
Lagoa Santa – Atitude comum a uma população amedrontada e em busca de segurança, a instalação de câmeras voltadas para as ruas está proibida por criminosos envolvidos em homicídios, roubos e tráfico de drogas no Bairro Vila Maria, em Lagoa Santa, na Grande BH. Sobretudo na Avenida José Bispo Lisboa, vários desses aparelhos foram retirados, deixando como testemunhas hastes vazias e os conectores pendentes nos fios entre as espirais de lâminas das concertinas dos muros.
O levantamento usa dados do relatório de 2022 da Gestão de Desempenho Operacional (GDO) da PMMG. Essa metodologia de acompanhamento de resultados estabelece que, com ocorrências até 10% acima da meta de contenção de criminalidade, o nível de ação da unidade “requer atenção”, o que correspondeu a 16 batalhões e companhias independentes. Níveis que ultrapassam 10% além da meta estão na classificação “insatisfatório”, que somou 13 unidades.
Os crimes classificados como violentos, segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), são estupro, extorsão, extorsão mediante sequestro (incluindo sequestro-relâmpago), homicídio e tentativas, roubos e tentativas, sequestro e cárcere privado e tentativas.
Alerta
Pelos critérios da PM, a unidade de desempenho mais crítico em 2022 foi o 17º Batalhão de Uberlândia (Leste municipal e Centro da cidade), onde o somatório desses crimes aumentou 31,08% de 2021 para 2022, segundo o relatório. A meta de contenção, que era de 207,2 crimes por grupo de 100 mil habitantes, bateu em 268,43 (29,55% acima do limite fixado).
Essa unidade é um orgulho para a cidade e para os mineiros, pois sua história remonta ao 17º Batalhão de Voluntários da Pátria que lutou na Guerra do Paraguai (1864-1870). Hoje, seu desempenho é desafiado por zonas de adensamento populacional e condições sociais precárias.
A outra unidade do município é o 32º Batalhão, que conseguiu atingir a meta e fechou 2022 com o 41º melhor desempenho em relação ao objetivo fixado em Minas, com 6,24% menos ocorrências por 100 mil habitantes do que o limite estabelecido pelo comando.
TRÁFICO No caso de Lagoa Santa, a unidade que está sediada na cidade e que apresentou o segundo desempenho mais crítico no estado é a 8ª Companhia Independente (Lagoa Santa, Confins, Jaboticatubas e Santana do Riacho), com 28,95% mais crimes violentos em 2022 que em 2021, tendo um limite fixado em meta de 154,11 crimes por 100 mil habitantes, mas que chegou a 198,73 (+28,95%).
Os bairros de Lagoa Santa onde há incidência mais preocupante de crimes são o Vila Maria (e conjuntos habitacionais), Santos Dumont, Vila José Fagundes, Aeronautas, Visão e Francisco Pereira. No Bairro Vila Maria, onde câmeras estão sendo banidas por criminosos, há um sentimento entre comerciantes e moradores de que a situação piorou quando uma jovem de 19 anos com a filha de 1 ano no colo foi morta e a criança ferida após o disparo de 14 tiros de duas pessoas em uma moto, em 27 de março.
O crime ocorreu na beira da Avenida José Bispo Lisboa, perto da coluna de um telefone público. “Todo mundo que tinha câmeras de segurança apontadas para as ruas foi intimado a virar ou a tirar, para não mostrar a ação do pessoal do tráfico e da bandidagem. Aqui, ninguém fala sobre isso. Ninguém quer morrer”, disse um trabalhador da região, sob condição de anonimato.
No alto do bairro, o Cemitério Campo da Saudade tem ainda covas recentes e coroas de flores recém-depositadas nas sepulturas públicas de seis vítimas de crimes mortas neste ano. “Aqui temos amigos e vizinhos, mas não queremos nos juntar a eles. Nosso grito de socorro é um pedido de ajuda em silêncio”, disse outro morador, perto das sepulturas de onde se avista de um lado a comunidade fragilizada e de outro os condomínios de luxo.
Integração
Para o presidente do Conselho de Segurança Pública de Lagoa Santa, Xisto Moreira, além da explosão demográfica, a população flutuante na cidade ou a caminho de destinos como a Serra do Cipó demanda mais investimentos em segurança. “Estamos em negociação com a prefeitura e o Poder Judiciário para a formação da Integração e Gestão de Segurança Pública, para reunir todos os atores de defesa social e traçar soluções.”
Crimes monitorados pela pm
» Homicídio e tentativas
» Estupro
» Sequestro e cárcere privado e tentativas
» Roubos e tentativas
» Extorsão
» Extorsão mediante sequestro (inclui sequestro-relâmpago)
Zonas críticas dentro de BH
Em Belo Horizonte, apenas dois batalhões não cumpriram os limites fixados para conter crimes violentos. Um deles foi o 34º (65 bairros da Pampulha à Região Noroeste), que abrange a maior área do município e teve acumulado de ocorrências violentas 2,32% acima do esperado.
Mas o desempenho mais crítico na capital foi o do 49º Batalhão (Venda Nova), onde o limite fixado era 373,19 ocorrências violentas por 100 mil habitantes, mas o resultado foi de 406,39 ( 8,9%). Em vários bairros da região, moradores e comerciantes transformaram residências e lojas em fortalezas, com grades, câmeras, muros altos, cercas elétricas, arames farpados e concertinas.
“O que a gente sente é que as pessoas estão com medo. Todos os dias temos arrombamentos, roubos e por isso o serviço de instalação de grades nas portas e janelas é diário. Inibe o crime, faz tentar outro lugar. Aqui em Venda Nova, quem trabalha à noite é que vai para trás das grades”, admite Elói Santos, proprietário de uma serralheria muito acionada com propósitos de segurança no Bairro Céu Azul.
Investimentos
A presidente do Conselho de Segurança Pública em Venda Nova, Cláudia Mara, acredita que seja necessário ampliar os efetivos e as condições de policiamento na região, bem como cuidar da população usuária de drogas. “A instalação nova do 49º Batalhão vai trazer melhorias. É preciso valorizar os policiais que estão dando as suas vidas, oferecendo a eles condições, viaturas, material e ganhos. Paralelo a isso, é preciso emprego e combate às drogas”, afirma.
Monitoramento para melhorar desempenho
Entre as 60 unidades que melhor se saíram, com desempenho superior aos limites fixados para contenção de crimes violentos, o destaque foi a 18ª Companhia Independente, sediada em Mantena, que reduziu em 43,33% os índices fixados. Em seguida, o 29º Batalhão, de Poços de Caldas, com desempenho 29,39% melhor e a 17ª Companhia Independente, de Igarapé (-25,45%).
Entre os 10 melhores, na Grande BH, além de Igarapé, figurou Sabará, em 10º, com o 61º Batalhão (-16,85%). O melhor batalhão de Belo Horizonte foi o 41º, do Barreiro, tanbém o 12º de Minas Gerais (-16,35%).
O uso da Gestão de Desempenho Operacional tem ajudado a Polícia Militar a ter uma visão mais eficaz do trabalho, por gerar metas particularizadas para suas unidades, afirma o coronel Carlos Júnior, especialista em inteligência de Estado e segurança pública. “Foi uma evolução da gestão por estatística para uma orientada pelos resultados”, avalia.
“Por essa ferramenta, as unidades insatisfatórias poderão verificar quais os elementos que levaram a isso. Quando a luz vermelha acende no desempenho, a unidade tem de fazer relatório com diagnóstico e proposta para neutralizar os problemas, seja lançando efetivos especializados ou por inteligência”, afirma o especialista.
Mas, ele pondera que há um limite em que não é apenas a ação da polícia que resulta em redução dos crimes. “Temos experimentado uma redução ano a ano da criminalidade. Por isso, é preciso avaliar se as metas também não estão se tornando muito apertadas”, afirma.
TRIÂNGULO No caso de Uberlândia, o coronel Carlos Júnior identifica como problemas recaírem sobre o 17º Batalhão a área Central e a saída para Uberaba, que tem se adensando como ponto de extrema vulnerabilidade social na região, sendo o boom imobiliário e o adensamento de áreas vulneráveis também os problemas de Lagoa Santa.
“O roubo (subtrair bens por meio de violência física ou ameaça) é um dos principais componentes dos crimes violentos nesses dois locais, sendo 69% das ocorrências de Uberlândia e 33% das de Lagoa Santa; está muito ligado ao tráfico. Já em Venda Nova, temos uma região muito isolada e ainda nos limites com áreas dormitórios, como os municípios de Ribeirão das Neves e Vespasiano”, considera.
Prefeitura
Ainda que não seja responsável diretamente pela área, a Prefeitura de Uberlândia afirma que tem auxiliado por meio de parcerias que já permitiram programas para melhorar a segurança pública e nos ambientes escolar, doméstico e rural. “Em 2022, cerca de R$ 7 milhões foram investidos na segurança pública por meio de convênios que autorizaram repasses às instituições e ajudaram a otimizar os trabalhos em Uberlândia”, informou a administração municipal.
Consultada pelo EM, a Polícia Militar de Minas informou que a Gestão de Desempenho Operacional é uma ferramenta interna, que opera a partir de metas estipuladas ano a ano, conforme a dinâmica criminal. “Por meio desta gestão de desempenho cirúrgica, a PMMG tem contribuído para a redução contínua da criminalidade violenta, em especial os índices de homicídios em todo o estado, fazendo de Minas Gerais o estado mais seguro do país”, afirma a corporação.
A PM acrescenta que promove em todas as regiões ações preventivas para coibir a criminalidade violenta, além de operações repressivas qualificadas. “A instituição ressalta a importância de medidas de autoproteção, para que o cidadão não se torne vítima em potencial dos infratores, que se aproveitam da distração para praticar delitos. Em caso de emergência, acione a Polícia Militar, via 190, imediatamente”, aconselha a corporação.