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Estado de Minas ESPECIAL

Passageiros de BH aprovam ônibus elétrico em testes

Em operação na capital mineira, veículo chama a atenção dos passageiros pelo conforto e silêncio


29/10/2023 04:00 - atualizado 30/10/2023 10:52
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“Vou até tirar uma foto. O futuro chegou no São Marcos”. A animação da moradora do bairro da Região Nordeste de Belo Horizonte tem um motivo. Na quinta-feira (26/10), ela embarcou no veículo 20696, prefixo do modelo de ônibus elétrico em teste na capital mineira, que no dia fazia viagens na linha 3501A (Jardim Alvorada/São Marcos).

O Estado de Minas embarcou em uma viagem no veículo para acompanhar o desempenho do ônibus e conversar com passageiros e motoristas sobre essa novidade no transporte público de BH.  Os testes começaram na primeira semana de outubro e devem durar cerca de 40 dias.
  • Os ônibus elétricos que BH deixou para trás

veículo em avaliação em Belo horizonte: Uma das metas da prefeitura é ter 40% da frota composta por ônibus menos poluentes até 2030
veículo em avaliação em Belo horizonte: Uma das metas da prefeitura é ter 40% da frota composta por ônibus menos poluentes até 2030 (foto: Denys Lacerda/EM/D.A Press )

O centro dos olhares

Logo nos primeiros pontos da linha já era notável a empolgação dos passageiros com o ar-condicionado funcionando e o silêncio no interior do ônibus, mesmo com o motor ligado. Ao olhar pela janela, era possível fazer a leitura labial de pessoas na calçada comentando com as outras: “ônibus elétrico?”.

“O dia que eu vi ele passando foi uma surpresa. Eu e minha irmã ficamos de cara. Todo chique”, conta Maria do Socorro Alves, de 65 anos, empregada doméstica. Ela embarcou em um dos primeiros pontos do Bairro Jardim Alvorada e logo aprovou o veículo. “Bom demais da conta. Só alegria.”

A empreendedora Anete Santos, de 48, exaltou a suavidade na condução do ônibus. Por ele ser elétrico, não há câmbio manual e nem transmissão, o que evita solavancos típicos dos ônibus a diesel. “Espero que venham muitos. Onde eu moro, no Padre Eustáquio, tem uns ônibus velhos que ficam arrancando, quase jogando a gente no chão”.

O conforto é sentido também pelo motorista, que não precisa fazer trocas de marcha e nem aturar o calor e o barulho que os acompanham nos ônibus de motor dianteiro, que compõem a maior parte da frota da cidade. “A gente nem cansa. Chega o fim do dia e a gente nem quer voltar pra casa”, brincou o motorista que conduziu a viagem que acompanhamos.

No ponto final, no São Marcos, um outro colega apareceu para conhecer o veículo, que tem chamado a atenção de todos da garagem. Quando o motorista deu partida com o ar-condicionado desligado e não se ouviu nenhum som, o outro questionou se o ônibus estava realmente ligado.

Ônibus elétricos pelo país


O primeiro ônibus elétrico movido a baterias foi testado em Belo Horizonte em 2015. Oito anos se passaram e esse estudo não se converteu em aquisições deste tipo de veículo para a cidade. BH está atrás de outras capitais que já incorporaram os elétricos em sua frota. Quem lidera o ranking de ônibus elétricos em circulação é São Paulo (SP), que incorporou 50 novos veículos movidos à bateria em setembro e passou a ter 69 veículos deles nas ruas.

Durante a entrega das novas unidades, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) anunciou que a meta do município é ter 20% dos ônibus (cerca de 2.400 veículos) movidos a energia sustentável até o fim de 2024. Na ocasião, ele defendeu o fim da operação dos 201 trólebus que operam no sistema de transporte municipal, alegando que o custo de manutenção da rede aérea necessária para esses veículos é muito caro.

Outras cidades estão na dianteira da implantação dos ônibus elétricos movidos a bateria. Salvador (BA) conta com 20 unidades, seguida por São José dos Campos (SP), com 12. Outras cidades que possuem esses veículos são Brasília (BA), Vitória (ES), Volta Redonda (RJ), Guarujá (SP), Mauá (SP), Santos (SP), São Bernardo do Campo (SP), Bauru (SP), Campinas (SP), Maringá (PR) e Manaus (AM).

A realidade belo-horizontina

O ônibus elétrico que está em testes em Belo Horizonte é um D9A, da BYD. A fabricante afirma que o modelo pode percorrer até 250km com a carga cheia, mas testes feitos na capital indicam uma autonomia menor, em virtude do relevo acidentado da cidade. A cada dia o veículo roda em uma linha diferente, a fim de avaliar diferentes cenários de operação.

“Os motoristas estão apaixonados por este carro. Não tem ruído, não tem vibração, não tem calor. Não tem do que reclamar destes carros, é só benefício”, conta Robson Siqueira, instrutor na garagem da Saritur São Marcos, onde o ônibus está cedido para testes.

Ele explica que a adoção do veículo pode trazer economia tanto de combustível quanto de mão de obra, além de não poluir o meio-ambiente. “Só tem ganhos, eu não vejo prejuízos em um carro desses não”.

A PBH apresentou em setembro o Plano de Mobilidade Limpa, e uma das metas é ter 40% da frota composta por ônibus menos poluentes até 2030, o que inclui ônibus movidos a eletricidade ou combustíveis mais limpos, como gás natural.

Atualmente, o maior obstáculo para a implantação de ônibus elétricos é o custo de aquisição, 2,5 vezes maior do que de um veículo a diesel, segundo análise feita pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).

Ainda assim, Rafael Furquim, gerente de engenharia da BYD Brasil, argumenta que ao final da vida útil um ônibus elétrico gera mais economia do que um ônibus convencional. “Por conta do custo da energia, mais barato do que o diesel, e por conta da manutenção, que é mais baixa. Os ônibus elétricos têm muito menos peças que exigem manutenção”.
 
Para incentivar a aquisição desses veículos e, consequentemente, reduzir a poluição nas cidades, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) abriu uma linha de crédito para financiar a compra de ônibus elétricos.

Ônibus elétricos do passado

Belo Horizonte já foi pioneira no uso de ônibus elétricos. Em 1953, a cidade implantou um sistema de trólebus que funcionou até 1969. Anos depois, em 1986, houve uma tentativa para trazer este tipo de veículo de volta para cidade. Parte da infraestrutura viária foi construída, os ônibus foram encomendados e pagos, mas nunca chegaram a rodar na capital mineira, devido a circunstâncias que envolveram problemas políticos e administrativos. Após anos no pátio da fábrica, os trólebus foram vendidos para a cidade de Rosário, na Argentina, e para São Paulo (SP).

O Estado de Minas viajou a São Bernardo do Campo (SP) para mostrar como estão os trólebus que poderiam hoje fazer parte da frota de transporte público da capital mineira.


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