Jornal Estado de Minas

CHECAMOS

O memorial de uma revista é erroneamente usado como evidência de pico de morte de pilotos nos EUA

Publicações compartilhadas mais de 3 mil vezes nas redes sociais desde o início de dezembro de 2021 afirmam que houve um grande aumento no número de mortes de pilotos nos Estados Unidos. A alegação usa como evidência o memorial da revista da Associação de Pilotos de Companhias Aéreas e relaciona o fato à vacinação contra a covid-19.



Mas a associação indicou ter reportado mais mortes antes que os imunizantes contra o coronavírus estivessem amplamente disponíveis. A Administração Federal de Aviação do país, no entanto, assinalou ter analisado cuidadosamente os dados sobre a segurança das vacinas e permitiu que os pilotos as recebessem.
“Mortes de pilotos de aviação comercial americanos: 2019: 1 2020: 6 2021: 111 (em 10 meses) O que será que houve?” e “Poxa que coincidência ... Quantos pilotos morrendo do coração! Será que tem alguma ligação com a ???”, indicam as legendas de algumas das publicações, compartilhadas ao menos desde 9 de dezembro de 2021 no Facebook (1, 2), no Twitter (1, 2) e no Instagram (1).

Há, ainda, versões em vídeo (1, 2) com a mesma alegação, acrescentando que esse aumento no número de mortes de pilotos foi de 1.700%.




Publicações semelhantes também circularam em inglês e espanhol.

As postagens indicam que 111 pilotos teriam falecido em 2021, citando uma lista da “edição de outubro / novembro da Airline Pilot Magazine, publicação dos EUA”, em comparação com seis mortes em 2020 e uma em 2019.

Embora a lista esteja disponível apenas para assinantes da revista, imagens dela - que circulam online com alegações enganosas de que se trata de uma tendência preocupante - mostram pilotos de diversas companhias aéreas, sendo algumas, como a TWA e Pan Am, já extintas.

A alegação foi compartilhada depois que várias companhias aéreas dos Estados Unidos instauraram mandatos de vacinação para seus funcionários.



A Associação de Pilotos de Companhias Aéreas (ALPA) - que representa dezenas de milhares de pilotos e também dezenas de companhias aéreas - afirmou em um comunicado que as publicações viralizadas são imprecisas: “Com base em informações verificadas providenciadas pelas suas famílias, nós relatamos a perda de mais pilotos em 2019 e em 2020 do que em 2021”.

“Nós relatamos as perdas na nossa revista ao passo que recebemos informações das famílias. A informação contida em uma edição da revista não fornece um relatório completo das perdas totais para cada um dos anos listados”, disse a ALPA, que tem defendido o acesso de pilotos às vacinas contra a covid-19.

De fato, nesta edição de outubro de 2018 pode-se ver que o número de pilotos falecidos listados na seção “In memoriam” é superior ao de dezembro de 2018. Ambas as edições detalham perdas em anos anteriores.



Nesta edição da revista de dezembro de 2017 é possível identificar que também são reportados falecimentos de anos anteriores: 1 em 2013, 1 em 2015, 2 em 2016 e 28 em 2017.

A Administração de Aviação Federal (FAA) dos Estados Unidos disse que conduziu uma “revisão cuidadosa dos dados disponíveis sobre o perfil de segurança” das vacinas contra a covid-19, e que permite que os pilotos se imunizem com elas.

“Portadores de autorizações ou certificados médicas emitidos pela FAA podem receber as vacinas da Pfizer-BioNTech, Moderna, e Johnson & Johnson; contudo, um intervalo de 48 horas sem voar/sem obrigações de segurança deve ser observado após cada dose”, disse a FAA.



A AFP tentou contato com a ALPA para conferir o número de falecimentos registrado pela revista, mas não houve retorno até a publicação desta checagem.

A FAA e os Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos também não responderam ao pedido da AFP por comentários sobre as alegações envolvendo mortes de pilotos.

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