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Estado de Minas MEIO AMBIENTE

Esgoto e descargas industriais envenenam a Bacia do Rio Pará

Produtos tóxicos como alumínio, chumbo, cianeto e fenóis foram encontrados em afluentes do rio. Expedição busca soluções compartilhadas por estado e municípios


08/05/2023 04:00 - atualizado 08/05/2023 17:48


Carmo do Cajuru, Divinópolis, Igaratinga, Pará de Minas e São Gonçalo do Pará – Metais pesados e tóxicos que envenenam lentamente as águas, as pessoas e o meio ambiente. A poluição dos afluentes do Rio Pará ultrapassa velhas práticas de despejo de esgoto familiar ainda na zona de “inocência e tradição”. O entendimento de que o manancial seja a soma dos afluentes da bacia – apesar de ter também nascentes próprias –, no caso do Rio Pará indica severo envenenamento por atividades industriais. De acordo com o Monitoramento da Qualidade das Águas Superficiais do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) feito no segundo semestre de 2022, foram encontradas violações de parâmetros para concentrações nocivas de alumínio, chumbo, cianeto e fenóis, além de esgoto (confira o quadro).
Pescador se arrisca às margens do afluente Rio São João, que apresenta níveis críticos de contaminação por alumínio, especialmente entre os municípios de Conceição do Pará e Pitangui
Pescador se arrisca às margens do afluente Rio São João, que apresenta níveis críticos de contaminação por alumínio, especialmente entre os municípios de Conceição do Pará e Pitangui (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Um grito de socorro que a "Expedição Rio Pará 2023 – 'Esse rio é meu'", promovida pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará (CBH Rio Pará) pretende ecoar nessa porção de 35 municípios mineiros, mostrando ações de conservação, reconhecimento e conscientização entre hoje (8/5), quando a missão é chegar até a nascente do curso d'água principal, em Resende Costa, nos Campos das Vertentes, e o dia 19, quando se chega à foz, entre Matinho Campos e Pompéu, no Centro-Oeste.
 
Trinta estações de monitoramento que emitiram relatórios para o Igam sobre o rio principal (seis pontos) e em seus afluentes (24 pontos). Dessas, 23 (56 amostras) apresentaram poluentes acima dos níveis mais críticos da legislação nacional estabelecida pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que é a classe 3 de águas, enquanto 25 estações (87 amostragens) estavam dentro desse patamar limite, no qual não pode haver contato humano mais do que esporádico e breve, sob risco de provocar danos à saúde.
 
O pior afluente do Rio Pará é o Córrego Buriti ou Pinto, que flui pelo território de São Gonçalo do Pará, recebendo descargas industriais tóxicas de chumbo, fenóis e ferro acima dos índices da classe 3. Ao todo, o curso d'água estreito e rápido que corta a cidade e o campo em direção ao Rio Pará concentrou sete violações de parâmetros acima da classe 3 e quatro dentro desse índice.
infográfico
Bacia poluída

ALTO RISCO

Os mais tóxicos são o chumbo, o cianeto e os fenóis. Segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), as altas concentrações de chumbo são de potencial cancerígeno, podendo trazer também para os organismos humanos quadros de anemia, desregulagem hormonal, fadiga, dor muscular e nas articulações, perturbações gastrointestinais, aborto, distúrbios neurológicos, infertilidade, interrupção do crescimento e dificuldades de aprendizagem.
 Vista do Córrego Buriti, afluente do Rio Pará em pior situação quanto à poluição: monitoramento apontou sete pontos com parâmetros acima da classe 3, que já é crítica
Vista do Córrego Buriti, afluente do Rio Pará em pior situação quanto à poluição: monitoramento apontou sete pontos com parâmetros acima da classe 3, que já é crítica (foto: Mateus Parreiras/EM/D.A Press )

O cianeto pode danificar o sistema nervoso, respiratório, cardiovascular, renal e provocar também câncer e morte, segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Já os fenóis são compostos químicos tóxicos que podem causar irritação na pele, nos olhos e nas mucosas, além de afetar o sistema respiratório e o sistema nervoso central, segundo o Ministério da Saúde. O histórico de laudos do Igam indica que a poluição do curso d'água é parte dos "impactos negativos dos lançamentos de esgotos e resíduos industriais, sobretudo provenientes de curtumes na região".
 
Moradores de São Gonçalo do Pará consideram o córrego morto. "O córrego tem muita poluição que leva embora da nossa cidade para o Rio Pará. Não dá nem para pensar em pescar aqui, até porque não tem peixes, só no Rio Pará ou na Lagoa da Bagagem. Cai muito esgoto e restos das indústrias no córrego. Se a expedição conseguir ajudar a despoluir, vai ser muito bom para termos peixes mais saudáveis e rios mais limpos", afirma o ceramista André Natalino Ferreira, de 33 anos.
 
Mas há outros afluentes do Rio Pará em situação extremamente delicada dos pontos de vista ambiental e sanitário. O Rio São João, que é um dos principais afluentes, sofre com altas concentrações de alumínio sobretudo entre Conceição do Pará e Pitangui. O consumo dessa água e até mesmo o contato prolongado com ela podem provocar inflamações, doenças pulmonares e até Mal de Alzheimer, segundo informações do Ministério da Saúde. As prováveis fontes são a indústria, mineração e deposição incorreta de lixo.
 
Situação semelhante é a dos rios Lambari, em Pedra do Indaiá, que sofre com o cianeto livre nas suas águas, e o Rio do Peixe, onde as altas concentrações de manganês preocupam. Um dos mais importantes afluentes, o Rio Itapecerica, com foz em Divinópolis, tem cargas anormais de fósforo. O cianeto tem potencial de danificar o sistema nervoso, respiratório, cardiovascular, renal e pode provocar câncer e morte segundo a OMS. A organização tem estudos que mostram também que o manganês pode causar problemas especialmente em crianças, afetando o sistema nervoso e causando danos cerebrais. Já o fósforo se trata de resíduos de esgotos domésticos e agricultura que piora a qualidade da água para consumo humano e a vida aquática, segundo a mesma fonte.
 

Expedição tenta unir esforços para salvar a bacia 

O presidente do CBH Rio Pará, José Hermano Oliveira Franco, considera que os afluentes são mais do que a somatória que resulta no rio. “O rio é um reflexo das pessoas que estão em volta dele. É preciso ajuda e incentivo do estado, mas mais do que isso é preciso ter uma vontade dos municípios de ter um rio bom. Afluentes como o Itapecerica, São João e Buriti correm por cidades que têm licenciamento próprio, como Itaúna e Divinópolis. O que queremos é que o comitê e esse momento da expedição sirvam como espaço de mediação e união de esforços do estado, do município e da sociedade pelo rio”, afirma.
 
O representante do CBH Rio Pará encara o momento da expedição como fundamental para atrair esforços como uma nova aliança pela bacia hidrográfica. “Na expedição, vamos difundir mais essas ideias. Acabamos de aprovar o plano de educação ambiental para a bacia. É preciso ter essa educação, além das ações práticas que também temos como cercamento (de nascentes), plantio (de árvores em áreas degradadas, de recarga e mata ciliar), propostas e planos de saneamento. Fizemos agora o enquadramento (definição de objetivos de múltiplos usos e estado de qualidade e quantidade da água de um manancial) e reclassificamos os corpos d'água da bacia, o que impacta positivamente nos planejamentos, mas contamos com a ajuda de todos”, afirma Franco.
 
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), informa que desde 2016 foram realizadas 545 fiscalizações de atividades potencialmente poluidoras, englobando atividades industriais, mineração, tratamento e destinação de esgoto e resíduos, entre outras, na Bacia do Rio Pará e que conta também com denúncias além de se nortear pelos parâmetros das estações de coleta de amostras de qualidade da água dos rios e córregos. (MP)


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