(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas CHECAMOS

Chapecó não se 'livrou' da COVID-19 adotando o chamado 'tratamento precoce'

Informações compartilhadas centenas de vezes em publicações nas redes sociais desde 26 de junho são falsas


29/06/2021 12:40 - atualizado 29/06/2021 17:45

Captura de tela feita em 26 de junho de 2021 de uma publicação no Twitter
Captura de tela feita em 26 de junho de 2021 de uma publicação no Twitter
Publicações compartilhadas centenas de vezes nas redes sociais desde 26 de junho afirmam que o município de Chapecó, em Santa Catarina, está “livre” da COVID-19 ao adotar o chamado 'tratamento precoce' – que não tem eficácia comprovada cientificamente contra a doença. A afirmação é falsa.

Segundo os últimos boletins informativos da Prefeitura de Chapecó, a ocupação de leitos de UTI na rede pública da cidade se mantém em 93% ou mais desde 20 de junho e, em abril, chegou a ter 100% de ocupação de UTIs públicas e privadas.

“O Presidente Jair Bolsonaro faz sua quarta motociata na cidade de Chapecó, na sua garupa o prefeito que implantou o tratamento precoce e livrou Chapecó do COVID”, diz a postagem que circulou no Twitter (1, 2), Facebook (1, 2, 3) e Instagram.

Conteúdo semelhante já havia sido compartilhado em abril, quando a cidade desativou um hospital de campanha destinado ao combate à doença. Não é verdade, porém, que a cidade tenha zerado a ocupação de leitos destinados pacientes com COVID-19 ao adotar o kit de medicamentos conhecidos como 'tratamento precoce'.
 

Segundo o boletim epidemiológico de 28 de junho de 2021, Chapecó registrou 149 internações pela doença, sendo 61 de habitantes de Chapecó e 88 pacientes internados vindos de outros locais.


Em 26 de junho de 2021, data em que circularam as postagens, Chapecó registrou 146 internações, sendo 55 pacientes de Chapecó e 91 vindos de outros locais.

Desde o início de junho, o número de internados em UTIs tem se mantido entre 103 e 116 pacientes, de acordo com os boletins epidemiológicos oficiais

Além disso, até 27 de junho, a cidade de Santa Catarina acumulava 648 mortes em uma população total de 224 mil habitantes. Isso significa que a mortalidade por COVID-19 no município é de 289,28 para cada 100 mil habitantes, sendo, portanto, superior à média nacional de 244,3 mortes por COVID-19 para cada 100 mil pessoas conforme registrado no Painel Coronavírus do Ministério da Saúde.

Casos ativos e medidas restritivas


Em abril de 2021, Chapecó de fato registrou uma queda acentuada no número de casos ativos de COVID-19 em relação a março. Em 7 de abril, a cidade registrava 569 casos ativos do novo coronavírus na cidade, contra 4.244 no mesmo dia do mês anterior.

Não é possível afirmar, porém, que a queda no número de casos se deva ao 'tratamento precoce'.

Entre o início de março e meados de abril, o governo local realmente estimulou a rápida medicação de pessoas com COVID-19, mas não somente.

Em 5 de março, por exemplo, Chapecó acatou decretos estaduais determinando toque de recolher das 22h às 5h, limitando o horário de funcionamento de bares e proibindo o consumo de bebidas alcoólicas em áreas públicas.

Em 9 do mesmo mês foi instituída uma barreira sanitária na cidade, medindo a temperatura e testando aqueles que desejassem entrar em Chapecó.

Quando o número de casos ativos começou a cair, em meados de março, o secretário-adjunto da Saúde, Jader Danielli, atribuiu a melhora a uma série de fatores, como registrado no site da prefeitura.

“Isso é fruto de um conjunto de medidas tomadas pela Administração Municipal, como uma melhora na eficiência operacional, isolamento, tratamento mais adequado com a abertura de mais leitos, mais profissionais e equipamentos”, disse. “Pedimos que a população continue tomando cuidado para que esses números não voltem a crescer. Quem não precisar sair de casa, não saia. Se sair, vá sozinho, use máscara e mantenha o distanciamento”, assinalou.


Já em 2 de junho, o prefeito João Rodrigues publicou um decreto adotando as medidas estaduais de combate ao coronavírus estabelecidas pelo governo de Santa Catarina até 30 de junho de 2021.

Em Chapecó, o decreto municipal manteve restrições como a proibição ao fornecimento de bebidas alcoólicas em estabelecimentos entre 23h e 6h, proibição a aglomerações e de realização de festas, além de proibir o consumo de bebidas alcoólicas em áreas públicas. 


O mesmo decreto, no entanto, também permitiu a realização de eventos sociais (casamentos, aniversários, jantares, confraternizações, bodas, formaturas, batizados, festas infantis e afins), restritos a convidados sentados, observando o regramento de ocupação, das 6h às 23h.

O decreto passou a valer em 3 de junho de 2021. 


Ao final do mês de junho, a cidade ainda mantinha uma barreira sanitária no Terminal Rodoviário Raul Bartolomei e no aeroporto Serafim Enoss Bertaso. No início do mês, a prefeitura intensificou a fiscalização das medidas de enfrentamento à pandemia.

Em 2 de junho, o prefeito João Rodrigues afirmou que os números estão em estabilidade, mas que as fiscalizações seriam intensificadas e alertou para o aumento de contaminados na faixa entre os 20 e 30 anos.


No último dia 27 de junho, a cidade registrou 451 casos ativos da doença. De 3 a 15 de junho, o número de casos ativos se manteve acima de 500, quando a cidade passou a registrar, em média, 400 a 450 casos ativos diariamente (com exceção dos dias 22 e 23 de junho, quando foram registrados, respectivamente, 372 e 379 casos).

Tratamento sem comprovação


Além de o 'tratamento precoce' não ter sido a única medida implementada pela Prefeitura de Chapecó, não há evidências de que essa estratégia seja capaz de combater o novo coronavírus.


Embora o governo local não detalhe quais medicamentos estão sendo indicados para lidar com a doença, o chamado tratamento precoce costuma incluir combinações de hidroxicloroquina, ivermectina, vitamina C e zinco – substâncias que não são recomendadas por organizações de saúde para tratar a COVID-19.

Remédio comumente utilizado para tratar a malária, a hidroxicloroquina foi alvo de diversos estudos durante a pandemia de COVID-19.


Em 5 de junho de 2020, por exemplo, pesquisadores da Universidade de Oxford compararam a evolução de pacientes de COVID-19 que receberam hidroxicloroquina com aqueles que receberam o tratamento usual, concluindo que não houve diferença significativa na taxa de mortalidade ou redução no período de internação hospitalar.

Em outubro de 2020, a hidroxicloroquina também não se mostrou capaz de reduzir substancialmente a gravidade de sintomas em pacientes ambulatoriais com COVID-19 leve e inicial.


Para a Agência de Medicamentos Europeia (EMA) não somente não há evidências de efeitos benéficos do uso do medicamento contra a COVID-19, como este pode “causar alguns efeitos colaterais, incluindo problemas cardíacos”.
 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também não recomenda o uso da hidroxicloroquina para prevenir a COVID-19. “Esta recomendação é feita com base em seis ensaios clínicos com mais de 6 mil participantes que não possuíam COVID-19 e receberam a hidroxicloroquina. Usar a hidroxicloroquina como prevenção teve pouco ou nenhum efeito em prevenir a doença, a hospitalização ou a morte por COVID-19”, diz a organização.


Um paciente usa uma nova e não-invasiva tecnologia na ala de COVID-19 no Hospital Centenário, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, em 16 de abril de 2021(foto: Silvio Avila / AFP)
Um paciente usa uma nova e não-invasiva tecnologia na ala de COVID-19 no Hospital Centenário, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, em 16 de abril de 2021 (foto: Silvio Avila / AFP)


Já a eficácia da ivermectina – medicamento utilizado para tratar algumas infecções parasitárias – ainda está em estudo. Enquanto isso, a OMS recomenda que o remédio não seja utilizado contra o novo coronavírus, a não ser em ensaios clínicos.

A organização também destaca que micronutrientes como a vitamina C e o zinco são cruciais para o funcionamento correto do sistema imunológico, mas que não há, até agora, orientação para o seu uso como tratamento contra a COVID-19.


De acordo com o Instituto Butantan, o 'tratamento precoce' é um “coquetel de remédios sem eficácia comprovada” contra o novo coronavírus. “As medidas de proteção contra a COVID-19 são o uso de máscaras e álcool em gel, o distanciamento social e a vacinação”, reforça o instituto.

Conteúdo semelhante também foi verificado pelos sites Aos Fatos e Agência Lupa.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)