
Ao entrar no quarto do homem de 90 anos, que sofria com sequelas de AVC e hipertenso, ela foi recebida aos gritos pela esposa do paciente, que questionava o fato de ela ser negra. "E agora, fulano, ela é negra!", disse desesperado ao filho. "Tudo bem, mamãe, ela está usando luvas", respondeu o homem.
Apesar das falas racistas, a profissional de saúde seguiu o atendimento. "A vítima foi devidamente atendida pelas minhas mãos negras enluvadas e deixada aos cuidados do hospital privado que a família preferiu", afirmou Laura.
A socorrista ainda afirmou que é preciso ter "muita resiliência" para lidar com situações do tipo, mas que nunca cogitou em negar o atendimento necessitado pelo homem. "Se você está perguntando porque essas pessoas receberam o melhor tratamento possível, eu respondo: quem eles são não muda quem eu sou", pontua a profissional.
O caso de racismo foi denunciado pela profissional de saúde nas redes sociais e causou comoção. Muitos apoiaram e parabenizaram a atitude da profissional, outros perguntaram o motivo dela não ter chamado a polícia, já que injúria racial é crime.
Laura afirmou que a prioridade dela era o paciente, mas que também não se vê em uma disputa judicial com "gente desse nível". "O policiamento não foi acionado. A vítima necessitava de atendimento imediato e embora eu tenha consciência de que seja crime, não tenho disposição para lidar com gente desse nível. Eu chego a sentir pena e triste, mas não por mim, por eles", disse.
No entanto, o Samu informou, em nota, que "as providências necessárias estão sendo tomadas" e que "encoraja e estimula os profissionais para que, em casos como esse, sejam notificados de imediato às chefias e às autoridades competentes".
A dupla de Laura no plantão, o socorrista Alex Vasconcelos, ressaltou o profissionalismo da colega. "Presenciado por mim: o atendimento foi excelente como todos têm direito, mesmo estando do outro lado uma pessoa racista. Você não perdeu o foco e fez o seu melhor como sempre", frisou.
Caso não é isolado, diz dados de Conselho Regional de Enfermagem
O episódio sofrido por Laura não é um caso isolado. De acordo com dados do Conselho Regional de Enfermagem e da Articulação Nacional da Enfermagem Negra, 55% dos profissionais entrevistados e que atuam em São Paulo, afirmaram que sofreram racismo dos pacientes que atenderam. Outros 64% já perceberam práticas racistas dentro da unidade de saúde em que trabalham.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou que lamenta o ocorrido e "repudia qualquer caso de discriminação, com cunhos racistas e preconceituosos". "Casos deste tipo devem ser tratados com a máxima seriedade e em todos os âmbitos".
