A Itália espera, nesta terça-feira (3), o resultado de uma votação pela Internet de milhares de membros do Movimento 5 Estrelas (M5S, antissistema), decisivo para a formação de um novo governo de coalizão com o Partido Democrático (PD, centro esquerda).
A votação digital, que acontece entre 7h GMT e 16h GMT (4h e 13h em Brasília), deve ter um resultado positivo, segundo o jornal "La Repubblica". Em caso negativo, a formação de um novo Executivo é posta em xeque.
Os líderes do M5S pediram a votação pelo "sim" a seus membros, inscritos em uma plataforma on-line chamada Rousseau, alegando que "o momento do país é muito delicado".
"Para nós, o mandato dos cidadãos é uma coisa séria. Dura cinco anos, o tempo previsto pela Constituição para realizar um programa de governo", afirma o blog do Movimento.
Esta é uma maneira de lembrar que a a legislatura atual começou há apenas 18 meses e que seria melhor não interrompê-la.
- Decisão da base -
Durante toda segunda-feira, o líder do M5S, Luigi Di Maio, lembrou que o voto dos inscritos prevalecerá sobre qualquer outra consideração e que um "não" porá fim às negociações em curso com o PD.
Criticado por sua lentidão em agir, até mesmo pelo fundador do M5S, o comediante Beppe Grillo, Di Maio enfim avançou ontem na direção de um novo governo, ao renunciar a que seu partido obtenha um posto de vice-primeiro-ministro - desde que o PD também renunciasse.
"O futuro de um novo governo (...) está nas mãos de uma consulta em uma plataforma on-line de uma empresa privada, sem qualquer controle", criticou Mariastella Gelmini, líder dos deputados do Forza Italia (FI), partido de Silvio Berlusconi.
"É um insulto às instituições, à Constituição e, sobretudo, à inteligência dos italianos", acrescentou.
No jornal "Corriere della Sera", o ex-magistrado do Tribunal Constitucional Sabino Cassese comenta a incongruência de que entre 50 mil a 60 mil pessoas possam contradizer o voto de 11 milhões de italianos que elegeram o M5S nas legislativas de março de 2018.
Dois ex-presidentes do Tribunal Constitucional, Cesare Mirabelli e Giovanni Maria Flick, também criticam a votação, contrária à "democracia representativa".
O líder da Liga (de extrema direita), Matteo Salvini, rompeu em 8 de agosto a coalizão de governo formada 14 meses antes com o M5S. Já o PD viu nesta crise política uma possibilidade de voltar ao poder e espera conseguir formar um novo governo.
"Trabalhamos com paciência e seriedade para um governo que permita a mudança real de que a Itália precisa", afirmou o secretário-geral do PD, Nicola Zingaretti, que manifestou "confiança e otimismo".