(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Censura de Crivella a Bienal não é caso isolado nos últimos anos

Cancelamentos e críticas a exposições em Porto Alegre, BH e São Paulo por grupos conservadores acirraram os debates sobre a liberdade de expressão no país


postado em 06/09/2019 15:20 / atualizado em 06/09/2019 18:59

Fiscais da prefeitura do Rio foram até a Bienal, mas os livros já tinham esgotado (foto: Reprodução/Twitter)
Fiscais da prefeitura do Rio foram até a Bienal, mas os livros já tinham esgotado (foto: Reprodução/Twitter)
A decisão do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, de recolher um livro de história em quadrinhos da Bienal do Livro está sendo considerada por muitos como um ato de censura. Porém, essa situação é relativamente recorrente no Brasil nos últimos anos. 
 
Recentemente, uma mostra de charges na Câmara Municipal de Porto Alegre foi recolhida por ordem da presidente da casa, a vereadora Mônica Leal (PP). A exposição "O Riso é Risco: Independência em Risco" contava com desenhos satíricos sobre o presidente Jair Bolsonaro, bem como a questão ambiental e indígena. Com início no dia 2 desse mês, a exposição estava prevista para ocupar um espaço na Câmara até o dia 13.
   
Um dos casos que mais acaloraram o debate sobre a censura no país nos últimos anos foi o da exposição "Queermuseu", em Porto Alegre. Hospedada no espaço Santander Cultural, a mostra foi considerada ofensiva por grupos conservadores, com destaque para o Movimento Brasil Livre (MBL).
 
De acordo com os críticos, as obras retratavam figuras religiosas de forma desrespeitosa, além de tratar de temas como "zoofilia" e "pedofilia". Além disso, o fato de a mostra ter sido financiada com recursos da Lei Rouanet também foi alvo de ataques. Com as manifestações, o Santander decidiu cancelar a exposição antes do previsto. 

Pouco tempo depois, uma série de vídeos e fotos que mostravam uma menina interagindo com um artista nu foi publicada. A cena foi registrada em outra exposição, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). A criança estava acompanhada da mãe, e de acordo com o museu, a área onde a performance ocorreu estava sinalizada sobre o conteúdo. O museu e a exposição receberam críticas na mesma linha das que foram destinadas à Queermuseu.
 
Em Belo Horizonte, não faltam exemplos da mesma situação. Em 2017, a exposição "Faça Você mesmo sua Capela Sistina", do artista Pedro Moraleida, foi alvo de censura parecida. Na época, o vereador Jair di Gregório (PP) foi uma das princiais vozes contrárias à mostra, entre outras figuras evangélicas. Um grupo de manifestantes evangélicos foi até o Palácio das Artes, onde os quadros estavam sendo expostos, e pediu a sua suspensão.

O parlamentar chegou a gravar um vídeo no qual sugeria que uma professora de escola municipal teria levado seus alunos para visitar a exposição. No momento da gravação, a professora afirmou que estava saindo de um festival de curtas com a turma. Porém, da forma como o vídeo foi editado, é possível concluir que as crianças haviam na verdade visitado a exposição de Moraleida, que era para maiores de 18 anos. 
 
Em 2016, um grupo de pais de alunos do Colégio Santa Maria, em Belo Horizonte, criou um abaixo-assinado contrário ao livro "A Marca de uma Lágrima", de Pedro Bandeira. Para esses pais, a publicação teria conteúdo erótico. No texto, escreveram que o livro poderia "causar comportamentos irreparáveis, presente e futuros nos alunos da escola, reconhecidamente católica". 
 

Entenda a polêmica

 

Marcelo Crivella determinou o recolhimento da história em quadrinhos "Vingadores: A Cruzada das Crianças" na Bienal do Livro na noite de ontem (5). Uma das páginas do romance gráfico mostra dois personagens masculinos se beijando.

 

De acordo com a prefeito do Rio, o livro apresenta "conteúdo sexual para menores". Em uma postagem no Twitter, Crivella afirmou que "Não é correto que elas tenham acesso precoce a assuntos que não estão de acordo com suas idades".

 

 

 

Com a decisão do prefeito, fiscais da Secretaria de Municipal de Ordem Pública (Seop) foram até a exposição na manhã dessa sexta-feira para identificar e lacrar os quadrinhos. Contudo, a publicação havia praticamente esgotado em pouco tempo.

 

Mais tarde, Crivella foi mais uma vez ao Twitter para defender a decisão da prefeitura. O prefeito reafirmou a posição de que seu intuito foi defender a família. Crivella ainda escreveu que, de acordo com o Estatudo da Criança e do Adolescente (ECA), os livros deveriam estar lacrados e ter seu conteúdo identificado.

 

No vídeo que acompanha a postagem, ele disse que o assunto homossexualidade "deve ser tratado na família, não pode ser induzido, seja na escola, seja na edição de livros, seja onde for."

 

 

 

*Sob a supervisão da editora-assistente Vera Schmitz

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)