
As investigações começaram há dois meses, com a prisão de Gabriel dos Santos Lima, integrante do PCC e responsável pelo recrutamento de novos faccionados em Brazlândia. À época, foram identificadas ordens de ataque à polícia e à população de Brazlândia emitidas por Walter Pereira de Lima, também membro da facção paulista e pai de Gabriel.
Walter foi incluído no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) e determinou ao filho, por meio de recados enviados de dentro da cadeia, além de recrutar novos membros, a missão de atacar policiais e atear fogo nos ônibus da cidade. O objetivo era gerar pânico na cidade e atacar grupos rivais.
O detento também teria se envolvido na transmissão de recados ameaçadores a um delegado da PCDF e à juíza da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal (VEP) Leila Cury. No manuscrito, Walter ordenava o sequestro de um membro da família da magistrada, na tentativa de coagi-la a expedir alvarás de soltura de internos.
Recrutamento e tribunal
Conforme revelaram as investigações, os faccionados do PCC exigiram para o recrutamento de dois novos integrantes que eles matassem o sobrinho de um policial militar de Brazlândia. Os autores aceitaram a proposta e a vítima, de 37 anos, foi morta à luz do dia, na quadra 58 da Vila São José de Brazlândia, em 25 de setembro de 2022. Após a empreitada, os criminosos foram filiados ao PCC. Ambos foram presos na manhã desta segunda-feira.
Como regra, a facção impõe o Tribunal do Crime, uma espécie de julgamento feito pelos próprios integrantes da organização criminosa para casos de traição, por exemplo. Recados mostram dois faccuobafos de Brasília decidindo sobre a tortura e morte de um integrante da esposa dele, que teriam traído a organização criminosa.
Segundo as conversas, em meio à tortura, os executores deveriam dizer aos traidores que eles iriam sobreviver. Isso garantiria a colheita de informações sensíveis antes da execução do casal. Também foi captada deliberação e decisão sobre a morte de um inimigo local da facção.
- PF apreende avião da Igreja Quadrangular com 290kg de maconha
- Bebê de 9 meses cai de prédio no ES; polícia investiga violência doméstica
Ligação
Uma das mulheres presas pela PCDF na manhã de hoje era o elo entre os membros do PCC do Distrito Federal e a alta cúpula – “sintonia final” – da facção no estado de São Paulo. Ela era responsável por transmitir os recados dos faccionados presos para a “sintonia final”, bem como se empenhava na resolução de demandas trazidas pelos faccionados no interior do estabelecimento prisional.
As investigações mostraram que foi ela quem transmitiu o pedido de socorro do PCC local para a “sintonia final”, em razão do suposto crescimento do Comboio do Cão. O recado foi escrito por um preso lotado na Penitenciária do Distrito Federal 1 (PDF 1). O manuscrito deixa claro a disputa entre as duas facções. "Estamos vivendo uma situação de abandono e opressão tanto pelo Estado e tanto por uma quadrilha que se denomina Comboio do Cão. Precisamos deatenção do PCC com urgência. Só uma facção do nosso porte para nos amparar e lutar em bando e bem armado contra ao estado no centro do poder", escreve.
O detento fala sobre o Comboio do Cão "brecar" o PCC no sistema penitenciário e "impedir" de "pregar" a ideologia da organização criminosa fundada no DF. "Disseram que vão batizar excluídos e decretados pelo PCC e que o projeto deles já foram lançados pra rua, pra nos brecar na rua também." Ainda segundo o faccionado, há 27 integrantes do PCC no pátio e 80 do CDC, o que resultaria em uma certa preocupação. "Somos minoria em todos os blocos e a maioria é sempre CDC". Por fim, o detento pede auxílio da "Sintonia do Estado", núcleo do PCC.
