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Estado de Minas SEQUESTRO

Sequestro: polícia diz ter certeza do envolvimento do youtuber Rodrigão

Rodrigão, dono de um canal com 69 mil inscritos, é suspeito de planejar o sequestro de outro influenciador e da mãe dele


29/07/2020 11:39 - atualizado 29/07/2020 11:53

Rodrigão aparece com a vítima, também influenciador digital, em um dos vídeos do canal dele no YouTube. Ambos são aficionados por carros(foto: YouTube/Reprodução)
Rodrigão aparece com a vítima, também influenciador digital, em um dos vídeos do canal dele no YouTube. Ambos são aficionados por carros (foto: YouTube/Reprodução)
Dois anos de amizade e o reconhecimento intenso nas redes sociais não impediram que o youtuber brasiliense conhecido como Rodrigão planejasse o sequestro do próprio amigo. Preso na semana passada pela Divisão de Repressão a Sequestros (DRS) da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), ele é suspeito de ser o mentor do crime que ocorreu em 3 de junho.

Ele e a vítima, um homem com idade entre 35 e 40 anos, conforme informado pelo delegado-chefe da DRS, Leandro Ritt, se conheciam há pelo menos dois anos. Os dois eram amantes de carros, sobretudo os antigos.

Segundo o delegado, a família da vítima tem uma vida confortável, com residência no Lago Sul. “São empresários, do ramo da saúde”, detalhou o investigador. De olho no dinheiro, Rodrigão teve a ideia do sequestro ao saber que eles estavam vendendo um lote na mesma região. Ele então acionou um comparsa, especialista em tecnologia, para fingir ser corretor de imóveis interessado na compra do terreno. Além disso, contratou dois homens para ajudá-lo.

O plano inicial era levar apenas o filho, mas, como ele reagiu, os sequestradores também colocaram a mãe no carro. Em um barraco na Colônia Agrícola Aguilhada, zona rural de São Sebastião, mãe e filho foram interrogados separadamente.

Dessa forma, o grupo descobriu que o patrimônio da família consistia em imóveis, de modo que não seria possível realizar saque de grandes quantias em curto prazo.

Por esse motivo, o grupo decidiu libertar a família, com a promessa de que o valor seria posteriormente cobrado. Os celulares foram devolvidos, e os reféns deixados em uma via próximo ao Núcleo Bandeirante. A princípio, as vítimas não queriam registrar ocorrência e estavam decididos a deixar o país. No entanto, um amigo os convenceu a procurar a Polícia Civil, dois dias depois da libertação, como explica Leandro Ritt. “Depois de uma longa conversa, eles decidiram colaborar com as investigações.”

O delegado alertou para que eles não comentassem o ocorrido com mais ninguém. “Mesmo assim, pouco depois da queixa, o youtuber visitou a família e o filho, e acabou contando tudo, inclusive o envolvimento da polícia nas investigações. Provavelmente por isso, os suspeitos desistiram de entrar em contato novamente para cobrar pelo sequestro”, avalia o investigador. “Mas eles estavam dispostos a fazer o pagamento. O papel da Polícia Civil, neste ponto, foi importante porque, sem as investigações, eles iriam permanentemente sofrer extorsões, o que só tem fim com a prisão dos autores.”

Os agentes da DRS efetuaram as prisões de Rodrigão, do comparsa que fingiu ser corretor, e de um dos contratados, na terça e na quinta-feira da semana passada. “Todos tinham idade entre 30 e 40 anos, e apenas um dos suspeitos de ter recebido pagamento tinha respondido a um processo sobre tráfico de drogas”, destaca o delegado.

O quarto envolvido segue em liberdade. “Mas já foi identificado e será preso em breve”, alerta Ritt. Todos irão responder por extorsão mediante sequestro, ainda que o resgate não tenha sido pago. “A pena varia de 12 a 20 anos de reclusão. Por se tratar de crime hediondo, tem progressão de regime mais lenta”, explica o investigador.

Amizade nas redes

A amizade entre Rodrigão e a vítima, empresário do ramo da saúde, era motivada pelo amor por carros. No canal do suposto mandante do crime, somam-se 69,3 mil inscritos e, ao menos duas participações do “amigo” feito de refém. Ele também tinha um canal, com mais de 7 mil seguidores. Em algumas das produções da dupla, eles passeavam em um Opala 4400, pertencente ao empresário. Em outras, Rodrigão aparece dentro da casa da vítima.

O delegado explica que, pela relação de confiança e proximidade, foi difícil convencer a família do envolvimento do youtuber. “Mas nós tínhamos provas. Os dois comparsas já presos o delataram e, além disso, tínhamos um áudio de uma conversa em que ele negociava com o companheiro, que fingiu ser corretor, o valor a ser pago aos outros dois”, destaca Ritt. “Diante das evidências, ele acabou se convencendo.”

Ainda de acordo com o delegado, o influenciador negou, em depoimento, sua participação no crime. Confrontado com as provas, Rodrigão disse que estariam armando contra ele. O Correio Braziliense não conseguiu localizar a defesa do suspeito. A reportagem também acionou o YouTube para saber se o canal será desativado, mas a empresa informou que não irá comentar o caso.

Cativeiro

O local onde as vítimas foram detidas, entre 10h e 23h, é acessado por uma estrada de terra, localizada atrás da Unidade de Internação de São Sebastião. As poucas construções da área são barracos de madeira aparentemente inabitados. Segundo a DRS, o barraco que serviu de cativeiro não pertence a nenhum dos envolvidos. “Mas eles conheciam a área e sabiam que ali estariam isolados”, informou o delegado Leandro Ritt.


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