Ele nunca foi ministro e se candidatava pela primeira vez para eleições presidenciais, apesar de ser ignorado por sua reputação de político discreto, brando ou provinciano demais. Mas François Hollande assumiu nesta terça-feira a Presidência da França ao final de uma longa campanha impecável, graças a sua tenacidade. "Tenho a ideia da honra que me corresponde e da tarefa que me aguarda. Eu me comprometo a servir meu país com a devoção e a exemplaridade que esta função requer", declarou o líder socialista após a sua eleição, em 6 de maio.
Hollande foi primeiro secretário do Partido Socialista (PS) durante onze anos (1997-2008). Deputado do departamento rural de Corrèze, não parecia ter o carisma necessário para vencer a eleição presidencial na França.
No início, ninguém apostava nele. Não tinha o peso do ex-diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn, um brilhante economista, nem de sua ex-companheira Ségolène Royal, de relação emotiva com os franceses.
Mas pressentiu que os franceses estavam fartos do "hiperpresidente" Nicolas Sarkozy e de seu "exibicionismo permanente", e prometeu uma presidência normal. "Sou o que estão vendo. Não há artifícios, nem preciso me disfarçar", disse durante a campanha, na qual se definiu como um homem "simples, direto e livre". A esquerda tinha finalmente um candidato de credibilidade, mas ainda não era um vencedor potencial.
Social-democrata
Aos 57 anos, nasceu em uma família de Ruan (noroeste), filho de um médico e de uma assistente social. Estudou na ENA, prestigiada escola de administração e berço da elite política francesa. Lá conheceu aquela que foi sua companheira por 25 anos e mãe de seus quatro filhos, Ségolène Royal.
Terminados os estudos, trabalhou no Tribunal de Contas. Fascinado pela figura política do presidente François Mitterrand, eleito em 1981, começou depois a colaborar com ele escrevendo "notas".
Aos 26 anos, assumiu o desafio de se candidatar às eleições legislativas no reduto eleitoral do então futuro presidente Jacques Chirac, que em um ato público perguntou: "Quem é você?". "Sou aquele que você compara com o cachorro labrador de Mitterrand", respondeu o socialista. Social-democrata assumido, europeu convencido, Hollande se interessou particularmente pelas questões fiscais.
Sua companheira, Ségolène Royal, avançava na carreira e chegou a formar parte do governo de Mitterrand. Hollande permaneceu na sombra, ganhou espaço no aparato político do PS e tentou ficar com um ministério, algo que nunca conseguiu.
Os fracassos nas eleições presidenciais de Lionel Jospin em 1995 e em 2002, e de Ségolène Royal em 2007, o levaram a decidir que cabia a ele se candidatar.
Aconselhado por sua nova companheira, a jornalista política Valérie Trierwieler, perdeu mais de dez quilos, mudou de aspecto e abandonou suas piadas inoportunas, que lhe deram a reputação de ter um humor arrasador.
Durante meses percorreu o país e trabalhou duro. O homem afável que evita os conflitos foi impondo uma imagem sólida e tenaz, sua principal qualidade, segundo o ex-ministro Michel Sapin, um velho amigo.
Hollande é "elusivo", resume seu filho mais velho Thomas Hollande, que considera essa a marca do "homem livre" que é seu pai, um "estrategista" que quer compreender as pessoas. Seu apego ao consenso, que seus opositores chamam de indecisão, é uma vantagem para "unir", consideram as pessoas próximas.
"Nossas diferenças não devem se transformar em divisões", pediu nesta terça-feira, em seu discurso de posse.