Jornal Estado de Minas

RETROSPECTIVA 2021

Chegada da vacina e CPI da COVID: os principais acontecimentos da pandemia

"Vax", a abreviação em inglês para a palavra vacina, foi escolhida como a palavra do ano em 2021 pelo Oxford English Dictionary. A escolha não foi atoa. Este ano será sempre lembrado como aquele em que a vacinação contra a covid-19 se tornou possível. O ano termina com quase 50% da população mundial imunizada. No Brasil são 66% das pessoas que já tomaram duas doses. Apesar disso, o terror da pandemia ainda assombra, principalmente com a chegada da variante ômicron, que ameaça ser mais transmissível e mais resistente aos imunizantes.





Confira os principais pontos no combate a pandemia em 2021
O atraso na imunização

Enquanto alguns países, como Reino Unido e Estados Unidos, deram a largada na vacinação ainda no início de dezembro de 2020, o Brasil só começou a vacinar a população em janeiro, após um intenso embate entre o Ministério da Saúde e os governadores do país - principalmente o de São Paulo, João Doria (PSDB).

Os líderes das unidades federativas acusaram o governo Bolsonaro de não se movimentar para comprar as vacinas já aprovadas em dezembro de 2020, como a Coronavac, da China, e a AstraZeneca, da Índia. O então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a dizer que a vacinação iria "começar no dia D, na hora H", ao ser questionado sobre a demora na aquisição das doses. Ele também previa que a imunização começaria em 10 de fevereiro.

Com a previsão distante, as instituições de saúde Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Butantan decidiram iniciar negociações próprias. A primeira solicitou o uso da AstraZeneca e o segundo a Coronavac - as doses foram importadas.





Em 4 de janeiro, a Anvisa autorizou o pedido de importação de 2 milhões de doses da AstraZeneca, feito pela Fiocruz, que alegou querer "possibilitar o início da vacinação ainda em janeiro". No entanto, o governo Bolsonaro não se manifestou sobre um calendário.

Crise de Manaus

Em meio à hesitação do governo, uma outra crise sanitária entrou em cena: o colapso do sistema de saúde público de Manaus, capital do Amazonas,. A falta de cilindros de oxigênio atingiu a rede, fato que foi denunciado pelo médico e presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, Mário Viana, em 14 de janeiro. A escassez do material causou a morte compulsória de vários pacientes que não conseguiram atendimento.


O governador da cidade, Wilson Lima, já havia alertado sobre a possibilidade do colapso desde 10 de dezembro. O presidente da República, no entanto, culpou a liderança local por "deixar acabar" o oxigênio. O chefe do Executivo ainda afirmou que a causa do caos era porque "não faziam tratamento precoce" na cidade.





Em 21 de janeiro, fontes ligadas ao Correio revelaram que "regras foram passadas" para que os médicos escolhessem quem iria viver ou morrer. Aqueles em estado terminal ou com situação irreversível não seriam mais enviados à UTI.

A crise virou pauta para a CPI da Covid (leia no tópico de mesmo nome).

A primeira vacina

Foi uma atitude do governador João Doria (PSDB) que mudou o cenário de espera dos milhões de brasileiros que temiam mais mortes além dos 210 mil óbitos registrados em 17 de janeiro, dia em que a primeira vacina foi aplicada.

Minutos após a Anvisa aprovar o uso emergencial da CoronaVac e da AstraZeneca, Doria promoveu a imunização da primeira pessoa do Brasil: a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, que atuava na linha de frente do combate ao vírus no Hospital Emílio Ribas.





Na ocasião, o político informou que a data era "o Dia V, Dia da vitória, Dia da vacina", em referência à fala de Pazuello. "O triunfo da vida contra os negacionistas e contra aqueles que preferem o cheiro da morte. É uma conquista que fortalece milhões de pessoas que defendem a vida", disse.

A iniciativa rendeu críticas de Pazuello, que anunciou, no mesmo dia, que tinha os imunizantes em mãos, mas não iria iniciar a vacinação no domingo (17/1) em um "ato simbólico ou um ato de marketing". Depois da fala do ministro da Saúde, o envio de doses para outros estados começou a ser feito em 19 de janeiro, dois dias após a vacinação promovida por Doria. Entre atrasos e falta de logística, a campanha de vacinação foi iniciada no país, quando o mundo registrava 2 milhões de mortos pela doença.

O atraso no início da campanha recebeu inúmeras críticas, ainda mais quando foi revelado na CPI da Covid que o país recusou pelo menos seis ofertas da farmacêutica Pfizer. Apesar do início tardio, a tradição do Brasil na vacinação fez a diferença e o Brasil termina o ano com mais pessoas imunizadas do que países que começaram suas campanhas primeiro.





Volta às aulas

Após quase dois anos com aulas remotas, vários estados e o DF iniciaram o movimento de retomada ao presencial. Especialistas calculam que as perdas para a educação foram imensas e será preciso um bom investimento na área para recuperar o atraso.

Volta as aulas presenciais noJardim de Infância 04 Gama (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

CPI da Covid

Pouco mais de um ano após o primeiro caso de covid-19 ser registrado no Brasil e, naquele momento, com mais de duas mil mortes pela doença no país, o Senado deu início a CPI da Covid em abril. O requerimento para criação da Comissão Parlamentar de Inquérito foi apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o objetivo era avaliar as ações e omissões do governo federal no combate à pandemia.

Foram cinco meses e 29 dias e 65 sessões, que gerou um relatório final de 1.180 páginas. Nele, foram apontados como responsáveis por crimes na gestão da pandemia, 66 pessoas e duas empresas, entre elas o presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o ex-ministro Eduardo Pazuello, e os três filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro.





A comissão revelou a tentativa frustrada de corrupção na compra de vacinas da AstraZeneca pelo Ministério da Saúde por meio da empresa Davati, por um dólar superfaturado por cada dose; a tentativa de vender ao Ministério da Saúde a vacina indiana Covaxin, com o envolvimento das empresas Precisa Medicamentos, VTCLog e FIB Bank, em um contrato fraudulento; e a ocultação de mortes, a prescrição do 'kit covid' - que contém medicamentos comprovadamente não eficazes contra a doença - e o uso de pacientes como cobaias em testes de medicamentos pela Prevent Senior. Além disso, foi revelado que o governo negou a oferta de 70 milhões de doses da Pfizer em agosto de 2020 e que o governo já sabia que o sistema de saúde de Manaus iria colapsar, mas só enviou ajuda quando a situação já tinha se agravado.

O terror da variante ômicron

Em novembro, a África do Sul reportaria à Organização Mundial da Saúde (OMS) a identificação de uma nova cepa do coronavírus. A descoberta da mutação ocorreu em simultâneo com um grande aumento de casos da doença no país. Poucos dias depois, a OMS classificaria a ômicron como "variante de preocupação". Vários países começaram a fechar suas fronteiras para países do sul da África, inclusive o Brasil.

A variante preocupa pelo número alto de mutações. Os primeiros estudos mostram que a eficácia da vacina é menor contra ela, o que fez com que muitas fabricantes anunciassem estarem trabalhando em uma nova versão. Apesar disso, muitos especialistas se mostraram entusiasmados com a possibilidade da cepa ser menos agressiva. No início de dezembro, o Reino Unido registrou a primeira morte de uma pessoa infectada com a cepa.





No Brasil, a Anvisa recomendou que fosse adotado o passaporte da vacina como medida para evitar uma nova onda. O presidente Bolsonaro chamou o passaporte de "coleira" e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que era melhor "perder a vida do que a liberdade", ao rejeitar a ideia. Em vez disso, o governo adotou a exigência de quarentena de cinco dias para não ser vacinado. Há um dia da medida entrar em vigor, o site do Ministério da Saúde e o aplicativo ConecteSUS sofreram um ataque hacker que obrigou o governo a adiar em uma semana as novas regras.

Antes disso, porém, o Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que somente vacinados pudessem entrar no país. Nesta segunda-feira (20/12), o governo publicou uma nova portaria que passa a exigir que o comprovante de vacinação dos imunizantes aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ou pelas autoridades do país em que o viajante foi imunizado. 

Vacina para crianças

Enquanto muitos países ainda não conseguiram chegar a nem um terço da população adulta vacinada contra a covid-19, outros iniciaram em 2021 a imunização de crianças. No Brasil, a vacina da Pfizer recebeu autorização, primeiro, para ser aplicada em adolescentes e em dezembro para ser administrada em crianças a partir de cinco anos.





Em setembro, o Ministério da Saúde causou polêmica ao rever as orientações sobre a campanha nacional de imunização e passar a não recomendar que adolescentes em comorbidade tomassem a vacina. Mais uma vez, a questão foi parar no STF que decidiu por dar autonomia para que estados e municípios continuassem a aplicar o imunizante na faixa etária.

Quanto a vacinação a partir dos cincos anos, o governo disse que só irá se manifestar sobre a questão em janeiro. Porém, o presidente Jair Bolsonaro causou polêmica ao ameaçar interferir na Anvisa. Extraoficialmente,  o presidente pediu o nome das pessoas responsáveis pela aprovação da vacinação de crianças.

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