
A agressão ocorreu por volta das 22h30. Andresa e o produtor musical Jônatas Santana estavam há cerca de duas horas cantando, quando alguns clientes começaram a fazer pedidos de músicas. Prontamente, eles atenderam às solicitações. "A casa tava cheia, principalmente na área onde fica o palco. Na minha frente tinha uma mesa com alguns gringos que se divertiam bastante", conta Andresa.
Em outra mesa, no canto do palco, estava a agressora com um grupo de mulheres. Segundo ela, elas pediam, insistentemente, para Andresa cantar uma música que ela já havia cantado. "O garçom chegou a vir me dizer e eu disse que já tinha cantado e perguntei se era pra repetir e ele disse que era pra eu fazer o que eu achasse melhor. Decidi cantar de novo", diz.
A mulher e outras três amigas então teriam ido para a frente do palco, dançaram, sorriram e cantaram a música -- Fly me to the moon, originalmente cantada por Frank Sinatra. No fim da música, as mulheres foram se sentar, menos uma - a que teria proferido as agressões. A mulher teria ido até Andressa e dito que ela não sabia cantar e que tinha errado a letra.
"Elas estavam bêbadas e também pela idade, tentei ir levando. Mas ela foi insistindo. Chegou uma hora que ela falou que a palavra que eu errei era 'word', e eu repetia dizendo que não. E ela insistia", desabafa a cantora. Logo depois, a mulher teria pedido que a cantora parasse de sorrir, subiu no palco e disse para ela aprender a cantar.
Antes de voltar para a mesa, ela teria ainda desferido dois tapas no braço da artista e disse em seguida: "Aprende a cantar, sua negra". "Eu fiquei sem entender. Falei para o Jônatas o que aconteceu e me diluí, comecei a chorar muito. Ela ficou gritando da mesa que 'essa negra tem que aprender a cantar' e eu só conseguia chorar", lembra.
Denúncia
Logo depois da agressão, a gerente do restaurante a auxiliou, pediu que terminasse o show, ofereceu água e a levou para um local calmo. Depois, os músicos chamaram a polícia para denunciar o ocorrido. Jônatas contou, ainda, que a agressora estava acompanhada por outras mulheres e que uma delas se identificou como delegada, como uma forma de evitar que a dupla chamasse a polícia.
"A cereja do bolo foi uma delas dizer que era delegada, igual a gente vê nos vídeos, mas eu disse que não interessava. Não deixem o racismo prevalecer. Quando ver alguém sendo racista, chame a polícia", afirmou o músico. O boletim de ocorrência foi feito e o caso é investigado como injúria racial e "vias de fato".
Andresa diz que o policial abordou a mulher na saída do restaurante, mas que ela não foi levada à delegacia porque "não tinha condições de ir".
À repostagem, a Polícia Civil do Distrito Federal disse que o caso está em investigação. De acordo com a corporação, Andresa forneceu uma imagem do veículo da agressora, que não foi levada à delegacia porque "se evadiu do local". A PCDF afirmou ainda que Andresa "manifestou interesse em representar criminalmente em desfavor da autora" e que a 1ª DP vai auxiliá-la.
A cantora afirma que vai levar o caso adiante para mostrar que ações enraizadas no racismo têm consequências. "Com todo apoio que tenho recebido, não vou deixar barato. Por muitas vezes a gente se cala, mas com tanta gente comigo, eu vou fazer e buscar justiça em nome de tantos que não conseguiram denunciar", declara.
Conheça
Andresa Sousa é um talento da capital. A voz poderosa embala canções de pop, MPB, jazz e bossa nova. Confira a interpretação da cantora:
