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Estado de Minas CHECAMOS

Não existem comportas na usina onde foi gravado vídeo viral que mostra fluxo intenso de água no RS

Não é verdade que uma usina hidrelétrica onde funcionários filmam uma corrente intensa de água teve suas comportas abertas. O conteúdo, compartilhado mais de 8,2 mil vezes desde pelo menos 4 de setembro de 2023, circula em meio a boatos de que as enchentes no Rio Grande do Sul teriam sido causadas pela abertura simultânea de comportas em hidrelétricas da região. Mas a sequência foi gravada na usina PCH Linha Emília, que não possui comportas. Em sua estrutura, o excedente de água passa por cima da barragem, que não é capaz de controlar o fluxo do rio.


14/09/2023 17:39 - atualizado 21/09/2023 07:46
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Não é verdade que uma usina hidrelétrica onde funcionários filmam uma corrente intensa de água teve suas comportas abertas. O conteúdo, compartilhado mais de 8,2 mil vezes desde pelo menos 4 de setembro de 2023, circula em meio a boatos de que as enchentes no Rio Grande do Sul teriam sido causadas pela abertura simultânea de comportas em hidrelétricas da região. Mas a sequência foi gravada na usina PCH Linha Emília, que não possui comportas. Em sua estrutura, o excedente de água passa por cima da barragem, que não é capaz de controlar o fluxo do rio.

'Estão dizendo que as comportas não abrem sozinhas simultaneamente sem uma ordem superior', diz um dos conteúdos compartilhados no X (antes Twitter). O vídeo circula também no Facebook, no Instagram, no TikTok, no YouTube, no Kwai e no Gettr.

Captura de tela feita em 14 de setembro de 2023 de uma publicação no X
Captura de tela feita em 14 de setembro de 2023 de uma publicação no X

O vídeo circula em meio à destruição causada por um ciclone extratropical no Rio Grande do Sul, que atingiu o estado em 4 de setembro.

Desde então, circulam nas redes afirmações de que as enchentes teriam sido causadas por uma abertura das comportas de hidrelétricas na região. A hipótese ganhou maior destaque após ser difundida pelo jornalista Alexandre Garcia no programa Oeste Sem Filtro em 8 de setembro.

Essa afirmação foi desmentida pela Companhia Energética Rio das Antas (Ceran), que opera três usinas na região. Em nota, a companhia afirmou que suas barragens 'não conseguem reduzir altas afluências e mitigar os impactos no entorno do rio', pois 'possuem vertedouro do tipo soleira livre e tem a característica 'a fio d'água', ou seja, não tem capacidade de armazenamento e nem de regular o fluxo do rio, pois todo o excedente de água passa por cima da barragem'.

Vídeo não foi gravado em hidrelétrica no Rio das Antas

Em uma das publicações do vídeo viral, alguns comentários forneciam explicação semelhante para as imagens: 'Isso é uma desinformação! Esse tipo de barragem chama-se "soleira livre", ou seja, quando a água ultrapassa a parte superior do reservatório, não há controle!', escreveu um usuário, que incluiu uma foto de uma barragem extraída do Google, que continha as palavras 'Linha Emilia - Elera'.

O termo 'Linha Emília - Elera' refere-se à PCH (Pequena Central Hidrelétrica) Linha Emília, operada pela empresa Elera e localizada no município gaúcho de Dois Lajeados. Ela fica localizada no rio Carreiro, e não é uma das usinas administradas pela Ceran no rio das Antas.

Algumas fotos de uma excursão feita por uma turma escolar nessa hidrelétrica mostram um local bastante semelhante ao da sequência viral.

Uma busca no Facebook usando o termo 'pch linha emília' localizou uma versão mais longa do vídeo viral (1, 2), publicada já em 4 de setembro.

Ao AFP Checamos, a empresa Elera e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) confirmaram que o local das imagens de fato corresponde à PCH Linha Emília, e que ela tampouco possui comportas capazes de controlar o fluxo da água do rio, já que sua estrutura também é do tipo 'soleira livre', como citado na página 10 do Plano de Ação de Emergência para a hidrelétrica.

A hidrelétrica, portanto, tem o mesmo tipo de estrutura das usinas localizadas no rio das Antas, administradas pela Ceran. É o que explica também o geógrafo especializado em recursos hídricos e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Guilherme Garcia de Oliveira:

'Não é uma questão de opinião. Barragens como a PCH Linha Emília, assim como as barragens operadas pela Ceran no Rio das Antas, não possuem dispositivo para liberação de águas. Não possuem comportas! Não há nenhuma responsabilidade que possa ser atribuída à operadora do reservatório', escreveu o docente ao AFP Checamos.

O geógrafo acrescenta, no entanto, que isso não significa que não possam ter ocorrido erros nos procedimentos adotados para lidar com a situação, sobretudo no que diz respeito à evacuação da população dos locais atingidos. O argumento também se faz presente em uma nota assinada por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS.

Ainda segundo Oliveira, a principal explicação para o ocorrido, até o momento, foram as chuvas intensas em um espaço curto de tempo na área de drenagem da Bacia Hidrográfica do Taquari-Antas.

'As chuvas foram concentradas no tempo e abrangentes no contexto espacial, o que favorece tanto a elevação fora do comum em rios de grande porte como o Antas e o Taquari, como ajuda a explicar a rápida ascensão dos níveis fluviais', resumiu.

Comportas laterais

Em outro vídeo publicado sobre o tema em 11 de setembro, Garcia leu a nota emitida pela Ceran sobre as barragens, mas questionou o fato de as estruturas, mesmo possuindo a barragem do tipo 'soleira livre', possuírem comportas nas laterais.

Em resposta, a Ceran elaborou um material no qual explica que duas das usinas que administra (Monte Claro e 14 de Julho) possuem comportas de vertedouro nas laterais. 'Elas são abertas somente quando a água já está passando sobre a crista da barragem, para não sobrecarregar as estruturas, não alterando a vazão do rio', diz a companhia.

Captura de tela feita em 14 de setembro de 2023 de material explicativo elaborado pela Ceran
Captura de tela feita em 14 de setembro de 2023 de material explicativo elaborado pela Ceran
Captura de tela em 14 de setembro de 2023 de material explicativo elaborado pela Ceran
Captura de tela em 14 de setembro de 2023 de material explicativo elaborado pela Ceran

A Aneel também explicou ao AFP Checamos que 'algumas barragens do tipo soleira livre possuem comportas laterais com diferentes funções, sendo uma delas o controle do nível d'água que passa por cima da barragem'.

De toda forma, esse não é o caso da PCH Linha Emília, vista no vídeo compartilhado nas redes. A Elera, que opera a central hidrelétrica, confirmou à AFP que a estrutura não possui nenhum tipo de comporta, nem mesmo lateral.

'A PCH Linha Emília não possui nenhum tipo de comporta no vertedouro e opera a fio d'água. A barragem é de concreto de margem a margem no rio e com soleira livre', explicou a assessoria de comunicação da empresa, que também encaminhou uma fotografia da Linha Emília vista de cima como forma de ilustrar a explicação:

Imagem da usina PCH Linha Emília encaminhada ao AFP Checamos pela assessoria de comunicação da empresa Elera
Imagem da usina PCH Linha Emília encaminhada ao AFP Checamos pela assessoria de comunicação da empresa Elera

Outras fotos publicadas por usuários no Google também mostram a barragem de diferentes ângulos, nos quais tampouco é possível observar a presença de comportas.

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