participação de Maria Emilia Ricciardi Coelho, Rosana Seixas Martins, secretárias competentes, e do advogado e jornalista Carlos Magno de Almeida, redator-chefe, sério, austero, leal, dedicado, que também, como os dois que motivaram esta conversa, partiu há dias, de repente, sem se despedir dos amigos e discípulos que tanto o admiravam e respeitavam. É a vida.

E vale lembrar, voltando ao pub do Memmo na Tomé de Souza com Levindo Lopes, uma confraria famosa que ali se reunia todas as quartas-feiras, ocupando uma mesa comprida colocada no passeio. Era formada por mais de uma dezena de comensais, entre eles Nelson Rigotto, meu primo, rico e modesto, por Tão Henriques, Eduardo Brasil, Boris Feldman, Décio Martins Filho, Lincoln Sabino e outros. Era, também, meu refúgio do trabalho, nas quartas à noite, onde podia tomar tranquilo meu Old Parr na companhia de José Otávio Alkmin, sempre, de amigos e amigas queridos. Pois a nossa mesa, o nosso Old Parr, deixaram de nos receber no começo do ano passado, quando o Memmo, talvez já cansado, decidiu não abrir mais à noite o seu e nosso ponto de encontro. Não se imaginava, ainda, a chegada do vírus chinês, que desde março mata e fecha tudo aqui e no mundo. A confraria tentou se manter em outro lugar. Mas nunca mais foi a mesma.


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