Nunca se morreu tanto e se nasceu tão pouco em um primeiro semestre como neste ano de 2021. Esta é a conclusão dos dados estatísticos dos Cartórios de Registro Civil no Brasil, que mostram a menor diferença já vista entre nascimentos e mortes nos primeiros seis meses do ano, desde o início da série histórica em 2003.
A pandemia da COVID-19 é um dos fatores que vem causando esse impacto nas estatísticas vitais da população brasileira. Além das mais de 525 mil vítimas fatais atingidas pela doença, o novo coronavírus alterou a demografia de uma forma nunca vista.
Os dados são do Portal da Transparência do Registro Civil, base de dados abastecida em tempo real pelos atos de nascimentos, casamentos e mortes praticados pelos Cartórios de Registro Civil do país.
Administrada pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), os dados são cruzados com os históricos do estudo Estatísticas do Registro Civil, promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baseado nos registros dos próprios cartórios brasileiros.
Em números absolutos, os cartórios do país registraram 956.534 mortes até o final de junho. O número - que já é o maior da história em um primeiro semestre - é 67,7% maior que a média histórica de óbitos no Brasil.
Além disso, é 37,3% maior que os ocorridos no ano passado, com a pandemia já instalada há quatro meses no país. Já com relação a 2019, ano anterior à chegada da pandemia, o aumento no número de mortes foi de 52,8%.
Nascimentos e crescimento vegetativo
O Brasil também registrou o menor número de nascidos vivos em um primeiro semestre desde o início da série histórica em 2003.
Até o final de junho foram registrados 1.325.394 nascimentos, número 10% menor que a média no país desde 2003, e 0,09% menor que no ano passado. Com relação à 2019, ano anterior à chegada da pandemia, o número de nascimentos caiu 8,6% no Brasil.
O resultado da equação entre o maior número de mortes da série histórica em um primeiro semestre versus o menor número de nascimentos da série no mesmo período é o menor crescimento vegetativo da população em um semestre no país. Com isso, o número de nascimentos e de óbitos nunca esteve tão próximo.
A diferença entre eles, que sempre esteve na média de 901.594 mil nascimentos a mais, caiu para apenas 368.860 mil em 2021, uma redução de 59,1% na variação em relação à média histórica. Comparada a 2020, a queda foi de 41,4%, e em relação a 2019 foi de 55,2%.
"O Portal da Transparência vem sendo usado por toda a sociedade para ter um retrato fiel do que tem acontecido no país neste momento de pandemia", explica Gustavo Renato Fiscarelli, presidente da Arpen-Brasil.
"Os números mostram claramente os impactos da doença em nossa sociedade e possibilitam que os gestores públicos possam planejar as diversas políticas sociais com base nos dados compilados pelos cartórios", completa.
Natalidade e Casamentos
Embora não seja a regra, a série histórica do Registro Civil demonstra que o aumento no número de casamentos está diretamente ligado ao aumento da taxa de natalidade no Brasil.
Assim, os nascimentos ainda devem demorar um pouco para serem retomados, já que no primeiro semestre de 2021 o país registrou o quinto menor número de casamentos desde o início da série histórica.
Embora 12,8% menor que a média histórica de casamentos no primeiro semestre no Brasil, o número de matrimônios em 2021 mostra uma pequena recuperação em relação às celebrações do ano passado. Elas sofreram um forte impacto com a chegada da pandemia que adiou cerimônias civis em virtude dos protocolos de higiene necessários à contenção da doença.
Até junho deste ano os cartórios celebraram 372.077 casamentos civis, número 28,9% maior que os 288.750 matrimônios realizados no ano passado, mas ainda 18,6% menor que os 457.139 casamentos feitos em 2019.
*Estagiária sob supervisão do subeditor João Renato Faria